TRÁFICO DE DROGAS

Renato Cariani: afinal qual a relação do influencer com a Supley, dona da Probiótica?

Grupo Supley diz que Cariani "nunca foi, sócio, acionista e administrador". No entanto, influenciador se definia como sócio e responsável pelo marketing da empresa.

Mariane Morelli Macchioni, sócia-diretora do Grupo Supley, e Renato Cariani.Créditos: Instagram
Escrito en OPINIÃO el

Em nota divulgada nesta sexta-feira (15), o Grupo Supley, dono das marcas de suplementos Max Titanium, Probiótica e Dr. Peanut, afirma que o empresário e influencer fitness Renato Cariani, investigado pela Polícia Federal (PF) por associação ao tráfico de drogas, não é sócio da empresa.

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"Embora tenha se cogitado uma transação usual no mercado de influenciadores de 'media for equity', a companhia gostaria de esclarecer que o influenciador não é, e nunca foi, sócio, acionista e administrador", diz em nota a empresa.

O conceito de "media for equity", bastante comum em tempos de mídia digital, é usado para definir uma espécie de contrato em que o influenciador é remunerado com participação acionária de acordo com o retorno que dá a empresa contratada.

Em entrevistas, como a que concedeu ao podcast Joel Jota, Cariani sempre se colocou como sócio e "responsável pelo marketing" do Grupo Supley.

"Eu sou sócio do grupo Supley, que compreende a Maxi Titanium Probiótica e uma marca chamada Dr. Peanut. Maxi Titanium Probiótica é uma marca de suplementos e a Dr. Peanut é uma marca de pasta de amendoim. E sou responsável pelo marketing dessa empresa. Juntamente com isso tenho academias, né? Que fazem parte do meu plano fitness. Além disso tenho outras empresas menores", disse Cariani.

No entanto, na Receita Federal, Renato Pessoa Cariani aparece como sócio apenas da Anidrol - onde tem como sócio Roseli Dorth -, empresa que é investigada pela PF no esquema de fornecimento de insumos para produção de cocaína e crack pelo PCC, o Primeiro Comando da Capital.  

Com previsão de faturamento de R$ 1 bilhão em 2023, a Supley foi criada em 2006 em Matão, no interior paulista, por três amigos de infância: Mariane Morelli Macchioni, Carlos Philipe Moretto e Alberto José Moretto. Segundo Mariane, a empresa foi aberta quando ela tinha 15 anos e recebeu do pai falecido uma pequena herança de família. Na Receita, ainda consta como sócio Luiz Carlos Moretto.

Após a operação da PF contra Cariani, na terça-feira (12), a Supley afirma que afastou o influenciador das ações de marketing das marcas.

"A Supley recebeu com perplexidade a informação de que Renato Cariani foi alvo de operação da Polícia Federal. A Supley aguarda os desdobramentos da investigação e o julgamento sereno do caso. De toda forma, foram suspensas quaisquer ações de marketing que envolvam a participação do influenciador", informou.

Mas, afinal, qual seria a relação de Cariani com a Supley?

Em publicação nas redes sociais em 4 de julho de 2022, Mariane Morelli Macchioni, sócia-diretora do Grupo Supley, cumprimenta Cariani pelo aniversário e diz que o influencer é "nosso grande parceiro, aliado e líder na construção de nossa marcas".

"Uma honra ter você caminhando ao nosso lado! Você é referência em tudo que faz", diz a dona da Supley.

A relação do Grupo com Cariani, no entanto, segue ainda sem explicação. O que se pode dizer é que o influenciador atuava como uma espécie de lobista para a empresa e para a indústria de suplementos para marombeiros.

Em agosto de 2022, com as pesquisas apontando uma derrota iminente para Lula nas eleições presidenciais, um desesperado Bolsonaro distribuía auxílios a diversas classes profissionais e costurava isenções tributárias a diversas áreas de negócios em busca de apoio.

Com relação estreita com o clã Bolsonaro, Cariani, então, uniu os interesses eleitorais do ex-presidente com os interesses de negócios do Grupo Supley.

O influenciador, juntamente com o médido Paulo Muzy, promoveu uma mega live com Bolsonaro no dia 26 de agosto de 2022.

A transmissão aconteceu no podcast Ironberg, a maior audiência no meio maromba no YouTube, e teve picos de 400 mil espectadores online. Bolsonaro foi recebido com uma grande festa entre seguidores dos dois fisiculturistas na academia da qual Cariani é sócio em São Caetano do Sul, no ABC paulista.

O negócio para promoção da candidatura foi acertado, no entanto, uma semana antes, quando Bolsonaro anunciou em sua live semanal a isenção tributária para importação de uma série de suplementos alimentares e produtos usados em sua fabricação.

"O Governo Federal zerou imposto de importação de suplementos alimentares, como whey protein, creatina, BCAA e multivitamínicos, e diversos itens de nutrição esportiva, além de reduzir de 11,2 pra 4% os impostos para diversos outros itens, como proteínas lácteas e Albumina", anunciou Bolsonaro nas redes.

A isenção eleitoreira de impostos para a indústria de suplementos feita por Bolsonaro uma semana antes da live com Cariani e Muzy chegou a ser alvo de uma representação feita à Procuradoria-Geral da República (PGR).

"A sugestão é que se investigue a utilização do Estado para o favorecimento de empresas de suplemento, o que por sua vez traz indícios de que uma transmissão de um podcast ao vivo poderia servir de retribuição ao então candidato pela medida de isenção tributária. Além disso, sugere-se que seja realizada a investigação do canal de Youtube por campanha paralela para a chapa Jair Messias Bolsonaro e Braga Neto", diz a denúncia.

A denúncia, no entanto, acabou rejeitada pelo vice-procurador-geral eleitoral, Paulo Gonet, que na próxima segunda assume o comando da PGR.

Em julho deste ano, o atual vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, anunciou que pretendia reverter, ainda nesse ano as desonerações eleitoreiras de Bolsonaro, para ajudar a recompor o Orçamento e zerar o déficit fiscal.

Entre as isenções que devem ser revertidas está a que foi concedida à indústria de suplementação e que impactou diretamente no faturamento recorde bilionário projetado pela Supley em 2023.