EMIR SADER

O golpe fracassado

Ao invés de representar uma recuperação dos bolsonaristas, levam o movimento a um isolamento e decadência, que comprometem sua sobrevivência política

Golpistas invadem Congresso Nacional, STF e Palácio do Planalto em Brasília.Créditos: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Foi uma tentativa de golpe, fruto da não aceitação do resultado das eleições, que já havia se expressado de distintas maneiras, desde o reconhecimento da vitória do Lula e sua posse. 

Apenas uma semana desde que Brasília tinha sido o cenário das manifestações democráticas mais importantes que o Brasil tinha vivido, para a posse do Lula. Mas as manifestações de bolsonaristas se mantiveram, apoiados na atitude do próprio ex-presidente, que seguiu se recusando a aceitar o resultado eleitoral, o que serve de alento às manifestações golpistas. 

A tentativa de golpe do último domingo (8) teve características especificas. A primeira é que foi antecedida de várias manifestações violentas que anunciavam uma escalada de ações dos que se negam a aceitar o resultado das eleições. A chegada de dezenas de ônibus desde a sexta-feira fazia prever que alguma ação de monta estava por vir. 

O caráter que teve a manifestação foi outro elemento específico. As invasões de alguns milhares de pessoas davam um caráter de massa às manifestações.  

O objetivo imediato era o de criar uma desordem, um caos, com apelos aos militares para que interviessem, alegando a incapacidade do governo de garantir a ordem no país. O slogan “intervenção militar” e “SOS FFAA” confirma que tratavam de buscar que os militares se colocassem à cabeça do movimento. Foi o que falhou na operação dos golpistas, que ficaram órfãos politicamente. 

A condenação unânime dos meios de comunicação, das forças políticas, dos governos de todas as regiões do mundo enfraquece ainda mais Bolsonaro. Enquanto Lula sai fortalecido, recebe o apoio de todos os 27 governadores, consolida suas relações com o Judiciário e com o Congresso. 

O desespero das manifestações revela o sentimento de derrota que permeia a oposição radical. O discurso de vários deles revelam que foram movidos pela sensação de que Bolsonaro não tem futuro político, de que Lula subiu a rampa do Planalto e governa. 

A intervenção no governo de Brasília reitera as responsabilidades do governador, cujos vínculos com Bolsonaro se mantinham e respondem pelo fracasso total na proteção dos edifícios fundamentais com sede na capital do país. Todas as evidências permitiam tomar medidas preventivas, mas Brasília ficou totalmente inerme, ocupada pelos terroristas. 

Houve erros que permitiram o sucesso imediato dos ataques. Houve confiança injustificada no governo de Brasília. O ministro da defesa do governo já havia dado declarações que não permitiam nenhuma confiança nele. Desde afirmar que Bolsonaro seria um democrata, até de que as manifestações seriam democráticas. Suas relações promíscuas com as FFAA fizeram com que tivesse uma postura de promiscuidade com os militares. 

Se configura agora os mecanismos pelos quais o governo e o Judiciário vão agir contra os manifestantes que praticaram o vandalismo generalizado em Brasília. Há consenso de que há que processar a todos os envolvidos, desde os que praticaram as violências, aos que organizaram os atos até os que os financiaram. 

Ao invés de representar uma recuperação dos bolsonaristas, levam o movimento a um isolamento e decadência, que comprometem sua sobrevivência política.  

Agiram para testar a reação dos seus adversários, para medir com que forças teriam que se enfrentar e com que unidade e disposição teriam resposta às suas ações. Os resultados parecem ter sido muito negativos para os bolsonaristas. A prisão de cerca de 1400 deles, a condenação generalizada na opinião pública, o isolamento ainda maior de Bolsonaro – agora também com o fantasma de eventual extradição e o fortalecimento de Lula, permitem um balanço das operações de domingo em Brasília e as perspectiva futuras do governo Lula e das forças debilitadas da oposição.