Célia Xakriabá é barrada da conciliação sobre o Marco Temporal após nomeação de Silvia Waiãpi

A nomeação de Waiãpi (PL), que não participou de nenhuma reunião do colegiado, é interpretada como uma manobra política do então presidente da comissão, Hugo Motta (Republicanos)

Créditos: Pedro Gontijo/Senado Federal
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A deputada federal Célia Xakriabá (PSOL-MG) foi impedida de ocupar um assento na mesa de conciliação do Marco Temporal durante uma sessão realizada nesta segunda-feira (17) no Supremo Tribunal Federal (STF). A restrição se deu devido à nomeação da deputada Silvia Waiãpi (PL-AP) como titular da Comissão de Conciliação sobre o tema, apesar de a parlamentar bolsonarista não ter comparecido a nenhuma reunião do colegiado desde sua criação, em agosto de 2024. A escolha de Waiãpi foi determinada pelo presidente da comissão, Hugo Mota (Republicanos-PB).

Célia Xakriabá, que atua como suplente no grupo, reivindicou a titularidade, apoiando-se em seu histórico de presença e envolvimento nos debates. A deputada participou de 12 das 16 reuniões realizadas, registrando um índice de comparecimento de 75%. Em contrapartida, outros parlamentares titulares apresentaram participação significativamente inferior. Lúcio Mosquini (MDB-MT) esteve presente em apenas duas sessões (12,5%), enquanto Pedro Lupion (PP-PR) e Bia Kicis (PL-DF) compareceram a apenas uma cada (6,25%).

“Hoje, de maneira revoltante, fui impedida de me sentar à mesa. Mas não preciso dessa cadeira para lutar. Nossa luta é coletiva, e sigo de pé, caminhando”, declarou Célia Xakriabá ao deixar o STF. Ela também criticou o que chamou de tentativa de enfraquecer a mobilização indígena, comparando a situação ao período da ditadura militar, quando indígenas eram instrumentalizados contra seus próprios povos, intensificando a criminalização e a violência.

A nomeação de Silvia Waiãpi, que nunca participou das discussões sobre o Marco Temporal, foi interpretada como uma manobra política que ignora o comprometimento de parlamentares engajados no tema. Além disso, a decisão de manter Célia Xakriabá fora da mesa de conciliação, relegando-a às cadeiras do público, foi vista como um desrespeito à sua atuação e à representatividade indígena.

“Decidi me retirar dessa mesa de conciliação porque investi dias da minha vida aqui, afastada do meu território e de outras lutas, acreditando que minha presença era essencial para garantir direitos. Mas sabemos que esse discurso de ‘construção civilizada’ é, na verdade, um discurso anticivilizatório”, afirmou a deputada do PSOL. “A verdadeira violência está na aprovação do Marco Temporal. Permitir o extermínio dos povos indígenas é o projeto mais anticivilizatório deste país.”

 

Quem é Silvia Waiãpi  

Silvia Waiãpi, natural de Macapá, ocupa o cargo de deputada federal desde o início de 2023. Sua trajetória política começou em 2018, quando integrou a equipe de transição do então presidente eleito Jair Bolsonaro, apesar de não ter ocupado previamente um cargo eletivo.

Em 2019, foi nomeada secretária de Saúde Indígena, assumindo a função sob indicação do então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Posteriormente, em fevereiro de 2021, passou a compor o Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial, órgão vinculado ao extinto Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, liderado à época por Damares Alves (Republicanos-DF).

Filiada ao PL e alinhada politicamente a Bolsonaro, disputou uma vaga na Câmara dos Deputados pelo Amapá nas eleições de 2022, sendo eleita com 5.435 votos.

Em 2023, seu nome passou a constar em um inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) que investigava a participação de parlamentares nos atos de 8 de janeiro. A investigação teve início após a divulgação de um vídeo em suas redes sociais contendo imagens da invasão ao Congresso Nacional.

Em 2024, o mandato da deputada foi cassado pelo TRE do Amapá após denúncia de que havia usado verba pública de campanha eleitoral para fazer harmonização facial. Após recorrer de julgamento, deputada só deve perder o mandato caso essa decisão do TRE venha a ser confirmada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

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