A guerra em Gaza deixou um rastro de destruição não apenas para a população, mas também para o meio ambiente. Com o cessar-fogo, a extensão dos danos ambientais começa a se revelar, levantando preocupações sobre a possibilidade de recuperação de um ecossistema já fragilizado. A infraestrutura de água e saneamento foi profundamente afetada, resultando em contaminação generalizada do solo, das reservas de água subterrânea e do Mar Mediterrâneo.
Mais de dois terços das terras agrícolas de Gaza foram impactadas ou destruídas por bombardeios e operações militares, incluindo poços e estufas essenciais para a subsistência local. Imagens de satélite mostram que 80% das árvores do território foram perdidas, enquanto áreas vitais, como pântanos, dunas e o rio Wadi Gaza, sofreram impactos significativos. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) alerta que a remoção da vegetação e a degradação do solo podem levar à desertificação, ameaçando o futuro da região.
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Crise hídrica e contaminação
O conflito interrompeu o abastecimento de água e o tratamento de esgoto, fazendo com que resíduos não tratados fluíssem para o solo e para o mar. Antes da guerra, mais de 97% da água subterrânea de Gaza já era considerada imprópria para consumo devido à superexploração e à infiltração de água salgada. Agora, a situação piorou: 85% das instalações de água estão parcial ou totalmente inoperantes, e a produção de poços caiu pela metade.
A ONU estima que mais de 40 milhões de toneladas de entulho, incluindo materiais perigosos como amianto e munições não detonadas, foram gerados durante o conflito. Além disso, o colapso dos serviços de coleta de lixo levou à proliferação de lixões a céu aberto, onde a queima de resíduos libera poluentes tóxicos no ar.
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Impacto na biodiversidade
Gaza, apesar de sua pequena extensão, é um hotspot de biodiversidade, abrigando mais de 250 espécies de aves e 100 espécies de mamíferos. No entanto, a guerra colocou em risco esse frágil ecossistema. O Wadi Gaza, único rio significativo da região e importante rota migratória para aves, tornou-se um depósito de esgoto e lixo.
Al-Mawasi, uma área de dunas costeiras rica em vida selvagem, foi designada como "zona segura" durante o conflito, mas acabou sendo alvo de bombardeios. A perda de vegetação e a degradação do solo ameaçam espécies como o sunbird da Palestina, ave símbolo do território, e outros animais que dependem desse habitat.
Desafios para a reconstrução
Especialistas pedem a criação de um comitê internacional para avaliar os danos e planejar a recuperação ambiental. A reabilitação das fontes de água, a remediação do solo e a restauração das terras agrícolas são prioridades urgentes. No entanto, a remoção de árvores e a compactação do solo por equipamentos militares podem ter efeitos irreversíveis, aumentando o risco de desertificação.
A comunidade internacional também debate se os danos ambientais em Gaza configuram crimes de guerra. A Convenção de Genebra proíbe conflitos que causem "danos generalizados, de longo prazo e severos ao ambiente natural". Enquanto Israel afirma que suas ações são proporcionais e justificadas por necessidades militares, críticos argumentam que a destruição do ecossistema foi deliberada.
Futuro incerto
A guerra não apenas devastou o ambiente construído, mas também colocou em risco a sobrevivência da vida selvagem e das gerações futuras. Com a infraestrutura acadêmica e científica de Gaza destruída, a capacidade de monitorar e restaurar o meio ambiente está severamente comprometida. A recuperação exigirá não apenas recursos financeiros, mas também um esforço coordenado para garantir que a reconstrução seja sustentável e respeite os limites ecológicos da região.
Enquanto isso, a natureza, muitas vezes considerada uma "vítima silenciosa" dos conflitos, clama por atenção em meio às cicatrizes deixadas pela guerra. A pergunta que permanece é: será possível restaurar o equilíbrio ecológico de Gaza, ou o território enfrentará um futuro de degradação irreversível?
*Com informações do relatório do Clima Desk