ALTAS TEMPERATURAS

Crise climática: Rio deve chegar ao maior índice de calor extremo dos últimos anos

Capital e outras cidades podem alcançar nível de calor 4 (NC4), patamar inédito desde a criação do Protocolo de Enfrentamento ao Calor Extremo

Não são apenas os idosos os mais vulneráveis ao calor extremo, mas também jovens, crianças e pessoas com doenças autoimunes.Créditos: Tomaz Silva/Agência Brasil
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As notícias sobre o calor extremo no Rio de Janeiro inundaram os jornais de todo o Brasil nas últimas semanas. No entanto, as temperaturas extremas, decorrentes da crise climática, não afetam apenas a capital. Neste domingo (16), a Secretaria Estadual de Saúde divulgou um alerta de calor extremo para 17 municípios, incluindo áreas da Região Metropolitana, como Duque de Caxias, e do interior, como São Sebastião do Alto. Tudo indica que a Folia será mais quente que o normal. O país já enfrenta a terceira onda de calor.

O alerta foi enviado pelo Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde a todas as prefeituras dos 92 municípios fluminenses. O documento explica que o cálculo para determinar o estágio do alerta considera a temperatura média dos últimos três dias, comparada com dados históricos dos últimos 10 anos. Também é levado em conta um fator de aclimatação, que avalia o calor atual em relação aos últimos 30 dias.

Os seguintes municípios estão em alerta de calor extremo essa semana: Aperibé, Barra Mansa, Belford Roxo, Cachoeiras de Macacu, Casimiro de Abreu, Duque de Caxias, Guapimirim, Iguaba Grande, Magé, Mangaratiba, Nilópolis, Nova Iguaçu, São Pedro da Aldeia, São Sebastião do Alto, Sumidouro, Três Rios e Volta Redonda

A prefeitura adverte que, na segunda ou terça, o Rio pode alcançar o nível de calor 4 (NC4), um patamar inédito desde a criação, há sete meses, do Protocolo de Enfrentamento ao Calor Extremo no município, cuja escala vai até o NC5. Alunos e professores das escolas de Barra Mansa vão abrir apenas das 7h às 10h 30 até esta quarta-feira.

"Os alunos e professores serão liberados e não haverá aulas no decorrer do dia e à noite. As escolas ainda seguirão abertas até às 13h, caso algum aluno deseje merendar na unidade", informa o comunicado.

No Rio de Janeiro, as temperaturas podem chegar a mais de 41,8°C, quebrando o recorde de calor registrado em fevereiro de 2023. Duas reportagens da Fórum mostraram os efeitos dos fenômenos extremos na educação brasileira. Uma realidade não apenas do presente, mas que muito ignorada pelas autoridades locais, que agora lutam para reduzir os efeitos sobre a saúde de crianças e jovens.

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Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), em dados divulgados neste domingo, às 15h, o Rio foi a capital mais quente do país, com 38,4 graus na estação da Vila Militar. O intenso calor que já afeta os cariocas nas últimas semanas deve se intensificar nos próximos dias. As previsões meteorológicas sugerem que uma massa de ar quente pode elevar ainda mais as temperaturas, principalmente no Centro-Sul do país.

A massa de ar quente e seco, que já atingia as regiões Sudeste, Sul e Nordeste, se intensificou neste domingo (16). As primeiras áreas afetadas foram Mato Grosso do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina e Paraná. O Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) prevê que o fenômeno se estenda para Goiás e Bahia.

SP também tem previsão de calor extremo acima do média

Em São Paulo, a previsão é de que a temperatura máxima passe dos 34°C. O calor também não se limita à capital: a Defesa Civil do estado anunciou um alerta de altas temperaturas para todo o território paulista, válido até quarta-feira (19). As temperaturas devem superar a média histórica em 5%, sendo a média de 24°C para este período, segundo o Inmet. A maior temperatura esperada é de 38°C, especialmente nas regiões de Itapeva e Vale do Ribeira.

Temperatura extrema batida ontem em SP. Foto: Rubens Cavallari / Folhapress

O calor tanto no Rio quanto em São Paulo está sendo intensificado pela umidade do ar, o que aumenta a sensação térmica, ou seja, a sensação de calor ou frio que o corpo humano experimenta. Ela é afetada não apenas pela temperatura externa, mas também pelas condições de umidade e vento. Quando a temperatura e a umidade estão elevadas ao mesmo tempo, o corpo não transpira de maneira eficiente, intensificando a sensação de calor.

Nessa matéria da Fórum sobre a desinformação que circula em todo o país sobre a sensação térmica de 70ºC, é explicado o cálculo das altas temperaturas. As sucessivas ondas de calor são reais, mas os termômetros não vão chegar a 70ºC.

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Calor extremo responde pela maioria das causas de morte no RJ

Mesmo a sensação térmica mais baixa do que o espalhado nas redes, um estudo da da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), revela que o calor intenso no Rio de Janeiro não é um chamado para aproveitar a praia, mas um fato de risco direto à saúde. A pesquisa “Quantificando a exposição ao calor e sua mortalidade relacionada na cidade do Rio de Janeiro”, aponta que as altas temperaturas estão relacionadas ao aumento de mortes na cidade, especialmente entre idosos e pessoas com doenças como diabetes, hipertensão, Alzheimer, insuficiência renal e infecções do trato urinário.

O estudo avaliou os 466 mil registros de mortes naturais entre 2012 e 2024, além de mais de 390 mil óbitos relacionados a 17 causas específicas, das quais 12 mostraram um aumento significativo na mortalidade de idosos durante períodos de calor extremo.

“Esses resultados dialogam com a literatura existente sobre o tema. A maioria dos estudos sobre calor e mortalidade concentra suas análises em doenças cardiovasculares e respiratórias, sobre as quais os efeitos fisiológicos no corpo humano são bem conhecidos. Mas, há estudos que relatam esses efeitos também para doenças metabólicas”, afirmou João Henrique, autor do estudo.

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Trabalhadores são os maiores alvos da crise climática

O relatório do Grupo de Estudos Saúde Planetária da USP, intitulado “Avanço e integração das políticas de clima e saúde no Brasil: percepções de stakeholders brasileiros”, alerta para o descompasso entre as políticas de clima e saúde no Brasil. Segundo o estudo, o Sistema Único de Saúde (SUS) está sendo cada vez mais sobrecarregado por eventos climáticos extremos, como ondas de calor que agravam a saúde pública.

Em diversas regiões do Brasil, trabalhadores e trabalhadoras que saem de casa para o trabalho já estão vivenciando os impactos da crise climática na pele, muitas vezes sem perceber. O calor extremo afeta principalmente os locais mais frequentados pela população, as áreas periféricas e atinge de forma desproporcional as comunidades mais vulneráveis, pobres, quilombolas e indígenas. Além disso, sufoca aqueles que precisam pegar transportes públicos lotados. É a realidade do racismo ambiental e climático.

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