Primeira Guerra Mundial

Batalha das toninhas: a história de uma das maiores trapalhadas das Forças Armadas do Brasil

Entenda uma das maiores patacoadas da história militar do Brasil

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Historiadora e professora, formada pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Escreve sobre história, história politica e cultura.
Batalha das toninhas: a história de uma das maiores trapalhadas das Forças Armadas do Brasil
Espécie de toninha. Wikimedia Commons

Desde a Proclamação da República, em 1889, as Forças Armadas do Brasil têm desempenhado um papel central — e muitas vezes controverso — no cenário político nacional. Por bem ou por mal, o Exército brasileiro esteve envolvido em quase todos os grandes marcos da história republicana: o fim do Império, a “Revolução” de 1930, a queda da primeira Era Vargas, o Golpe de 1964, e, mais recentemente, a tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro de 2023.

Além de seu constante envolvimento na política interna, o Exército também participou de operações e conflitos no exterior. Um dos episódios mais inusitados — e embaraçosos — dessa participação foi o que ficou conhecido como a “Batalha das Toninhas”, durante a Primeira Guerra Mundial.

Contexto: a entrada do Brasil na Primeira Guerra Mundial

Quando a Primeira Guerra Mundial eclodiu em 1914, o Brasil vivia o período da chamada “política do café com leite”, dominada pelas oligarquias de São Paulo e Minas Gerais. Naquele momento, o país adotou uma postura de neutralidade — em parte porque a Alemanha era a maior compradora do café brasileiro, e o governo do presidente Venceslau Brás não queria comprometer essa relação comercial.

A situação mudou em 1917, após o navio mercante brasileiro Paraná ser torpedeado por submarinos alemães. O ataque causou comoção nacional. Pouco depois, outros navios como o Tijuca e o Lapa também foram alvejados por forças alemãs. A indignação pública cresceu rapidamente, alimentada por um forte sentimento antialemão e por simpatia crescente à França.

A pressão popular teve papel decisivo na entrada do Brasil no conflito. Em Blumenau (SC), propriedades de descendentes de alemães foram vandalizadas, e o então chanceler Lauro Müller, de ascendência germânica, foi forçado a renunciar. O Brasil declarou guerra à Tríplice Aliança e enviou uma contribuição modesta: uma divisão naval, um corpo médico, alguns aviadores e um pequeno grupo de oficiais militares.

A Batalha das Toninhas

O episódio mais constrangedor dessa participação ocorreu em novembro de 1918, já nos momentos finais da guerra, nas águas próximas ao Estreito de Gibraltar. De acordo com registros, vigias a bordo do cruzador brasileiro Bahia teriam avistado um periscópio no mar. Assustados, acreditaram estar sob ataque de um submarino alemão e abriram fogo.

Cruzador Bahia (Foto: Marinha do Brasil)

O “inimigo”, no entanto, não era um submarino, mas sim um grupo de toninhas — pequenos cetáceos semelhantes aos botos.

Na época, não havia tecnologia de detecção submarina eficaz, e o clima de tensão e medo no final da guerra pode ter contribuído para o erro. Ainda assim, o episódio entrou para a história como um dos maiores vexames da atuação brasileira em conflitos internacionais.

A “Batalha das Toninhas” é frequentemente lembrada como um símbolo da inexperiência militar brasileira em conflitos de grande escala, e ilustra um padrão de ações militares que, muitas vezes, beiram o absurdo. Se não fossem tão embaraçosos, alguns desses episódios poderiam até ser considerados cômicos.

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