MARXISMO

Antonio Gramsci: biografia, ideias e frases do teórico comunista italiano

A vida e as ideias do italiano que desafiou o fascismo e contribui até hoje para os estudos marxistas

Escrito em História el
Historiadora e professora, formada pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Escreve sobre história, história politica e cultura.
Antonio Gramsci: biografia, ideias e frases do teórico comunista italiano
Antonio Gramsci, filósofo italiano. Domínio Público

Escritor, político, crítico literário, filósofo, historiador e teórico marxista — muitos são os rótulos atribuídos a Antonio Sebastiano Francesco Gramsci, uma das figuras mais influentes da teoria política no século XX.

Neste artigo, você vai conhecer um pouco mais da biografia, ideias, e frases de Antonio Gramsci, o escritor de 'Cadernos do Cárcere'.

Antonio Gramsci - biografia

Nascido em janeiro de 1891, na ilha italiana da Sardenha, Antonio Gramsci enfrentou uma infância marcada por instabilidade e pobreza. Ainda criança, viu seu pai ser preso, forçando sua mãe a vender a herança da família e trabalhar como costureira para sustentar os sete filhos.

Gramsci em 1906, aos 15 anos de idade

Apesar das adversidades, Gramsci destacou-se nos estudos. Ganhou uma bolsa de estudos e ingressou na Universidade de Turim, onde estudou Letras.

Turim, naquele período, vivia um processo acelerado de industrialização, que trouxe à tona graves tensões sociais e o fortalecimento do movimento operário. Esse contexto foi decisivo para a formação política de Gramsci, que começou a frequentar reuniões de comunistas e sindicalistas.

Atuação política e prisão

Gramsci ingressou no jornalismo político no diário socialista Avanti!, e logo se tornou uma das principais vozes da esquerda italiana.

Em 1919, fundou o jornal L’Ordine Nuovo, voltado à classe operária, e dois anos depois participou da fundação do Partido Comunista Italiano (PCI), do qual foi líder até 1924.

Julia Schucht, esposa de Gramsci, com seus filhos Giuliano e Delio (Foto: Domínio Público)

Sua militância coincidiu com a ascensão do fascismo de Benito Mussolini, que rapidamente passou a reprimir a oposição de esquerda. Gramsci, que havia passado uma temporada na União Soviética em 1922, retornou à Itália com o objetivo de organizar a resistência antifascista.

Em 1926, foi preso pelo regime e condenado a 20 anos de prisão. Seus últimos anos foram marcados pelo sofrimento físico, mas também por intensa produção intelectual. Nos anos em que esteve encarcerado, escreveu os célebres “Cadernos do Cárcere”, onde sistematizou suas principais ideias. Morreu em 1937, em decorrência de complicações de saúde agravadas pelas condições do cárcere.

Antonio Gramsci - ideias

Gramsci deixou um legado teórico que renovou o marxismo clássico ao incorporar a análise cultural e a importância da ideologia. Suas ideias ainda têm forte influência nos estudos políticos, sociais e culturais contemporâneos. Veja a seguir cinco dos conceitos centrais do seu pensamento:

1. Hegemonia

Para Gramsci, o poder da classe dominante não se mantém apenas por meio da força, mas, sobretudo, pelo consentimento das classes dominadas. Isso é obtido através do controle das instituições culturais — como a mídia, a escola, a religião — que moldam a visão de mundo da população.

Em vez da simples coerção, a hegemonia envolve a naturalização de valores, normas e interesses da classe dominante, que passam a ser vistos como universais.

2. Bloco Histórico

O conceito de bloco histórico articula a base econômica (as relações de produção) e a superestrutura (as instituições, ideias e cultura).

Para Gramsci, essas duas dimensões estão entrelaçadas e formam a base material e ideológica de uma determinada ordem social. Um bloco histórico é a aliança entre forças sociais e ideológicas que sustentam um modelo de sociedade em um dado momento.

3. Subalternos

Inspirado por Marx, Gramsci utiliza o termo subalternos para descrever os grupos sociais excluídos do poder político e cultural — como camponeses, trabalhadores, mulheres, minorias étnicas e raciais.

A cultura dominante, segundo ele, tende a fragmentar e desarticular esses grupos, impedindo que eles desenvolvam uma consciência coletiva capaz de desafiar a hegemonia vigente. Gramsci defendia a importância de dar voz aos subalternos e construir um novo protagonismo político por meio da cultura e da educação.

4. Estado: Sociedade Política e Sociedade Civil

Gramsci reformula o conceito tradicional de Estado, dividindo-o em duas esferas:

Sociedade política: o Estado em seu aspecto coercitivo (forças armadas, leis, instituições formais). Sociedade civil: o espaço da ideologia, onde se travam disputas culturais e simbólicas (família, escola, igrejas, meios de comunicação). Para ele, o verdadeiro domínio ocorre quando a classe dominante exerce controle em ambas as esferas, consolidando sua hegemonia.

5. Revolução Passiva

A revolução passiva é uma mudança política e social que acontece sem ruptura violenta, de maneira controlada pelas elites. É uma forma de transformação conservadora, em que a estrutura do poder permanece intacta, apesar de algumas concessões às demandas populares.

Gramsci permanece uma figura fundamental para compreender como o poder se exerce na sociedade moderna — não apenas nas ruas e parlamentos, mas também nas salas de aula, nos jornais e nas redes sociais. Sua obra segue como ferramenta essencial para analisar as disputas entre as ideias que moldam o mundo em que vivemos.

Antonio Gramsci - frases

Confira abaixo algumas das mais famosas frases do filósofo:

“O Estado é a organização econômico-política da classe burguesa. O Estado é a classe burguesa na sua concreta força atual.”

“Todo estado é uma ditadura”

“Também no afeto é preciso ser inteligente”

“Instrui-vos porque teremos necessidade de toda vossa inteligência. Agitai-vos porque teremos necessidade de todo vosso entusiasmo. Organizai-vos porque teremos necessidade de toda vossa força.”

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