Um dos mais aclamados diretores do cinema brasileiro, Kleber Mendonça Filho tem uma carreira sólida também no exterior: títulos como O Som ao Redor (2012), Aquarius (2016) e o documentário Retratos Fantasmas (2023) já compuseram listas de melhores filmes elaboradas pelo The New York Times; e seu Bacurau (2019) venceu o Prêmio do Júri em Cannes há seis anos.
Seu último lançamento, O Agente Secreto (2025), rendeu a ele o título de Melhor Diretor no Festival de Cannes deste ano.
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Mas quais são as obras favoritas do diretor recifense de 56 anos, já considerado pelo Financial Times um dos 25 brasileiros que mais merecem atenção no mundo?
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Kleber Mendonça é um usuário ativo de uma rede social de cinema que também funciona como catálogo online e diário de filmes: o Letterboxd. Na rede, tem mais de 26 mil seguidores e 291 filmes registrados entre os já vistos.
"Programo filmes, roteirista, cineasta", diz sua biografia.
Lá, ele se dedica a fazer reviews (comentários) dos filmes que assiste. A plataforma permite classificar as obras entre 1 e 5 estrelas.
Para entender melhor suas críticas, no entanto, é interessante desvendar os 10 títulos clássicos preferidos dele, reunidos numa lista elaborada pela empresa estadunidense de distribuição de vídeos The Criterion Collection.
Confira, a seguir, os favoritos do diretor entre os filmes distribuídos pela Criterion, com comentários pessoais sobre as produções:
10. Limite (1931)
Créditos: divulgação
Limite, do diretor brasileiro Mário Peixoto, com cinematografia de Edgar Brasil, mostra duas mulheres e um homem em um pequeno barco à deriva, que relembram seu passado e sua vida. É um retrato agonizante do fim próximo de três pessoas e da nostalgia existencial que experimentam nas suas últimas horas.
Kleber comenta, na escolha do filme, sobre a morte de Saulo Pereira de Mello, decano da preservação audiovisual brasileira (além de escritor e diretor), falecido em 2020, na semana em que ele elaborava sua lista. Saulo, que conviveu com Mário Peixoto por 40 anos, dedicou-se a preservar sua memória e restaurou o filme de 1931.
9. Sol Secreto (2007)
Créditos: MUBI / divulgação
O filme da diretora sul-coreana Lee Chang-dong, que representou o país no Oscar de 2008, conta a história de uma mãe viúva que se muda de Seul com seu filho até que outra tragédia os acomete.
"Quando eu preparava meu filme Aquarius", diz Kleber, "assisti a vários filmes que admiro. Dois deles eram sul-coreanos: Mother, de Bong Joon-ho, e Sol Secreto. Esse é um filme intimista para as telonas, e é difícil prever como se desenrola. A duração dele (142 minutos) me fez sentir mais à vontade com a duração de Aquarius, que também acabou tendo 142 minutos."
8. Embriagado de Amor (2002)
Créditos: divulgação
A comédia romântica estrelada por Adam Sandler e dirigida por Paul Thomas Anderson narra a vida solitária de um empresário que se apaixona pela colega de trabalho da irmã, e tem o romance ameaçado por um chantagista.
"Essa abordagem americana e bem moderna de comédia romântica é um espetáculo à parte, uma experiência cinematográfica maravilhosa. Eu adoro cada cena, som e personagem. Ótimo contrabando para um estúdio de Hollywood", comenta Kleber.
7. Corrida Sem Fim (1971)
Créditos: divulgação
O filme de ação dirigido por Monte Hellman mostra dois homens que dirigem um Chevy 1955 pelos EUA procurando corridas. Eles acabam se deparando com uma garota que pede carona e, depois, com um motorista que os desafia a uma corrida até Washington.
"Outro filme de telonas, agora com carros e estradas americanas", diz Kleber. "Os anos 70 viram uma série de filmes com imagens de automóveis e faixas brancas, o cheiro de gasolina e animais atropelados. Nenhum se compara a este. Em determinado momento, Warren Oates diz algo como 'tudo é rápido demais, mas não rápido o suficiente'. Este filme é uma referência importante caso eu precise filmar algo relacionado a estradas e carros."
6. Marketa Lazarová (1967)
Créditos: divulgação
O drama tchecoslovaco dirigido por František Vlácil conta a história de Marketa Lazarová, que se preparava para entrar num convento, mas é violentada quando seu pai se recusa a colaborar com uma guerra.
"É a prova de que ainda é possível fazer grandes descobertas e se sentir um jovem cinéfilo de novo, aos 50 anos", diz Kleber. "Este filme pode ser classificado como 'cinema como alucinação bela e assustadora'".
5. Fervura Máxima (1992)
Créditos: divulgação
O suspense de ação de Hong Kong, dirigido por John Woo, mostra dois inspetores que vigiam contrabandistas de armas. Um filme de gângsters, tiroteios e drama policial.
"Ainda tenho o DVD da Criterion, e é um dos meus filmes favoritos. O cinema americano transformou o filme de ação num produto nacional, mas penso em dois filmes que reescreveram o gênero: Mad Max 2 e Fervura Máxima. São extremos e perigosos. Se lançarem um Blu-ray disso, eu compro."
4. A Face Oculta (1961)
Créditos: divulgação
Inicialmente sob direção de Stanley Kubrick, depois substituído por Marlon Brando, o filme conta como Rio, líder de uma quadrilha, é traído por seu mentor e busca vingança.
"Vi esse filme com meus pais nos anos 70 e nunca esqueci", diz Kleber. "É um faroeste praiano incomum. Brando está maravilhoso, como diretor e protagonista."
3. O Portal do Paraíso (1980)
Créditos: divulgação
Dirigido por Michael Cimino, o épico de faroeste acompanha dois ex-alunos de Harvard em lados opostos de um conflito por terras em Wyoming.
"Foi tão brutalizado na época do lançamento, mas hoje as avaliações são mais positivas. É um épico americano que parece mais um experimento soviético. E que DVD incrível!"
2. La Ciénaga (2001)
Créditos: divulgação
O filme de Lucrecia Martel se passa durante um verão argentino, com uma família isolada por um acidente e uma tempestade.
"Adoro tudo neste filme: sua obliquidade, abordagem sobre sexualidade, uso do som. Foi também uma grande referência para mim. Filmes podem ser sobre pessoas interagindo com espaço e tempo."
1. Delírio de Loucura (1956)
Créditos: divulgação
Dirigido por Nicholas Ray, o filme mostra um professor diagnosticado com uma doença rara, que se torna viciado em cortisona após um tratamento experimental.
"Adoro este drama", diz Kleber. "James Mason interpreta um pai de família que tem uma relação problemática com drogas lícitas. É uma visão moderna e perturbadora da sociedade americana dos anos 50."