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Teologia da Libertação: o que é, origens e pensadores da movimento católico que mudou a América Latina

Conheça um pouco do movimento católico que moldou a esquerda brasileira

Escrito em História el
Historiadora e professora, formada pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Escreve sobre história, história politica e cultura.
Teologia da Libertação: o que é, origens e pensadores da movimento católico que mudou a América Latina
Leonardo Boff. Reprodução

Desde a invasão portuguesa, o Brasil — um território de proporções continentais e com uma população na casa das centenas de milhões — sofre com a miséria, a fome e a violência. Como o país mais católico em números absolutos do mundo, é inevitável que a religião faça parte do dia a dia de todo brasileiro.

O catolicismo está presente nos rituais dos brasileiros; enraizado na língua, preso ao cotidiano e caminhando junto com a cultura. É difícil desvincular a religião da identidade brasileira, mesmo que o cristianismo tenha sido amplamente sincretizado ao longo dos 500 anos de sua expansão no Brasil. E uma das faces mais importantes da Igreja Católica no Brasil foi a Teologia da Libertação, em especial a partir dos anos 1960.

Teologia da Libertação - origem

No fim do século XIX, com o fim do Império e a proclamação da República, o novo governo brasileiro torna o Estado laico — um dos primeiros pontos de tensão entre a população e o poder público.

O conflito de Canudos é uma prévia do que estaria por vir: uma população esquecida e marginalizada encontra na religião — que sempre a acolheu — uma alternativa para a miséria que a consome. A ausência do Estado brasileiro, nesse caso, é apenas um dos primeiros exemplos.

A pobreza extrema e a violência crescem exponencialmente ao longo do século XX, até que dois eventos na década de 1960 cimentam o que viria a ser conhecido como Teologia da Libertação: o Concílio Vaticano II e o Golpe Militar de 1964.

O Concílio Vaticano II se diferenciou dos anteriores no que diz respeito aos temas abordados. Enquanto os anteriores procuravam estabelecer as verdades da fé e condenar hereges, este buscou aproximar-se dos fiéis e definir o lugar da Igreja na sociedade, preocupando-se principalmente com as questões sociais e financeiras que afligiam seus seguidores.

Com o golpe de 1964 e a consequente perseguição estatal aos desfavorecidos, a Teologia da Libertação se estabelece. Era natural que esse movimento se espalhasse amplamente pela América Latina, considerando o contexto histórico e social semelhante vivido na região durante o século XX.

Teologia da Libertação - o que é

A Teologia da Libertação é um movimento cristão de viés político e social que propõe uma releitura da Bíblia à luz da realidade dos pobres e oprimidos. Seu foco principal está na prática da fé como ferramenta de transformação social. Em vez de apenas prometer uma salvação espiritual no além, ela prega uma libertação concreta, aqui e agora, das estruturas de injustiça.

A Teologia da Libertação é supradenominacional (não ligada a uma única vertente cristã), suprapartidária (acima de partidos políticos) e inclusivista (aberta ao diálogo com diversas culturas e pensamentos).

Ela se baseia na ideia de que Deus está do lado dos pobres e marginalizados e que a missão cristã é construir o “Reino de Deus” por meio da justiça social.

Posteriormente, através das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e de pastorais, os membros da Teologia fortaleceram diversos movimentos sociais. Até hoje, a Teologia da Libertação é considerada uma das ideias que fortaleceram o crescimento do Partido dos Trabalhadores e de diferentes movimentos sociais brasileiros, como o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).

Teologia da Libertação - pensadores

Um dos precursores desse pensamento foi Gustavo Gutiérrez, teólogo peruano que, em 1971, publicou o livro 'Teologia da Libertação: Perspectivas', obra que se tornaria referência no movimento.

Gustavo Gutiérrez e Papa Francisco em 1971 (Foto: Vaticanews)

No Brasil, o principal nome associado a essa vertente é Leonardo Boff, franciscano que, junto a outros religiosos como Frei Betto e Dom Hélder Câmara, representou uma corrente crítica dentro da Igreja Católica, engajada nas lutas populares e nos direitos humanos.

Críticas e disputas

O Vaticano nunca chegou a condenar formalmente a teologia, mas criticou seu viés “marxista”, não a reconhecendo como uma doutrina oficial da Igreja.

Após o fim da Ditadura Militar no Brasil, a Teologia da Libertação começa a perder força. Com o fim da perseguição e a redemocratização do país, surgem novas esperanças de um futuro menos miserável. Por outro lado, a Igreja Evangélica e o neopentecostalismo ganham força, e o status do Brasil como “país católico” passa a enfraquecer. 

Com a ascensão do Papa João Paulo II e a adoção do movimento carismático na Igreja Católica, a Teologia da Libertação acabou perdendo espaço para o chamado movimento carismático. Papa Francisco, apesar de nunca ter aderido totalmente ao grupo, tinha uma boa relação com os membros e pensadores desta escola.

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