Em sua primeira homilia após assumir o posto de papa Leão XIV, o cardeal estadunidense Robert Francis Prevost criticou aqueles que transforma a figura de Jesus Cristo como "líder carismático" em busca de "dinheiro" e "poder".
Na missa realizada na manhã desta sexta-feira (9) na Capela Sistina, mesmo cenário de sua eleição, Leão XIV fez uma reflexão sobre o evangelho de Mateus sobre a resposta de Jesus a Pedro, quando diz “Quem dizem os homens ser o Filho do homem?”.
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Segundo o papa, a passagem é de grande atualidade tanto para aqueles que identificam Jesus como uma pessoa sem importância, quanto para aqueles que fazem uso da figura do Cristo como um "super-homem".
“Também hoje, não são poucos os contextos em que a fé cristã é considerada algo absurdo destinada a pessoas débeis e pouco inteligentes; contextos em que a ela preferem-se outras seguranças, como a tecnologia, o dinheiro, o sucesso, o poder e o prazer", afirmou, denunciando o uso da fé.
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Em seguida, diante dos cardeais que o elegeram, Robert Francis Prevost, que foi missionário no Peru, fez um alerta contra a tentação de reduzir a figura de Jesus a um "líder carismático ou super-homem", em uma aparente mensagem aos cristãos evangélicos, especialmente aos pastores midiáticos.
“Ainda hoje, não faltam contextos nos quais Jesus, embora apreciado como homem, é simplesmente reduzido a uma espécie de líder carismático ou super-homem, e isto não apenas entre quem não crê, mas também entre muitos batizados, que acabam por viver, a este nível, num ateísmo prático", disse.
Ao contrário de Francisco, seu antecessor, Leão XIV vestiu durante sua apresentação aos fiéis na basílica de São Pedro a estola papal, mas calçou, como o jesuíta argentino, sapatos pretos - e não os tradicionais vermelhos papais.
No início de sua homilia, fez em inglês uma saudação aos cardeais, repetindo as palavras do Salmo responsorial: “Cantarei um cântico novo ao Senhor, porque ele fez maravilhas”.
"E, de fato, não apenas comigo, mas com todos nós. Meus irmãos cardeais, ao celebrarmos esta manhã, convido-os a refletir sobre as maravilhas que o Senhor fez, as bênçãos que o Senhor continua a derramar sobre todos nós por meio do Ministério de Pedro. O Senhor me chamou para carregar essa cruz e realizar essa missão, e sei que posso contar com cada um de vocês para caminhar comigo, continuamos como Igreja, como uma comunidade de amigos de Jesus, como fiéis para anunciar a Boa Nova, para anunciar o Evangelho", emendou.
Citando a “Gaudium et spes” do Concílio Vaticano II, Leão XIV recorda que o Filho de Deus se revela a nós através dos olhos confiantes de uma criança, mostrando-nos assim um modelo de humanidade santa que todos podemos imitar.
Este tesouro agora “é confiado também a mim, para que eu seja um fiel administrador a favor de todo o Corpo místico da Igreja, de modo que esta seja sempre mais cidade colocada sobre o monte (cfr Ap 21,10), arca de salvação que navega através das ondas da história, farol que ilumina as noites do mundo. E isso não tanto pela grandiosidade de suas estruturas, mas pela santidade dos seus membros".
De Chicago a Chiclayo
A eleição de Robert Francis Prevost como 267º papa da Igreja foi uma surpresa para muitos fiéis ao redor do mundo.
Robert Francis Prevost nasceu em Chicago em 1955, em uma família com origens em vários países como Espanha e França, e em 2015 também obteve a nacionalidade do Peru, nação em que atuou como missionário e bispo em Chiclayo.
A defesa dos migrantes foi uma constante durante o pontificado de seu antecessor argentino. Há alguns meses, quando ainda era apenas o cardeal Prevost, o novo papa criticou a política migratória dos Estados Unidos de Donald Trump.
Mas, segundo a imprensa italiana, foi o cardeal Timothy Dolan, "o homem do presidente Donald Trump no Vaticano", quem negociou seus apoios no conclave, como já fizera em 2013 com a eleição de Francisco.
Desta vez, os cardeais dos Estados Unidos estabeleceram um bloco e Prevost recebeu também o apoio dos representantes da África e da Ásia, assim como finalmente de quem figurava como grande favorito, o italiano Pietro Parolin, segundo a imprensa.
"Apelo à paz"
Leão XIV assume uma Igreja que enfrenta muitos desafios, como a pedofilia entre os clérigos, a crise vocacional e o papel das mulheres. Além dos problemas internos, somam-se os vários conflitos no mundo, o avanço dos governos populistas e a crise climática que se agrava.
A eleição aconteceu no maior e mais internacional conclave da História da Igreja, que reuniu 133 cardeais eleitores procedentes de todos os continentes (quase 70 países) na Capela Sistina.
Em seu primeiro discurso como papa na quinta-feira, ele já fez um "apelo à paz".
"Ajudai-nos também vós, e depois uns aos outros, a construir pontes, com o diálogo, com o encontro, unindo-nos a todos para sermos um só povo, sempre em paz", disse.
A eleição de Leão XIV e suas palavras geraram uma onda de felicitações e elogios de líderes internacionais, dos Estados Unidos à Colômbia, passando pelo México, Ucrânia, Rússia ou Espanha.
"Estou ansioso para conhecer o papa Leão XIV. Será um grande momento!", disse o presidente americano Donald Trump, que considerou uma "grande honra" contar com o primeiro papa dos Estados Unidos.
Entronização: 18 de maio
Os próximos passos do novo pontífice o levarão a pronunciar a bênção Regina Coeli no domingo na praça de São Pedro, antes de receber a imprensa em uma audiência na segunda-feira.
Outro evento crucial de sua chegada ao trono de São Pedro será sua entronização, em 18 de maio, com uma missa que será celebrada diante de líderes políticos e religiosos de todo o mundo.
O primeiro papa chamado Leão desde 1903 chega ao trono de São Pedro com uma inclinação pastoral, perspectiva global e capacidade para governar a cúria vaticana, além de uma reputação de moderado e construtor de pontes.
A escolha de seu nome papal, em uma aparente homenagem a Leão XIII (1878-1903), indica para os analistas a "marca social" que pretende dar a seu pontificado.
Com Agências Vatican News e AFP