O papa Leão XIV celebrará uma missa nesta sexta-feira (9), um dia após se tornar o primeiro estadunidense a liderar a Igreja Católica, sob os olhares atentos do mundo, que espera por sinais do tipo de pontificado que ele irá conduzir.
Nascido em Chicago, Robert Francis Prevost tornou-se na quinta-feira (8) o 267º papa, líder espiritual dos 1,4 bilhão de católicos do mundo, após um conclave secreto entre seus colegas cardeais na Capela Sistina, no Vaticano.
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Às 11h (6h de Brasília) desta sexta-feira, o religioso de 69 anos – apelidado em Roma de “Ianque Latino” por seu tempo como missionário no Peru – voltará à Capela Sistina para celebrar uma missa privada com os cardeais, que será transmitida pelo Vaticano. Nela, ele fará sua aguardada primeira homilia como pontífice.
Dezenas de milhares de fiéis o aclamaram quando apareceu na sacada da Basílica de São Pedro na noite de quinta-feira – muitos sem saber quem era o homem modesto diante deles.
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O estadunidense, que passou duas décadas no Peru e só foi nomeado cardeal em 2023, figurava em algumas listas de possíveis papáveis, embora estivesse longe de ser uma figura amplamente conhecida no cenário internacional.
Nos próximos dias – da missa desta sexta à oração Regina Coeli de domingo e o encontro com jornalistas na segunda-feira – os gestos e palavras de Leão XIV serão analisados com atenção.
Do outro lado do mundo, no Peru, admiradores celebraram seu engajamento com o país andino, incluindo o bispo de El Callao, próximo a Lima, Luis Alberto Barrera.
“Ele demonstrou proximidade e simplicidade com o povo”, disse Barrera à AFP. “Era uma pessoa muito simples, que se adaptava a tudo, como todo bom missionário.”
Em Chicago, moradores destacaram seu amor pelo beisebol, por pizza estilo deep-dish e pelo bairro operário onde cresceu, no lado sul da terceira maior cidade dos Estados Unidos.
O Chicago Tribune o descreveu como “o orgulho de todo padre e freira” da paróquia local onde estudou e foi coroinha.
Construindo pontes
Em seu primeiro discurso às multidões na Praça de São Pedro, na noite de quinta-feira, Leão ecoou seu antecessor, Francisco, com um apelo pela paz:
“Que nos ajudemos mutuamente a construir pontes, por meio do diálogo, do encontro, para nos reunirmos como um só povo, sempre em paz”, declarou.
“Devemos buscar juntos como ser uma Igreja missionária, uma Igreja que constrói pontes, que promove diálogos, que está sempre aberta.”
Líderes mundiais correram para saudar sua eleição e prometeram colaborar com a Igreja em questões globais, num momento de grandes incertezas geopolíticas.
Leão XIV enfrenta uma tarefa monumental. Além de afirmar sua autoridade moral em um mundo marcado por conflitos, terá de unir uma Igreja dividida e enfrentar questões urgentes como os desdobramentos dos escândalos de abuso sexual.
Como cardeal, Prevost defendeu os pobres e os marginalizados, tendo inclusive compartilhado artigos críticos às políticas anti-imigração do ex-presidente dos EUA, Donald Trump.
Ainda assim, Trump celebrou sua eleição, dizendo na quinta-feira que era uma “grande honra” ter um papa norte-americano.
Não se sabe quantas rodadas de votação foram necessárias para eleger Leão XIV, mas o conclave foi concluído em menos de dois dias, como tem sido a tendência recente.
Candidato de consenso
A multidão explodiu em aplausos quando a fumaça branca subiu da chaminé da Capela Sistina, sinal tradicional da eleição de um novo papa.
“Não sou uma pessoa muito religiosa, mas estar aqui com todas essas pessoas me emocionou”, disse Joseph Brian, de 39 anos, vindo de Belfast, Irlanda do Norte.
Segundo especialistas, ao escolher Prevost, os cardeais optaram por uma continuidade suave com o falecido Francisco — um papa progressista da Argentina que reformou a Igreja ao longo de 12 anos de pontificado.
“Ele é um candidato moderado de consenso, que representa uma continuidade suave, uma continuidade gentil com o papa Francisco, e que não aliena os conservadores”, disse François Mabille, pesquisador do think tank IRIS, em Paris, e autor de um livro sobre a estratégia do Vaticano.
“Pelo menos até agora, ele não os alienou.”
Especialistas concordam que o estilo mais reservado de Prevost pode ajudá-lo a navegar em águas turbulentas no cenário internacional, servindo como contraponto a vozes mais divisivas.
“É um sucesso póstumo de Francisco, com nuances e formas diferentes de encarnar o papel papal”, concluiu Mabille.
© Agence France-Presse