CHINA EM FOCO

China vira alvo do ocidente em novo pacote de sanções contra a Rússia

União Europeia aderiu a um novo pacote de medidas contra o Kremlin que mora empresas chinesas e indianas acusadas de "apoiar o esforço de guerra de Moscou"; Pequim nega as acusações

Créditos: TASS (Dmitry Yagodkin) - Soldados russos avançam na área de Avdiivka, na Ucrânia
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Às vésperas do segundo aniversário do conflito Rússia-Ucrânia, iniciado em 24 de fevereiro de 2022, a União Europeia (UE) aderiu a um novo pacote de sanções contra o Kremlin que tem como alvo, pela primeira vez, empresas chinesas e indianas acusadas de "apoiar o esforço de guerra de Moscou". O governo chinês nega essas acusações.

Em Pequim, o embaixador dos Estados Unidos na China, Nicholas Burns, descreveu o apoio do governo chinês à Rússia como "muito preocupante", à medida que os países ocidentais intensificam esforços para pressionar a administração de Xi Jinping a fazer mais para encerrar a guerra na Ucrânia.

Já a China segue firme no compromisso com possíveis negociações de paz para encerrar a Guerra Rússia-Ucrânia. Foi o que disse o principal diplomata chinês, Wang Yi, ministro das Relações Exteriores chinês, na Conferência de Segurança de Munique (MSC, da sigla em inglês) no último dia 17 de fevereiro.

Durante uma reunião com o Ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, a pedido, realizada à margem da MSC 2024 no sábado passado, Wang reforçou que não desistirá enquanto houver um vislumbre de esperança para buscar a paz na Ucrânia.

"Nos últimos dois anos, o Ocidente subestimou a Rússia e superestimou a Ucrânia e os próprios países ocidentais, e é por isso que a Rússia agora tem mais vantagens no campo de batalha, enquanto o Ocidente e a Ucrânia veem mais dificuldades, e Moscou não se importa com a raiva no Ocidente, então talvez os políticos ocidentais precisem repensar sua estratégia para lidar com a crise e parar de atiçar as chamas", observou Li.

Analistas chineses ouvidos pelo jornal estatal Global Times avaliam que essa reação da UE e dos EUA pode ser explicada pelo progresso da Rússia no campo de batalha. Por essa razão, Washington e Kiev pressionaram países europeus a fazer mais fora do campo de batalha para pressionar Moscou.

Essa tática do ocidente tem se mostrado um fracasso. Nos últimos dois anos, as sanções contra a Rússia provaram ser malsucedidas, e a adição de empresas de outros países, incluindo chinesas, não fará nada para mudar a situação na guerra.

"Preocupação" de Washington

Nicholas Burns, o embaixador estadunidense na China, fez as declarações sobre o posicionamento chinês sobre a guerra entre russos e ucranianos nesta quinta-feira (22) durante evento organizado conjuntamente pelas embaixadas da Polônia, Ucrânia e União Europeia em Pequim.

O diplomata afirmou que Washington estava desapontado pelo fato de a China continuar a fornecer apoio político e diplomático à Rússia à medida que o segundo aniversário da invasão da Ucrânia se aproxima.

"Estamos muito preocupados com as ações das empresas chinesas que alimentam a competência industrial de defesa da Rússia. O silêncio da China sobre a questão existencial da soberania e independência da Ucrânia é ensurdecedor. Seu apoio à Rússia é de fato muito preocupante."

Pacote de sanções mira empresas da China

O novo pacote de sanções da UE contra a Rússia que, pela primeira vez, visa empresas chinesas e indianas acusadas de apoiar o esforço de guerra de Moscou visa cerca de 200 indivíduos e entidades, mas não inclui nenhuma ação econômica abrangente que vise setores industriais cruciais.

Essas medidas, anunciadas na quarta-feira (21) pela presidenta da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, têm como alvo também o "acesso da Rússia a drones" e serão o 13º pacote de sanções impostas por Bruxelas contra Moscou.

"Devemos continuar degradando a máquina de guerra de [Vladimir] Putin... [e] manter a pressão alta sobre o Kremlin", disse Von der Leyen.

Oficiais da UE também discutem um pacote adicional de sanções em resposta à morte do líder da oposição russa, Alexei Navalny, em uma prisão siberiana na semana passada. O Reino Unido impôs sanções a seis gerentes da colônia prisional onde Navalny morreu.

A inclusão de empresas chinesas e indianas ocorre enquanto a UE e seus parceiros do G7 - Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos, com a participação da UE nas reuniões, embora o bloco não seja considerado um membro oficial - tentam reprimir o uso da Rússia de países terceiros e rotas de trânsito para evadir restrições existentes projetadas para dificultar sua economia de guerra.

Bruxelas havia abandonado planos de sancionar empresas chinesas continentais sob pressão de estados membros, incluindo a Alemanha, que temiam antagonizar Pequim.

Mas a capacidade contínua da Rússia de produzir um grande número de drones, mísseis, tanques e outras armas, apesar das extensas proibições comerciais ocidentais, pressionou as capitais do G7 a intensificar seus esforços contra a evasão.

Empresas afetadas

As medidas visarão três empresas na China continental e uma na Índia, juntamente com empresas no Sri Lanka, Turquia, Tailândia, Sérvia e Cazaquistão, de acordo com documentos vistos pelo Financial Times.

As empresas alvo serão afetadas por restrições comerciais após serem identificadas como auxiliares no fornecimento de equipamentos, particularmente eletrônicos e microchips, usados pela Rússia para fabricar armas ou outros equipamentos usados em sua guerra contra a Ucrânia, informa a matéria.

De acordo com o jornal chinês baseado em Hong Kong South China Morning Post, as três empresas chinesas do continente são Guangzhou Ausay Technology, Shenzhen Biguang Trading e Yilufa Electronics Limited. A empresa de Hong Kong é a RG Solutions Limited. Elas fazem parte de um grupo de 193 entidades nomeadas na última rodada de sanções, incluindo firmas da Turquia, Cazaquistão, Coreia do Norte e Índia, elevando o total de entidades na lista negativa para quase dois mil.