O BEM E O MAL

Ruan Oliveira, Luiz Suárez e as duas faces da paixão doentia pelo futebol

O craque é saudado na despedida, o promissor é ofendido ao sofrer nova grave contusão

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Jogar futebol e ainda ganhar dinheiro, muito dinheiro, é o sonho de milhões de jogadores por todo o mundo. O sonho é livre, basta sonhar, mas a realidade é cruel. Poucos conseguem e, mesmo os que conseguem, ganham o suficiente para viver, longe do glamour que a profissão tem. O reconhecimento da torcida não é para muitos.

É para o uruguaio Luiz Suárez, com certeza. Aos 36 anos, com uma carreira espetacular, principalmente no Barcelona, onde fez parte do trio MSN, com Neymar e Messi, Luisito esteve o último ano jogando no Brasil. Pelo Grêmio, fez 54 jogos, 29 gols e 17 assistências. Números espetaculares que poderiam ser melhores ainda se ele não andasse com o pé desequilibrado na hora de bater alguns pênaltis. Na carreira, Suárez, tem 557 gols em 936 jogos. É o maior artilheiro da história da seleção uruguaia.

Os gritos de "fica, Suárez", insistentes nos últimos jogos foram insuficientes para que ficasse um ano a mais no Brasil. Vai para a MLS. Na despedida, havia muita gente no aeroporto de Porto Alegre se despedindo, desejando boa sorte, guardando na retina, por todo o sempre, a última imagem do grande ídolo.

Ruan Oliveira, em proporções infinitamente menores, também é um vencedor. Revelado pelo Metropolitano de Santa Catarina, chegou ao Corinthians aos 20 anos, em 2020. Teve muitas contusões, que o obrigaram a ser operado por três vezes. Chegou a ficar mil dias sem jogar, quase três anos. Depois, teve uma extensão do empréstimo feita até o final do ano. Teria seis meses para mostrar serviço. Chegou a fazer dois gols, mas não foi aprovado.

Era esperar o ano terminar para ficar livre. Talvez seu empresário já estivesse em campo. procurando um novo clube - novo empregador - para 2024. Não deu tempo. No último jogo do ano, contra o Coritiba, entrou em campo aos 22 do segundo tempo em lugar de Fausto Vera. Jogou dez minutos e caiu sozinho. Foi substituído por Bruno Méndez. E agora veio o diagnóstico: rompimento do ligamento cruzado anterior, prazo de recuperação de oito meses. O contrato, que iria terminar, é prorrogado imediatamente até o final do tratamento.

E é este fato -e não o drama do jogador - que afetou muitos torcedores nas redes sociais. Foi chamado de imprestável. Outros diziam que o Corinthians não deveria assumir nada porque o contrato ainda não havia sido renovado. E há os que ofenderam Mano Menezes - "se não ia usar em 2024 porque escalar agora, para dar prejuízo ao clube"? - diziam os "simpáticos".

Prejuízo. Lucro. É o que permeia as relações humanas, mesmo no futebol, onde a paixão se mostra com toda a força e esplendor. Se você é craque e dá lucro - se Suárez continuasse errando pênalti, a história seria outra - as pessoas te levam ao aeroporto na hora da despedida. Se você é um jogador que nada provou ainda, seu drama é motivo de ódio. Te odeiam por romper um ligamento e passar por um perrengue emocional, afinal há garantia de que voltará a jogar? Te odeiam por não ser o craque que nunca foi dito que seria.

Te odeiam porque gostam de odiar.