Inclusão

Projeto Capoeira Escola completa 30 anos e luta por sede própria

Mestre Márcio Rodrigues dos Santos comanda há três décadas projeto inclusivo, utilizando a metodologia “Capoeira para Todos”

Escrito em SP el
Jornalista e redator da Revista Fórum.
Projeto Capoeira Escola completa 30 anos e luta por sede própria
O projeto alcança centenas de alunos. Divulgação

três décadas, Márcio Rodrigues dos Santos, o mestre Márcio Capoeira, comanda, na Baixada Santista, um projeto inovador, que foi sendo aperfeiçoado por ele ao longo do tempo. Após tanta dedicação e preparo, o Projeto Capoeira Escola completará 30 anos em novembro.

Ciente da importância do trabalho desenvolvido desde 1995, Márcio enfrenta um novo desafio: conseguir uma sede própria para o projeto.

“O Capoeira Escola funciona, atualmente, nas dependências da Unisanta, que é muito legal. Mas precisamos de um espaço próprio. Precisamos de um ‘quilombo’ nosso”, afirmou o mestre.

Ele contou que o projeto nasceu de uma observação: “as crianças perderam a oportunidade de brincar na rua”. Márcio logo pensou que a atividade a qual sempre se dedicou poderia ser importante nesse processo.

“A capoeira se caracteriza por ser um berço de resistência. Além disso, amplia todo tipo de recurso motor, com noções de força, equilíbrio, flexibilidade, mobilidade, agilidade, coordenação motora. Por isso, poderia possibilitar a essas crianças que, a partir, principalmente, da década de 90, entraram na era dos controles remotos, computadores e outras telas. O resultado é que elas deixaram de manter uma relação interpessoal”, relembrou.

Márcio destacou os benefícios dessa manifestação cultural. “A capoeira atua, de uma maneira brasileira e reunindo toda formação corporal que ela tem, com formação do caráter, pois trabalha disciplina, respeito, valores humanos, além de estimular o desenvolvimento cognitivo, porque é interdisciplinar: trabalha ciências sociais e biológicas, educação física, velocidade de reação, pensamento lógico matemático, filosofia, entre outras possibilidades”.

Mestre Márcio Capoeira

O professor explicou que utiliza uma metodologia, que foi sendo aperfeiçoada ao longo dos anos, denominada “Capoeira para Todos”. A ideia do nome é para marcar que a capoeira desenvolve benefícios para toda a sociedade.

“Isso foi sendo aperfeiçoado, porque foram surgindo oportunidades de levar a capoeira para diversos segmentos. Levamos para o Grupo Amigo do Lar Pobre, com crianças em alto índice de vulnerabilidade social, nos bairros Vila Nova, Paquetá e Centro de Santos”, contou.

Em seguida, um aluno com paralisia cerebral passou a ter aulas com Márcio. “Foi quando comecei a me especializar nessa área e passamos a oferecer a capoeira em escolas de educação especial, com crianças e jovens com deficiência motora, paralisia cerebral, poliomielite, Síndrome de Down, deficiência comportamental, com transtornos como déficit de atenção e hiperatividade, transtorno do espectro autista, entre outras”.

Ele revelou, também, que iniciou o trabalho no Lar das Moças Cegas, com pessoas com deficiência visual. Em seguida, alguns alunos começaram a entrar na academia com deficiência auditiva ou deficiência múltipla, por exemplo.

“Com isso, é possível perceber que a capoeira também é terapêutica, pois trabalha a reorganização neurofuncional, contribui com toda essa questão nas áreas da saúde física, mental, social e, inclusive, saúde espiritual. Tudo isso, apesar do grande preconceito que ainda existe. Ainda tem pessoas que pensam que a capoeira é para pessoas com baixo poder aquisitivo, que é coisa de malandro ou só para pessoas afrodescendentes. É preciso quebrar esse estereótipo”, destacou.

Foto: Divulgação

Ancestralidade e saber acadêmico

Márcio ressaltou a chance de unir a rica cultura ancestral afro-brasileira com o saber acadêmico. “A capoeira foi me oferecendo inúmeras possibilidades, seja na educação física, na educação inclusiva, na pedagogia, na psicologia, nessas especializações que eu vou buscando. Hoje, tenho três pós-graduações, mestrado em Educação e estou fazendo doutorado em Ciência da Saúde. Tudo isso para que a capoeira seja realmente respeitada. Esse é nosso principal objetivo”, apontou.

O professor explicou que o projeto começa na educação infantil, “como referencial curricular nacional, pois o MEC impôs que na educação infantil as escolas têm que ensinar módulos de movimento, música e natureza. A capoeira contempla os três”, disse.

“É no ensino fundamental que a gente chega na lei 11.639, hoje 11.645, que prevê a obrigatoriedade do ensino afro e indígena nas escolas. E a maneira mais divertida é através da ludicidade da capoeira, para aprender toda a contextualização dessa história magnífica. Esse, inclusive, foi o tema da tese do meu mestrado”, destacou Márcio.

“No ensino médio, posso profissionalizar, dar oportunidade para o jovem, às vezes em vulnerabilidade social, para que ele tenha uma profissão ou saiba fabricar instrumentos musicais, hoje de maneira reciclada, inclusive, contribuindo com os objetivos de desenvolvimento sustentável”, contou.

Consolidação

Mestre Márcio acrescentou que, hoje, o projeto está bem fundamentado. “Há uma prática grandiosa, porque a gente está em 30 instituições, sejam escolas de educação infantil, fundamental, médio, privadas ou públicas, organizações não governamentais. Trabalhamos com idosos, com atletas de alto rendimento, com atletas que jogam futsal, voleibol, e que melhoram a performance através da capoeira”, relatou.

“Enfim, por meio de toda essa diversidade de ação a gente espera conseguir difundir nossa proposta e alcançar objetivos de valorizar mais a capoeira, de a gente ter, de fato, um local que a gente merece na Região Metropolitana da Baixada Santista. A ideia é se organizar e conseguir uma sede própria ou a prefeitura de Santos ceder um espaço, mas que seja nosso”, completou.

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