DESTRUIÇÃO DA CULTURA

SP: Gestão Nunes demole teatro histórico e escola de capoeira sem aviso prévio

Artistas e políticos denunciaram ação da Prefeitura de SP, que destruiu locais com acervos artísticos com mais de 40 anos

Teatro Vento Forte e Escola de Capoeira Angola Cruzeiro do Sul são demolidos em SP.Créditos: Reprodução/ Vídeo/Instagram
Escrito en BRASIL el

A Prefeitura de São Paulo, sob gestão de Ricardo Nunes (MDB), demoliu dois prédios na região de do Parque do Povo, no Itaim Bibi, Zona Oeste da capital paulista. Foram eles o teatro histórico Vento Forte e a Escola de Capoeira Angola Cruzeiro do Sul. Responsáveis por ambos os locais afirmam que não receberam aviso prévio e que prédios foram destruídos com materiais no local. 

A demolição foi denunciada pelos gestores do local, artistas e políticos nas redes sociais e em um ato realizado neste domingo (16). 

"Destruíram tudo sem apresentar documento. Eu estava lá e perguntei o que estava acontecendo. Falaram para eu me calar ou iam me prender", afirmou Claudeir Gonçalves, responsável pelo teatro, ao UOL. 

O deputado estadual Eduardo Suplicy (PT) e o cantor Chico César participaram da manifestação, além de outros artistas e políticos. Pelas redes sociais, os deputados Guilherme Boulos (PSOL-SP) e Orlando Silva (PCdoB-SP) também denunciaram o caso. 

"O ataque sistemático à cultura é uma marca da extrema-direita e daqueles que orbitam ao seu entorno. Aqui, a Prefeitura de São Paulo descumpriu uma decisão judicial e demoliu um espaço cultural com 50 anos de história, sem aviso prévio", afirma Boulos.

Já Orlando Silva declarou que ficou "profundamente indignado" com a demolição do Vento Forte. "Um espaço histórico das artes em São Paulo que tive a oportunidade de frequentar."

O teatro estava com as atividades suspensas, mas preservava um acervo artístico de 40 anos de trabalho.  "Embaixo desses escombros há cenários, figurinos, peças de décadas de arte", disse Ademir de Castro, 54, arte-educador que frequentou o grupo por 27 anos.

Já a escola de capoeira ainda mantinha as atividades, mas foi demolida até mesmo com pertences do mestre Meinha Santos dentro. "Soube só no outro dia de manhã que demoliram o espaço com minhas coisas dentro, não falaram nada antes". Meinha conseguiu recuperar apenas alguns equipamentos de som e tambores, mas afirma que perdeu documentos e outros objetos. 

O cantor Chico César postou uma foto em frente a um piano danificado pela destruição do local. "Destruição da cultura na maior cidade do país faz parte de um projeto, atende a um propósito: a ascensão do fascismo e a gentrificação dos espaços. quem merece e quem não merece viver", disse em postagem no Instagram. 

O ator Dinho Lima Flor, da Cia do Tijolo, publicou um vídeo tocando o piano danificado com uma legenda em que demonstra indignação com a ação da prefeitura. "Recentemente, a Prefeitura de SP demoliu esse patrimônio imaterial, derrubando tudo o que ali existia. O piano, tão importante para os espetáculos, jaz entre os entulhos, simbolizando um apagamento forçado pela pressão da especulação imobiliária, pela intolerância religiosa e pelo racismo que afetou também a capoeira angola", diz o artista.

Dinho acrescenta que agora se inicia uma luta para "exigir justiça e reparação junto ao Ministério Público, Ministério da Cultura, Direitos Humanos, Igualdade Racial e órgãos de defesa do patrimônio cultural".

O que diz a Prefeitura de São Paulo

Em nota à imprensa, a Prefeitura de SP afirmou que "a área foi construída sem autorização da administração e era utilizada de forma irregular para comércio e estacionamento pago", e que os responsáveis foram avisados com antecedência. 

O órgão diz ter notificado  os responsáveis em 31 de julho de 2023. "Não houve apresentação de documentação que comprovasse o direito de uso do imóvel público". O advogado de Gonçalves, Carlos Alberto Santos Sousa, porém, afirma que além de não ter recebido a notificação, também não consegue ter acesso ao processo administrativo. 

Confira a íntegra da nota da prefeitura enviada em g1 abaixo:

"Ainda durante a operação, não foram constatadas as ações culturais no espaço mencionado. A área foi construída sem autorização da administração e era utilizada de forma irregular para comércio e estacionamento pago. Durante as vistorias realizadas, o local encontrava-se em situação de abandono e deterioração. A Secretaria do Verde e do Meio Ambiente reforça seu compromisso com a regularização dos espaços públicos e a preservação ambiental, garantindo que áreas destinadas ao lazer e convívio social sejam utilizadas de acordo com as normas vigentes, visando a segurança e bem-estar de toda a população. A pasta estuda projetos para uma nova utilização do espaço, respeitando seu valor cultural e social.A administração municipal está à disposição para viabilizar um espaço digno para fomento à prática de capoeira e demais atividades que incentivem o desporto e a cultura na cidade de São Paulo."

A Fórum também entrou em contato com a Prefeitura de São Paulo, que mandou a seguinte nota:

A Secretaria do Verde e do Meio Ambiente (SVMA) informa que uma área de aproximadamente 7 mil metros quadrados, que era destinada ao Parque Municipal do Povo - Mario Pimenta Camargo, vinha sendo utilizada de forma irregular e, por isso, um processo de desfazimento foi iniciado com a ciência do responsável. 

A SVMA notificou os responsáveis por essas atividades em 31 de julho de 2023 e não houve apresentação de documentação que comprovasse o direito de uso do imóvel público. Diante disso, uma ação de desfazimento foi realizada nesta quinta-feira (13). O objetivo é garantir a desapropriação e reintegração de posse.

No local, não foram constatadas atividades culturais e a construção do imóvel apresentava sinais de abandono, com edifícios em ruínas ou malconservados. Além disso, alguns espaços livres vinham sendo utilizados como estacionamento pago, e havia uma banca precária na entrada que vendia bebidas. 

A prática de capoeira pode ser realizada em parques municipais, desde que em espaços devidamente autorizados pela administração pública. Vale ressaltar que todos os instrumentos, quadros e objetos que estavam no local foram retirados pelo responsável da atividade, com ajuda da equipe operacional da Prefeitura de São Paulo.

 *Matéria atualizada às 10:30 do dia 17/02/2025 para inclusão da nota da Prefeitura de SP à Fórum.

 

Reporte Error
Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar