O Sistema Único de Saúde (SUS) começou a aplicação de vacinas contra a dengue em crianças de 10 a 11 anos, no Distrito Federal (DF), nesta sexta-feira (9). A faixa foi a primeira a receber os imunizantes no país, conforme cronograma de vacinação do Ministério da Saúde.
A ministra da pasta, Nísia Trindade, informou em seu perfil do X, antigo Twitter, que o primeiro lote foi distribuído em 315 municípios de dez unidades federativas, na quinta-feira (8). Ela compareceu à Unidade Básica de Saúde (UBS) 1 do Cruzeiro para acompanhar o início da imunização contra a dengue.
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"Importante lembrar que o início da vacinação é parte de um processo que demanda tempo para chegar a toda a população, devido ao baixo número de doses no mundo. Hoje, as principais medidas são combater os focos do mosquito e buscar atendimento rápido em caso de sintomas", alertou.
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As vacinas foram distribuídas para 15 locais de vacinação, sendo dez com horário de funcionamento entre 8h e 17h e outras cinco a partir das 13h. A Secretaria de Saúde do DF orienta que os pais ou responsáveis acompanhem o atendimento, sem agendamento prévio. São necessários o documento de identificação e a caderneta de vacinação da criança.
Faixa etária
Era prevista a distribuição de 712 mil doses nos estados do Acre, Amazonas, Bahia, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Rio Grande do Norte e São Paulo, além do Distrito Federal. O público-alvo da imunização seria, inicialmente, crianças e adolescentes de 10 a 14 anos.
No entanto, o Distrito Federal recebeu apenas 71.708 vacinas das 194 mil doses encomendadas (cerca de 37% do previsto). "Vacinamos primeiro as crianças de 10 a 11 anos. Conforme a chegada de novas doses, avançamos aos poucos até os adolescentes de 14 anos", explicou Nísia.
O Ministério da Saúde anunciou que a faixa etária selecionada, diferente da utilizada na imunização contra a Covid-19, é "uma estratégia que permite que mais municípios recebam as doses neste primeiro momento, diante do quantitativo limitado de vacinas disponibilizadas pelo laboratório fabricante".
"A escolha pelo início da imunização nas crianças de 10 a 11 anos também é baseada no maior índice de hospitalização por dengue dentro da faixa etária de 10 a 14 anos", justifica a pasta, em nota, a respeito das mais de 6,5 milhões de doses a serem aplicadas em 2024.
521 municípios devem realizar a vacinação nesta faixa etária até a primeira quinzena de março. A Saúde informa que a imunização deve avançar para outras idades assim que forem entregues mais doses pelo fabricante do QDenga, o laboratório japonês Takeda.
A secretária de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Ethel Maciel, afirmou em entrevista coletiva, nesta sexta-feira, que o Brasil deve ter 4 milhões de casos de dengue no ano de 2024.
O que é a dengue
A dengue é uma doença infecciosa aguda de curta duração, causada pelo vírus DENV – e seus quatro sorotipos (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4) – que pode ser transmitido à população por via vetorial, pela picada de fêmeas infectadas do mosquito da espécie Aedes aegypti.
Como um problema de saúde pública no Brasil desde a década de 1980, a epidemia da dengue tem prevalência nos períodos mais chuvosos de cada região, uma vez que o acúmulo de água contribui para a proliferação do mosquito e, assim, maior disseminação da doença.
De acordo com o Plano de contingência para resposta às emergências em Saúde Pública por dengue, chikungunya e Zika, elaborado pelo Ministério da Saúde em 2022, fatores relacionados à infraestrutura urbana e social do País geram condições ideais de proliferação do vetor, o mosquito.
Como exemplos, é possível mencionar o adensamento dos espaços urbanos; a irregularidade ou a ausência dos serviços públicos de saneamento, como a coleta dos resíduos e o abastecimento de água para consumo; alterações ambientais; e a resistência a inseticidas.
A transmissão da dengue é feita no ciclo urbano humano-vetor-humano.
"[Essas situações] têm contribuído demasiadamente para a permanência do vetor em convívio íntimo com a população. Como consequência dessa relação, tem-se a cada ano o aumento significativo do número de notificações, casos graves e óbitos por arboviroses."
A susceptibilidade aos quatro sorotipos do vírus da dengue é universal, ou seja, todos os indivíduos podem ser contaminados por um dos sorotipos, se curar e, em seguida, se contaminar com outro sorotipo.
Contudo, a imunidade é permanente para o sorotipo que causou a infecção, embora seja possível contaminar-se com os outros três sorotipos sob maior risco de dengue hemorrágica.
Prevenção
Dados do 3º Levantamento Rápido de Índice de Infestação por Aedes aegypti (LIRAa) e do Levantamento de Índice Amostral (LIA) em 2023 mostram que 74,8% dos criadouros do mosquito da dengue estão nos domicílios, como em vasos de plantas, garrafas retornáveis e depósitos de construção.
Outros 22% estão em depósitos de armazenamento de água elevados, a exemplo de caixas d’água e tambores, e no nível do solo, como tonéis, barris e cisternas. Por fim, cerca de 3,2% dos focos de procriação dos vetores são em depósitos de pneu e lixo.
Assim, são recomendadas medidas de eliminação de criadouros, evitando acumular água nos locais, de modo a impedir a postura de ovos do mosquito Aedes aegypti. Também é sugerida a proteção individual para evitar picadas do inseto.
Recomendações, conforme o Ministério da Saúde:
- Proteção das áreas do corpo que o mosquito possa picar, com uso de calças e mangas compridas, sobretudo durante o dia;
- Aplicação de repelentes à base de DEET (N-N-dietilmetatoluamida), IR3535 ou de Icaridina nas partes expostas do corpo;
- Utilização de mosquiteiros sobre a cama, de telas em portas e janelas, e de ar-condicionado.
No Brasil, também é possível receber a vacina contra a dengue, conhecida como Qdenga, disponibilizada pelo SUS, a partir de fevereiro. O governo federal vai concentrar os esforços através de tratamentos prioritários e, assim, conseguir imunizar uma parcela importante da população brasileira.
“O Ministério da Saúde avaliou a relação custo-benefício e a questão do acesso, já que em um país como o Brasil é preciso ter uma quantidade de vacinas adequada para o tamanho da nossa população. A partir do parecer favorável da Conitec [Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS], seremos o primeiro país a dar o acesso público a essa vacina, como um imunizante do SUS", anunciou a Ministra da Saúde, Nísia Trindade.
Segundo ela, até o final do primeiro trimestre, será feita a definição dos públicos alvo levando em consideração a limitação operacional da empresa Takeda, fabricante das vacinas. O registro de uso do imunizante no país foi autorizado em dezembro pelo Conitec, após passar por todas as avaliações da comissão técnica.
Diagnóstico
No estágio inicial, o diagnóstico perpassa por exames clínicos, exames laboratoriais e investigação epidemiológica, sem especificidades. A contagem de hemácias (glóbulos vermelhos), a contagem de plaquetas e a dosagem de albumina auxiliam na avaliação e no monitoramento dos pacientes com suspeita ou diagnóstico confirmado de dengue.
Para casos de infecção aguda, podem ser realizados exames específicos, como isolamento viral por inoculação em células, a pesquisa do genoma do vírus por transcrição reversa seguida de reação em cadeia da polimerase (RT-PCR), por exemplo.
Sintomas
A infecção por dengue pode ser assintomática, apresentar quadro leve, sinais de alerta e de gravidade. Após ter sido picado por um mosquito infectado, a pessoa apresenta sintomas iniciais depois de um período que pode variar de três a 15 dias.
Os principais sintomas iniciais são:
- Febre alta (temperatura corporal acima de 38ºC);
- Dor no corpo e articulações;
- Dor atrás dos olhos;
- Mal estar;
- Falta de apetite;
- Dor de cabeça; e
- Manchas vermelhas na pele.
Os sinais de alarme –dor abdominal intensa e contínua, náuseas, vômito e coceira na pele – podem apresentar indícios da gravidade da doença e, em alguns casos, levar o paciente a choque grave ou óbito. Em sua mais alta gravidade, inclui sintomas de sangramento de mucosas, extravasamento do plasma e/ou hemorragias
O grupo de risco contempla mulheres grávidas, crianças, pessoas idosas e indivíduos com doenças crônicas, que apresentam maiores riscos de desenvolver complicações pela doença. Pessoas com infecções prévias por outros sorotipos também podem ter risco aumentado.
Tratamentos
O tratamento do paciente contaminado com o vírus da dengue é focado na reposição de líquidos até a cura espontânea em cerca de dez dias. Para casos leves, são recomendados:
- Repouso relativo;
- Estímulo à ingestão de líquidos;
- Administração de paracetamol ou dipirona, em casos de febre; e
- Não administração de ácido acetilsalicílico.