Os meses do verão chegam acompanhados de altas temperaturas e chuvas intensas, que podem favorecer o aumento do risco de crescimento da dengue, um dos principais problemas de saúde pública no Brasil. A proteção à doença ocorre, sobretudo, por meio da prevenção e da aplicação da vacina.
O Ministério da Saúde divulgou, em novembro do ano passado, o aumento de 15,8% nos casos de dengue em 2023 quando comparado ao mesmo período de 2022. O total de incidências passou de 1,38 milhão para 1,6 milhão.
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O número de óbitos também teve aumento na relação com o ano anterior e bateu recorde: foram 999 mortes em 2022 e 1.053 mortes em 2023, valores que representam crescimento de 5,4%, mesmo com queda na taxa de letalidade da doença. O número de óbitos foi
Em dezembro, o governo Lula (PT) anunciou um investimento de R$ 256 milhões no fortalecimento da vigilância das arboviroses – dengue, chikungunya e Zika – por meio da pasta sanitária, com o objetivo de reduzir a transmissão das doenças. Além disso, foram capacitados cerca de 11,7 mil profissionais no Brasil para manejo clínico, vigilância e controle de arboviroses.
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O que é a dengue
A dengue é uma doença infecciosa aguda de curta duração, causada pelo vírus DENV – e seus quatro sorotipos (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4) – que pode ser transmitido à população por via vetorial, pela picada de fêmeas infectadas do mosquito da espécie Aedes aegypti.
Como um problema de saúde pública no Brasil desde a década de 1980, a epidemia da dengue tem prevalência nos períodos mais chuvosos de cada região, uma vez que o acúmulo de água contribui para a proliferação do mosquito e, assim, maior disseminação da doença.
De acordo com o Plano de contingência para resposta às emergências em Saúde Pública por dengue, chikungunya e Zika, elaborado pelo Ministério da Saúde em 2022, fatores relacionados à infraestrutura urbana e social do País geram condições ideais de proliferação do vetor, o mosquito.
Como exemplos, é possível mencionar o adensamento dos espaços urbanos; a irregularidade ou a ausência dos serviços públicos de saneamento, como a coleta dos resíduos e o abastecimento de água para consumo; alterações ambientais; e a resistência a inseticidas.
A transmissão da dengue é feita no ciclo urbano humano-vetor-humano.
"[Essas situações] têm contribuído demasiadamente para a permanência do vetor em convívio íntimo com a população. Como consequência dessa relação, tem-se a cada ano o aumento significativo do número de notificações, casos graves e óbitos por arboviroses."
A susceptibilidade aos quatro sorotipos do vírus da dengue é universal, ou seja, todos os indivíduos podem ser contaminados por um dos sorotipos, se curar e, em seguida, se contaminar com outro sorotipo.
Contudo, a imunidade é permanente para o sorotipo que causou a infecção, embora seja possível contaminar-se com os outros três sorotipos sob maior risco de dengue hemorrágica.
Prevenção
Dados do 3º Levantamento Rápido de Índice de Infestação por Aedes aegypti (LIRAa) e do Levantamento de Índice Amostral (LIA) em 2023 mostram que 74,8% dos criadouros do mosquito da dengue estão nos domicílios, como em vasos de plantas, garrafas retornáveis e depósitos de construção.
Outros 22% estão em depósitos de armazenamento de água elevados, a exemplo de caixas d’água e tambores, e no nível do solo, como tonéis, barris e cisternas. Por fim, cerca de 3,2% dos focos de procriação dos vetores são em depósitos de pneu e lixo.
Assim, são recomendadas medidas de eliminação de criadouros, evitando acumular água nos locais, de modo a impedir a postura de ovos do mosquito Aedes aegypti. Também é sugerida a proteção individual para evitar picadas do inseto.
Recomendações, conforme o Ministério da Saúde:
- Proteção das áreas do corpo que o mosquito possa picar, com uso de calças e mangas compridas, sobretudo durante o dia;
- Aplicação de repelentes à base de DEET (N-N-dietilmetatoluamida), IR3535 ou de Icaridina nas partes expostas do corpo;
- Utilização de mosquiteiros sobre a cama, de telas em portas e janelas, e de ar-condicionado.
No Brasil, também será possível receber a vacina contra a dengue, conhecida como Qdenga, disponibilizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) a partir de fevereiro. O governo federal vai concentrar os esforços através de tratamentos prioritários e, assim, conseguir imunizar uma parcela importante da população brasileira.
“O Ministério da Saúde avaliou a relação custo-benefício e a questão do acesso, já que em um país como o Brasil é preciso ter uma quantidade de vacinas adequada para o tamanho da nossa população. A partir do parecer favorável da Conitec [Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS], seremos o primeiro país a dar o acesso público a essa vacina, como um imunizante do SUS", anunciou a Ministra da Saúde, Nísia Trindade.
Segundo ela, até o final do primeiro trimestre, será feita a definição dos públicos alvo levando em consideração a limitação operacional da empresa Takeda, fabricante das vacinas. O registro de uso do imunizante no país foi autorizado em dezembro pelo Conitec, após passar por todas as avaliações da comissão técnica.
A estimativa é de cerca de 5 milhões de vacinas entregues pelo laboratório até novembro. O calendário de vacinação com a disponibilidade para cada região deve ser divulgado ao longo dos meses de 2024.
Diagnóstico
No estágio inicial, o diagnóstico perpassa por exames clínicos, exames laboratoriais e investigação epidemiológica, sem especificidades. A contagem de hemácias (glóbulos vermelhos), a contagem de plaquetas e a dosagem de albumina auxiliam na avaliação e no monitoramento dos pacientes com suspeita ou diagnóstico confirmado de dengue.
Para casos de infecção aguda, podem ser realizados exames específicos, como isolamento viral por inoculação em células, a pesquisa do genoma do vírus por transcrição reversa seguida de reação em cadeia da polimerase (RT-PCR), por exemplo.
Sintomas
A infecção por dengue pode ser assintomática, apresentar quadro leve, sinais de alerta e de gravidade. Após ter sido picado por um mosquito infectado, a pessoa apresenta sintomas iniciais depois de um período que pode variar de três a 15 dias.
Os principais sintomas iniciais são:
- Febre alta (temperatura corporal acima de 38ºC);
- Dor no corpo e articulações;
- Dor atrás dos olhos;
- Mal estar;
- Falta de apetite;
- Dor de cabeça; e
- Manchas vermelhas na pele.
Os sinais de alarme –dor abdominal intensa e contínua, náuseas, vômito e coceira na pele – podem apresentar indícios da gravidade da doença e, em alguns casos, levar o paciente a choque grave ou óbito. Em sua mais alta gravidade, inclui sintomas de sangramento de mucosas, extravasamento do plasma e/ou hemorragias
O grupo de risco contempla mulheres grávidas, crianças, pessoas idosas e indivíduos com doenças crônicas, que apresentam maiores riscos de desenvolver complicações pela doença. Pessoas com infecções prévias por outros sorotipos também podem ter risco aumentado.
Tratamentos
O tratamento do paciente contaminado com o vírus da dengue é focado na reposição de líquidos até a cura espontânea em cerca de dez dias. Para casos leves, são recomendados:
- Repouso relativo;
- Estímulo à ingestão de líquidos;
- Administração de paracetamol ou dipirona, em casos de febre; e
- Não administração de ácido acetilsalicílico.