Nesta segunda-feira (16), o infectologista Flávio Telles, coordenador do Comitê de Micologia da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), afirmou à Folha de São Paulo que uma doença pouco conhecida da população está descontrolada no Brasil.
A enfermidade em questão é a esporotricose, uma doença fúngica que atinge gatos, cachorros e humanos, mas só é transmitida pelos felinos. O infectologista afirma que os casos estão aumentando, mas a subnotificação, uma vez que a notificação da esporotricose não é compulsória, dificulta o controle da doença, que pode levar à morte.
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Em março deste ano, o Ministério da Saúde divulgou uma Nota Técnica que corrobora a realidade descrita pelo infectologista, afirmando a necessidade de haver “ações de vigilância sobre a esporotricose animal” no país.
O que é a esporotricose
A esporotricose é uma doença causada por fungos do gênero Sporothrix. Desses, o principal agente etiológico – aquele que causa a doença – no Brasil é o fungo da espécie S. brasiliensis, responsável em mais de 90% dos casos.
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Segundo o Ministério da Saúde, ele está associado à transmissão zoonótica, isto é, aquela feita pelos felinos, por meio de arranhões, mordidas ou contato com lesões cutâneas de animais infectados. É por isso que, diz a pasta, foi a partir do fim da década de 1990 e início dos anos 2000 que a esporotricose “se tornou uma doença de relevância para a saúde pública”, quando os gatos domésticos passaram a ser seus principais transmissores.
Outra forma de transmissão da doença – e principal meio de infecção dos gatos domésticos – é por trauma decorrente de acidentes com espinhos, palha e lascas de madeira ou contato com vegetais em decomposição, uma vez que o fungo também está presente na natureza, no solo rico em matéria orgânica e na vegetação em decomposição.
O sintoma mais comum da esporotricose em humanos é o aparecimento de feridas na pele e nas mucosas dos olhos, nariz e boca, com ou sem pus. O Ministério da Saúde explica que as formas clínicas da doença vão depender de fatores como o estado imunológico do indivíduo e a profundidade da lesão, o que leva a esporotricose a poder afetar variados órgãos.
Por isso, outros sintomas da doença podem incluir tosse, falta de ar, dor ao respirar e febre, quando o fungo afeta os pulmões, e inchaço e dor ao se movimentar, se o fungo afeta ossos e articulações.
Como identificar a esporotricose em gatos
O sintoma mais comum da esporotricose em gatos é o aparecimento de feridas na face, principalmente no focinho, nas orelhas e nas patas. No entanto, elas podem se espalhar pelo restante do corpo e são raros os casos em que um felino com esporotricose não apresenta lesões cutâneas.
Também pode haver perda de apetite, emagrecimento, espirros e secreção nasal, bem como áreas de alopecia, isto é, sem pelos, no corpo do animal
Em casos mais graves e com tempo de exposição prolongado, zonas de necrose com exposição de músculos, tendões e ossos podem ocorrer. O período de incubação é variável, de uma semana a um mês, podendo chegar a seis meses após a inoculação, ou seja, a entrada do fungo no organismo humano.
É importante ficar atento aos sinais da esporotricose em gatos, tanto para proteger os pets, quanto para evitar que eles transmitam a doença aos humanos.
Como se prevenir
O tratamento da esporotricose pode levar de três meses a um ano. O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza dois medicamentos contra a doença em humanos, por meio da Secretaria de Vigilância em Saúde, o itraconazol e o complexo lipídico de anfotericina B.
No entanto, é importante prevenir antes de que um tratamento seja necessário. O Ministério da Saúde adverte que a principal prevenção é evitar a exposição direta ao fungo.
Desse modo, deve-se usar luvas e roupas de mangas longas em atividades que envolvam o manuseio de material proveniente do solo e plantas, bem como usar calçados em trabalhos rurais.
Também é necessário lidar corretamente com os felinos, caso eles estejam infectados. Todo animal doente com suspeita de esporotricose precisa ser isolado das pessoas e de outros animais e levado ao veterinário para diagnóstico e tratamento, sempre sendo manuseado com o uso de luvas, para evitar a transmissão.
Os utensílios, brinquedos e outros objetos do animal precisam ser lavados com água e sabão e desinfetados diariamente. O Ministério da Saúde alerta ainda que, em caso de morte do animal, este não deve ser enterrado ou jogado no lixo, e sim encaminhado ao veterinário para incineração o mais rápido possível, pois ainda pode contaminar o meio ambiente.
É importante salientar que a esporotricose tem cura também nos gatos. Por isso, é importante tratar os animais e não abandoná-los, até para evitar a transmissão entre os próprios felinos e diminuir o tempo de vida da doença.