CORREDORES DO CONGRESSO

Hugo Motta mirou Flávio Dino e Alcolumbre ao pautar manobra para livrar Bolsonaro

Eleito presidente da Câmara com negociata em torno do PL da Anistia, Motta teria se vingado ao colocar a toque de caixa a manobra que pretende estender o benefício da imunidade concedida a Ramagem ao ex-presidente Jair Bolsonaro

Hugo Motta com Sóstenes Cavalcante, líder do PL, e Alexandre Ramagem.Créditos: Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Escrito en POLÍTICA el

Alçado à Presidência da Câmara, para suceder Arthur Lira (PP-AL), com uma negociata em torno do PL da Anistia, Hugo Motta (Republicanos-PB) mostrou suas garras - e seu antigo alinhamento ao bolsonarismo - na noite da última quarta-feira (7) quando pautou, a toque de caixa, o pedido de suspensão da ação penal sobre o golpe contra o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) - que em uma manobra pretende beneficiar Jair Bolsonaro (PL) e os generais do "núcleo crucial" da organização criminosa.

Ao receber o parecer favorável da Comissão de Constituição e Justiça, Motta dispensou a discussão em plenário e deu início à votação, que resultou na aprovação do pedido formulado pelo PL, partido de Bolsonaro, com 315 votos.

"A matéria foi amplamente discutida por aproximadamente três dezenas de parlamentares em reuniões que totalizaram mais de 10 horas no âmbito da Constituição e Justiça e de Cidadania", justificou, impedindo o debate no plenário.

Nos bastidores, no entanto, Motta teria tramado a pauta como uma resposta a David Alcolumbre (União-AP), presidente do Senado, que articula com o Supremo Tribunal Federal (STF) uma alternativa ao PL da Anistia.

O projeto de lei, que beneficiaria Bolsonaro, estava sendo usado por Motta como forma de negociação tanto com a oposição, quanto com governistas. Como prometeu, durante campanha à mesa diretora, pautar o PL aos bolsonaristas e não pautar à base de Lula, o presidente da Câmara usava a proposta para hora dar esperanças à oposição e hora negociar com o governo.

O acordão negociado por Alcolumbre junto ao Supremo, que beneficiaria com redução de penas apenas os presos no 8 de Janeiro - endurecendo para os mentores da tentativa de golpe -, anulou a estratégia de Motta de negociar usando o PL da Anistia.

Flávio Dino

Além de se vingar de Alcolumbre, Motta ainda mirou o ministro Flávio Dino que, da suprema corte, colocou um freio nas chamadas emendas de relator, a base do orçamento secreto implantando por Bolsonaro para controlar o Centrão.

Para adular os bolsonaristas, Motta teria sinalizado irritação com as decisões recorrentes de Dino para acabar com a farra das emendas, fazendo com o coro da narrativa de influência excessiva do poder judiciário sobre o legislativo.

Motta resolveu fazer vista grossa ao texto aprovado na CCJ - controlada por bolsonaristas - que afirma que está suspenso todo o processo e “em relação a todos os crimes imputados”.

Com isso, abre-se uma brecha para trancar não só parte do processo, mas toda a ação penal, incluindo os trechos que envolvem Jair Bolsonaro e outros aliados.

Aos aliados, especialmente da ultradireita, Motta teria enviado um recado à Dino e, de quebra, à primeira turma do STF, que julga a organização criminosa de Bolsonaro e agora também se debruça sobre a decisão da Câmara.

Como a manobra é explicita, o STF deve barrar a decisão da Câmara, aprofundando a crise entre os dois poderes e fortalecendo a narrativa de bolsonaristas sobre a "perseguição do judiciário".
 

Reporte Error
Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar