O Fórum Onze e Meia desta segunda-feira (7) recebeu a vereadora Luna Zarattini (PT-SP), que comentou sobre o cenário político não só em relação à prefeitura de São Paulo, sob gestão de Ricardo Nunes (MDB), mas também do governo do estado, de Tarcísio de Freitas (Republicanos).
A parlamentar destacou que tanto a prefeitura quanto o governo de SP vivem um "cenário de bolsonarização" com a gestão dos dois políticos apoiadores do ex-presidente, réu por tentativa de golpe de Estado, Jair Bolsonaro (PL). Ambos estiveram presentes no ato deste domingo (6), que pedia anistia aos golpistas.
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"Ricardo Nunes tem adotado posturas muito autoritárias em relação, por exemplo, aos servidores públicos. Ele disse que se os servidores em greve - que estão na área da Educação, da Saúde, pedindo assistência - fossem paralisar, eles perderiam ponto, seriam penalizados, punidos, quando a gente sabe que o direito à greve é um direito constitucional", disse Luna.
Ela também afirmou que o prefeito tem reforçado o discurso pró-armamento, policiamento e "mais violência". "Tem tido um discurso bastante alinhado a essa extrema direita, a essa violência e tudo mais", acrescentou a vereadora.
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"Então, a gente está vivendo um um cenário de bolsonarização da prefeitura de São Paulo e do governo do estado, destacando o Tarcísio como um cara que tem feito um projeto privatizador muito intenso", comentou. Ela citou, por exemplo, a privatização da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), que tem prejudicado diversas famílias, principalmente das periferias.
"Essa privatização, que foi alinhada com Ricardo Nunes, explodiu os preços das contas de água, também piorou muito a qualidade de água que está vindo barrenta para as pessoas depois da privatização", contou a vereadora.
A parlamentar também citou a privatização da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos e das escolas, além da construção das escolas cívico-militares.
"Então, esse projeto bolsonarista, que está sendo aflorado e intensificado aqui na cidade de São Paulo, é um projeto muito danoso para a população, porque encarece a vida das pessoas, piora a qualidade dos serviços e tem esse requinte de autoritarismo", declarou Luna. "Basta ver como está a Segurança Pública no estado de São Paulo, onde a gente só está vendo mais violência, maior letalidade policial, retirada das câmeras corporais dos policiais".
"Isso tudo foi exposto no ato de ontem (6) tanto pelo governador Tarcísio, quanto pelo prefeito Ricardo Nunes, que disse que a anistia que eles estavam buscando era uma 'anistia humanitária'. Só faltou o prefeito ter uma atitude humanitária em relação à população de rua", afirmou a vereadora. "Nós nunca vamos deixar de lembrar que foi o prefeito Ricardo Nunes que ordenou retirar barracas e pertences da população em situação de rua, que nada mais tem do que os seus próprios objetos, de uma maneira muito violenta". "Ele tem tratado de uma maneira muito violenta a população em situação de rua que cresceu: 80 mil pessoas", acrescentou.
A vereadora ainda afirmou que esse clima tem se instaurado na Câmara Municipal com a entrada de novos vereadores bolsonaristas e de extrema direita, que "têm trazido uma série de falas que violam os direitos humanos". "Ataques às mulheres, ataques aos negros e negras, às populações indígenas, quilombolas, ataques às mulheres trans", observou.
Ela citou, ainda, o episódio de transfobia contra a vereadora Amanda Paschoal (PSOL-SP), que sofreu ataques do vereador extremista Lucas Pavanato (PL).
"Na toada dessa ocupação bolsonarista que está tendo na Câmara, nós estamos buscando a reação a tudo isso. Então, fez parte o discurso que eu tive em relação a rememorar o que foi a ditadura militar, porque de certa maneira eles tentam diminuir, apaziguar, dizer que não houve violência política de Estado, enquanto nós demonstramos, muitas vezes, que houve essa violência política de Estado e que a tentativa também de golpe deles tem muito a ver com essa vontade deles de retorno da ditadura militar", afirmou.
Luna também destacou o projeto de lei, chamado de "PL da Fome", que penalizava organizações sociais que faziam doações de alimentos a pessoas em situação de fome. "Esse é o nível de desumanidade que existe ali na Câmara", declarou.
Bancada dos direitos humanos
Diante desse cenário, a vereadora anunciou que, no dia 15 de abril, vereadores de esquerda irão lançar a "Bancada dos Direitos Humanos" na Câmara para fazer reação ao avanço da extrema direita e aos ataques às minorias.
"Nós lançaremos essa bancada dos Direitos Humanos que vai aglutinar diversos partidos, vereadores e vereadoras que fazem essa luta pela democracia e pela radicalização da democracia - que a gente sabe que ainda está inacabada no nosso país - para que a gente tenha de fato direitos, acesso à Educação, acesso à cultura, acesso à Saúde, acesso à assistência, que as pessoas possam viver independentemente do CEP onde elas moram, que a gente lute pelo fim da violência policial, que a gente lute pelos direitos das mulheres, das pessoas trans, das pessoas pretas, indígenas, quilombolas", declarou Luna.
Discurso em defesa de seu avô e contra a ditadura
No dia 26 de março, a vereadora fez um potente discurso na Câmara em defesa da memória de seu avô, o deputado federal Ricardo Zarattini, que foi um preso político da ditadura militar. Ele faleceu em outubro de 2017.
Durante sessão, uma vereadora bolsonarista usou da imagem de Ricardo Zarattini, que foi preso, torturado e exilado durante a ditadura, para pedir anistia aos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Em resposta, Luna fez um discurso relembrando a história de seu avô em defesa da democracia e exigiu respeito com sua família. Confira o vídeo abaixo:
À Fórum, a vereadora afirmou que o momento de seu discurso foi "muito difícil". "Os bolsonaristas não têm nenhum limite, nenhum escrúpulo e ali estavam, de certa maneira, atacando a história do meu avô, Ricardo Zarattini, que foi um lutador contra a ditadura militar, mas, ao mesmo tempo, atacando a memória de todos aqueles e aquelas que deram o suor, o sangue, a vida - muitos que não estão aqui entre nós - , para que hoje a gente tivesse uma democracia, tivesse direitos", declarou.
"Eu acho que a gente só tem motivo de orgulho de estar do lado certo da história e dos verdadeiros heróis. Os nossos heróis não são nem Jair, nem Messias, não são pessoas que defendem ditadores, que defendem torturadores, nossos heróis são aqueles que deram a cara a tapa para o Brasil ser o nosso Brasil como é hoje", afirmou a parlamentar.
"Então, eu tenho muito orgulho do meu avô e de todos os lutadores e lutadoras que enfrentaram a ditadura militar, mas também todas as injustiças sociais do nosso país, como o presidente Lula, que está governando pela terceira vez nosso Brasil", completou a vereadora.
Confira a entrevista completa da vereadora Luna Zarattini ao Fórum Onze e Meia
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