Após fazer chacota na defesa entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a quadrilha golpista, Jair Bolsonaro (PL) segue a estratégia nas redes de incitar a horda de apoiadores a atacar ministros da corte.
Após mirar Luís Roberto Barroso, nesta sexta-feira (7) o ex-presidente usou mentiras para colocar Flávio Dino como alvo dos radicais.
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Em publicação na rede X, Bolsonaro chama Dino de "juiz parcial e mentiroso" ao publicar um vídeo em que o ministro do Supremo chama Sergio Moro (União-PR), que deixou a magistratura para entrar no governo do ex-presidente, de "político disfarçado de juiz".
No vídeo, que foi feito durante a campanha de Lula à presidência - quando o maranhense ainda não era ministro da Suprema Corte -, Dino ainda revela que "o governo mais corrupto da história é o governo liderado por Jair Bolsonaro": "o governo do orçamento secreto".
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"Nunca se roubou tanto dinheiro federal no Brasil como nesses anos trágicos", diz Dino.
Na publicação, o ex-presidente mente dizendo que "Jair Bolsonaro vetou o projeto do orçamento secreto, mas o PT votou para derrubar o veto e posteriormente o utiliza de forma indiscriminada e dissimulada como nunca antes na história".
Bolsonaro, juntamente com Arthur Lira (PP-AL) e Ciro Nogueira (PP-PI), foi quem criou o chamado orçamento secreto para cooptar a base de apoio no Congresso Nacional, terceirizando o orçamento da União a parlamentares do Centrão via emendas.
No Supremo, Dino foi o responsável por colocar um freio de arrumação, enfrentando Arthur Lira e negociando com o parlamento uma forma de dar transparência às emendas.
Dino também foi o responsável por autorizar ações policiais contra deputados - inclusive do PDT - que teriam desviado recursos via Orçamento Secreto.
Entre os casos de corrupção, a Procuradoria-Geral da República denunciou no início de fevereiro três deputados federais bolsonaristas do PL por vender emendas parlamentares. De acordo com a PGR, Josimar Maranhãozinho (PL-MA), Pastor Gil (PL-MA) e Bosco Costa (PL-SE) comandariam uma organização criminosa que dava destino ilegal a recursos públicos originários do Orçamento União.
O esquema foi descoberto por uma investigação da Polícia Federal que teve acesso a mensagens escritas e de áudio dos parlamentares nas quais teria ficado claro que os acusados “vendiam” as emendas que eles próprios conseguiam e que deveriam beneficiar suas bases eleitorais, o que caracteriza os crimes de corrupção passiva e formação de organização criminosa.
No STF, o caso é relatado por Cristiano Zanin, indicado por Lula à corte - assim como Dino -, que Bolsonaro tenta impedir de participar do julgamento da quadrilha golpista.
Ataque a ministros
Nesta quinta-feira (6), pelo seu perfil no Telegram, Bolsonaro atacou o presidente da corte Luís Roberto Barroso para incitar levante contra o judiciário.
Em vídeo público, de uma palestra feita em evento do banco BTG Pactual, Barroso fala sobre os julgamentos dos envolvidos no 8 de Janeiro de 2023 e da "tensão" em torno da tramitação da denúncia contra a orcrim golpista.
Barroso explica que as penas aos condenados pelo 8/1, consideradas excessivas pelos bolsonaristas, é uma forma de prevenir novas intentonas golpistas no país.
"As circunstâncias que advêm dos julgamentos do 8 de janeiro, que ainda de certa maneira trazem um certo dissenso na sociedade, a visão do Supremo Tribunal Federal é que não punir adequadamente esses crimes é um incentivo para que se repita quem, portanto, entender que da próxima vez achar que pode fazer a mesma coisa. Então, nós precisamos encerrar o ciclo da história brasileira de que a quebra da legalidade emocional fazia parte da rotina, como sempre foi na vida brasileira", disse Barroso sobre as condenações dos golpistas.
"Então, sob a Constituição de 1988 nós tivemos 36 anos de estabilidade institucional. Não se deve desprezar isso. E nós, de toda nossa geração, que conviveu com a Ditadura tem muito apreço pela preservação da Democracia", emendou.
Em seguida, o ministro falou da "tensão" sobre o julgamento da quadrilha de Bolsonaro justamente pelo incitamento feito pelos aliados em direção à horda de apoiadores, que culminou até em ameaça de bomba no edifício sede do STF.
"Também causa um grau de tensão política no país a investigação, agora já oferecida como denúncia, sobre uma aparentemente estarrecedora articulação para um golpe de Estado como se estivéssemos voltando à década de 60 com golpes militares. Portanto, também é um julgamento que traz um grau de preocupação pelas dificuldades de uma classificação que acho necessária no Brasil", disse o presidente do STF, sem emitir opinião sobre o mérito do julgamento.
Bolsonaro, no entanto, compartilhou o vídeo atacando Barroso que, segundo ele, estaria "dando opinião política sobre casos a serem julgados (inconstitucional)" para incitar a horda.
"Fingindo que há normalidade institucional e que defende a democracia enquanto esbraveja que “derrotaram o Bolsonarismo; juízes diretamente parciais se colocando aptos para “julgamento” de processo repleto de ilegalidades; é assombrado para o judiciário e para o Brasil normalizar tal rotina", emendou o ex-presidente buscando se colocar como vítima.
Estratégia
O ataque a Barroso faz parte da estratégia de Bolsonaro para desacreditar o STF e incitar a horda de apoiadores, que rapidamente pulverizou a publicação em grupos do Telegram e WhatsApp.
O ex-presidente, juntamente com filhos e influenciadores, pulverizaram os ataques para ministros além de Alexandre de Moraes, o principal alvo da orquestração golpista.
Na quarta-feira (5), Bolsonaro já havia atacado, via Instagram, Flávio Dino com notícia divulgada pela Veja com base em dados do Sistema Nacional de Informações, o SNI, órgão de arapongagem criado pela Ditadura Militar.
A reportagem diz que Dino foi monitorado ao liderar um protesto em 1988 - após redemocratização - que "derrubou portões da reitoria da Universidade do Maranhão".
A claque golpista só tem poupado André Mendonça e Kássio Nunes Marques dos ataques. A estratégia é levar o julgamento ao plenário da corte e obter os dois votos favoráveis dos indicados pelo próprio Bolsonaro ao Supremo.