Em reunião com o núcleo duro de aliados no Congresso Nacional nesta quarta-feira (19), um dia após ser denunciado como líder da organização criminosa golpista pela Procuradoria-Geral da República (PGR), Jair Bolsonaro (PL) apontou EUA e Argentina como destinos para uma suposta fuga ante a iminente condenação e prisão.
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Bolsonaro pode ser obrigado a usar tornozeleira eletrônica até o julgamento para não fugir
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O encontro aconteceu no apartamento funcional do deputado Zucco (PL-RS), líder da oposição no Congresso. Embora tenha dito que não pretende fugir para "provar sua inocência", ele sinalizou que caso "tivesse algo", segundo informações de Igor Gadelha no portal Metrópoles, "já teria procurado asilo, por exemplo, na Argentina ou nos Estados Unidos".
A possibilidade de fuga de Bolsonaro foi aventada pelo próprio PGR, Paulo Gonet, na denúncia sobre o ex-presidente e 33 membros da orcrim golpista enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF).
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Gonet aponta para o risco de fuga de Bolsonaro ao relatar ocasiões, ao longo do planejamento do golpe, em que o ex-presidente cogitou deixar o Brasil. No documento, o procurador-geral relata que, em março de 2021, o grupo de apoio ao então mandatário chegou a cogitar um plano de fuga caso suas ações não fossem aceitas pelos militares.
“Em 22 de março de 2021, poucos dias depois de Lula da Silva haver superado a causa de inelegibilidade, o grupo de apoio do então Presidente da República [...] chegando a criar plano de contingenciamento e fuga de Bolsonaro, se a ousadia não viesse a ser tolerada pelos militares”, diz o trecho da denúncia.
Em outro momento, o texto aponta que o grupo próximo a Bolsonaro havia traçado uma estratégia de atuação, incluindo um plano de fuga do país caso não obtivessem o apoio das Forças Armadas para dar seguimento à tentativa de golpe.
Com o avanço do processo diante da denúncia apresentada por Gonet, o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), ex-ministro da Secretaria de Comunicação do governo Lula, informou que protocolará junto à PGR um pedido para que Bolsonaro seja obrigado a usar tornozeleira eletrônica.
Em conversa com jornalistas no comitê de imprensa da Câmara nesta quarta-feira (19), Pimenta argumentou que Bolsonaro, mesmo sem passaporte, poderia usar países fronteiriços como rota de saída do Brasil para empreender uma fuga e escapar da prisão.
O deputado anexará ao pedido reportagens sobre a "estadia" de Bolsonaro na Embaixada da Hungria em Brasília, em fevereiro de 2024, em meio a especulações de que seria alvo de uma operação da PF e logo após convocar uma manifestação na avenida Paulista, além de declarações do ex-mandatário sinalizando que poderia fugir da Justiça.
O Código de Processo Penal permite que a PGR solicite ao STF o uso de tornozeleira eletrônica como medida cautelar para impedir fuga ou garantir o andamento do processo. O pedido deve ser analisado pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, que já adotou medidas restritivas contra outros envolvidos na trama golpista.
Pedidos
Na reunião com aliados, Bolsonaro divulgou uma estratégia para que seja blindado em uma provável prisão ainda neste ano. O STF já sinalizou que deve finalizar o julgamento ainda em 2025 para não contaminar o cenário eleitoral em 2026, quando haverá nova disputa ao Palácio do Planalto.
O principal pedido foi para que os aliados incitem a horda bolsonarista a ir às ruas, principalmente no ato marcado para 16 de março no Rio de Janeiro. O ex-presidente quer concentrar a mobilização na capital fluminense para mostrar "apoio popular".
No entanto, Bolsonaro fez uma apelo ao núcleo mais radical, capitaneado por Nikolas Ferreira (PL-MG), para que deixem de fora a pauta de impeachment de Lula. Segundo o ex-presidente, isso tiraria o foco da busca pela inocência em um tema que não tem chance de passar neste momento.
Além disso, Bolsonaro seguirá buscando ajuda de Donald Trump e de bilionários das big techs, como Elon Musk, do X, e Chris Pavlovski, do Rumble.
"Chanceler" do clã, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) abandonou de vez o trabalho na Câmara e voltou aos EUA na última terça-feira (18) em busca de apoio.
A estratégia passa por ataques diretos a Alexandre de Moraes e a propagação da narrativa nas redes de que Bolsonaro é "vítima de perseguição da Ditadura judicial brasileira".
A estratégia passa ainda pela pressão para que Hugo Motta (Republicanos-PB), que sucedeu Arthur Lira (PP-AL) na presidência da Câmara, coloque em pauta o PL da Anistia e também a proposta que destrói a Lei da Ficha Limpa, impondo uma pena máxima de 2 anos de inelegibilidade.
Bolsonaro ainda deve insistir em sua candidatura em 2026, mesmo com aliados já engalfinhando nos bastidores para ocupar seu lugar. Segundo ele, isso o coloca como "anti-Lula" e, consequentemente, dá musculatura às críticas a Moraes, colocando a imagem do presidente ao ministro do Supremo.