EXTREMA DIREITA

Bolsonaro réu: pesquisadora analisa estratégia da extrema direita nas redes após denúncia da PGR

Em entrevista ao Fórum Onze e Meia, Letícia Oliveira aponta quais narrativas devem ser exploradas por apoiadores do ex-presidente

Jair Bolsonaro, alvo de denúncia da PGR por tentativa de golpe de Estado.Créditos: Isac Nóbrega/PR/Flickr Palácio do Planalto
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A pesquisadora e especialista em extrema direita Letícia Oliveira avaliou, em entrevista ao Fórum Onze e Meia desta quarta-feira (19), quais devem ser as estratégias do grupo político nas redes sociais após a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por tentativa de golpe de Estado.

De acordo com ela, a base de aliados de Bolsonaro está "perdida" e deve focar nas denúncias produzidas pelos Estados Unidos, como a questão da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em inglês), que está sendo acusada por bolsonaristas de ter interferido nas eleições de 2022 para que o ex-presidente não fosse reeleito. 

"Olha como eles distorcem. A gente sabe que vieram representantes, inclusive do Exército, para dizer que não iam apoiar uma tentativa de golpe. Agora, eles estão falando que o Alexandre de Moraes recebeu dinheiro do governo Biden para não deixar o Bolsonaro continuar na presidência. Então, essa vai ser a narrativa deles", analisa Letícia. 

A especialista comenta, também, sobre o processo movido pela Rumble, plataforma voltada para a extrema direita, e a Truth Social, rede de Donald Trump, contra Moraes por ter banido os perfis de Allan dos Santos, investigado no STF por fake news. 

"Nesse sentido, eles estão perdidos mesmo, a militância não sabe o que fazer, cada um fala uma coisa, mas os ataques vão focar no Alexandre de Moraes, o que, pelo que eu percebi, para a própria defesa do Bolsonaro está sendo um problema", diz Letícia. "Os advogados do Bolsonaro estão preocupados com isso, porque ele vai continuar atacando o STF, principalmente o Alexandre de Moraes", completa.

Letícia acrescenta que essa narrativa ganha ainda mais força com o apoio de Trump, que se tornou um "autocrata" nos Estados Unidos. No entanto, a especialista afirma que tanto o presidente quanto Elon Musk não vão conseguir fazer interferências nas decisões no STF, mas "vão pressionar", e uma das formas de fazer pressão é justamente por meio desses ataques.

No entanto, a pesquisadora não acredita que Trump realmente consiga interferir nas decisões no Brasil, pois isso seria um "ato de guerra". Apesar do histórico de interferência dos EUA em diversos países do Sul Global para derrubar governos, Letícia não vê, nesse cenário, um modo de o presidente norte-americano interferir no Judiciário brasileiro.

"O Trump está com essa questão isolacionista, de impor tarifa a outros países, e ele ficaria numa situação muito complicada se interferisse aqui", afirma Letícia. A pesquisadora acredita que o Brasil deve manter a própria vida política, independentemente do que acontece nos Estados Unidos. 

"Narrativa por narrativa, eles já têm de monte, e eles vão usar. É óbvio que eles vão espernear, assim como eles sabiam que ia sair essa denúncia e já estavam esperneando com o negócio da anistia", diz Letícia.

Outra narrativa que será intensificada pela extrema direita, segundo Letícia, é a de que o Bolsonaro vai seguir o mesmo caminho do Lula, ficando novamente elegível e voltando a ser presidente. 

"Estratégia do Lula"

"Eles já estão fazendo isso há algum tempo, mas agora está mais forte. Eles vão usar a mesma estratégia do Lula. O próprio Bolsonaro falou isso na entrevista coletiva que ele deu", analisa Letícia. "O Bolsonaro está dizendo que vai seguir a mesma estratégia do do Lula em 2018. Ele vai manter a candidatura até a hora que o TSE falar: 'não, você não pode, a sua candidatura é ilegal'. E aí ele bota o vice, seja quem lá for, como candidato. Mas eu acho que nem isso vai acontecer", acrescenta.

A pesquisadora ainda acrescenta que, apesar de os bolsonaristas ficarem quietos diante da denúncia da PGR, muitas pessoas dos Estados Unidos e do Canadá declararam que estavam com inveja do Brasil, "porque a gente é que sabia lutar realmente contra esses ditadores", o que eles não saberiam. "Então, assim, além de tudo, a gente virou exemplo de como lidar com golpe, com golpista, fascista. Eu acho que isso é muito bom pra gente", analisa.

Confira entrevista completa da pesquisadora Letícia Oliveira ao Fórum Onze e Meia 

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