O governo federal mantém uma relação estável com o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), apesar de seus recentes acenos ao bolsonarismo. A avaliação interna é de que tais declarações fazem parte de um movimento natural dentro do jogo político e que não representam um risco imediato à articulação governista. Além disso, há um entendimento de que Motta busca consolidar sua posição dentro da direita sem necessariamente romper com o governo, o que torna suas falas menos preocupantes para o Planalto.
Nos bastidores, a Secretaria de Relações Institucionais (SRI) entende que o alinhamento de Motta com setores bolsonaristas é esperado, considerando sua base eleitoral. O parlamentar tem forte inserção entre grupos conservadores, e seus discursos refletem a necessidade de manter apoio entre eleitores que ainda orbitam o bolsonarismo. A estratégia do Planalto, segundo fontes da articulação política, é evitar confrontos diretos e permitir que o Judiciário tome as decisões sobre eventuais questões que envolvem o parlamentar.
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"As instituições estão funcionando", disse uma fonte do governo, reforçando que não há intenção de interferência política nos desdobramentos jurídicos relacionados ao 8 de janeiro. Essa mesma fonte destaca que o governo já lida com um Congresso fragmentado e que criar atritos desnecessários poderia prejudicar outras articulações mais importantes para o Executivo, como a aprovação de medidas econômicas e a consolidação de alianças estratégicas.
Mudança na Ficha Limpa não avança
A possibilidade de revisão da Lei da Ficha Limpa, que poderia beneficiar Jair Bolsonaro em um eventual cenário de condenação, não preocupa o governo. A avaliação interna é de que, mesmo que haja apoio no Congresso, a medida enfrentaria forte resistência da sociedade e da imprensa, tornando-se politicamente inviável. A repercussão de uma eventual aprovação dessa mudança geraria um desgaste significativo, não apenas para os parlamentares envolvidos na articulação, mas também para setores da direita que ainda tentam se distanciar de polêmicas associadas a Bolsonaro.
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Nos bastidores do Senado, uma fonte do MDB classificou a movimentação como um sinal de desespero e descartou qualquer viabilidade da proposta. "Não prospera... é desespero", analisou. Para ele, a tentativa de alteração na legislação segue o mesmo padrão de outras manobras do bolsonarismo, mas sem perspectiva real de sucesso. Outro interlocutor que acompanha as negociações foi ainda mais direto: "Mesmo enredo... não vai a lugar algum... o bolsonarismo usa isso para segurar os nomes que querem herdar votos da direita". Essa visão é compartilhada por outras lideranças políticas, que veem a estratégia como um discurso destinado mais à militância do que a uma real tentativa de mudança legislativa.
O deputado Rogério Correia (PT-MG) também classificou a movimentação como uma cortina de fumaça para desviar a atenção do fato de que a denúncia contra Bolsonaro está prestes a ser apresentada. "O que vai prevalecer é exatamente o julgamento dele no STF, essa vai ser a discussão. Não há por que discutir anistia ou ficha limpa. Está chegando a hora de ver o que aconteceu do ponto de vista da tentativa de golpe. Então isso é uma cortina de fumaça que eles fazem, sempre agitando para manter acesa a chama entre os ultra-radicais deles com alguma esperança golpista", afirmou à coluna. Para ele, essa é uma estratégia recorrente do bolsonarismo, que busca manter sua base mobilizada com pautas inviáveis. "É sempre o mesmo lero-lero que vai ser derrotado", disse. Segundo o parlamentar, além da anistia e da revisão da Ficha Limpa, aliados de Bolsonaro continuam alimentando expectativas golpistas, inclusive com discursos sobre intervenção externa.
Estratégia do Planalto: foco na economia
O governo acredita que a movimentação em torno da Ficha Limpa não terá impacto real e vê a ofensiva como uma forma de Bolsonaro manter sua base unida. Assessores políticos próximos ao presidente afirmam que a prioridade da articulação política segue voltada para temas econômicos, como a contenção da inflação e a geração de empregos, enquanto a batalha sobre a inelegibilidade do ex-presidente se desenrola nos tribunais, sem interferência direta do Executivo.
Dentro desse contexto, a equipe de articulação do governo busca consolidar uma agenda positiva que desvie a atenção de polêmicas envolvendo Bolsonaro e mantenha o foco em resultados concretos para a população. A percepção entre auxiliares do governo é de que a insistência do bolsonarismo em pautas como a revisão da Ficha Limpa pode, no longo prazo, acabar enfraquecendo a oposição, uma vez que não há perspectivas reais de avanço nesse tipo de proposta.
Além disso, o Planalto acredita que as disputas internas na direita podem ser benéficas para o governo, que trabalha para consolidar sua base no Congresso e ampliar sua margem de governabilidade. Enquanto Bolsonaro e seus aliados buscam manter protagonismo com discursos inflamados, o governo segue apostando em uma estratégia mais pragmática, voltada para a implementação de políticas públicas e para a manutenção da estabilidade institucional.