A Polícia Federal (PF) concluiu um relatório sigiloso sobre a atuação da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP/DF) nos eventos de 8 de janeiro de 2023, revelando falhas intencionais, omissões estratégicas e ações deliberadas que permitiram a escalada da violência. O documento foi anexado às investigações sobre interferência eleitoral (PET 11.552) e tentativa de golpe de Estado (PET 12.100), consolidando uma narrativa de que os atos foram planejados e facilitaram a tentativa de ruptura institucional.
No dia 10 de dezembro de 2024, o ministro Alexandre de Moraes determinou a junção desse relatório às PETs em questão e ordenou novas diligências para aprofundar as investigações. A Procuradoria-Geral da República (PGR) acatou a determinação, ampliando o escopo das apurações.
Te podría interesar
Relatório final da PF e envolvimento da SSP/DF
O relatório final da Polícia Federal sobre a atuação da SSP/DF nos eventos de 8 de janeiro, que permanece sob sigilo, destaca que, após as investigações, foi possível concluir que algumas figuras da Secretaria de Segurança Pública do DF estão diretamente envolvidas nos autos da PET 11.552, que apura possível interferência no exercício político nas eleições de 2022. Além disso, o documento sugere que esses mesmos atores podem estar conectados aos fatos investigados na PET 12.100, que trata da tentativa de golpe de Estado.
O relatório da PF estabelece uma conexão direta entre os atos violentos de 12 de dezembro de 2022 e os de 8 de janeiro de 2023, evidenciando um padrão de radicalização bolsonarista que precedeu a tentativa de golpe. No dia 12/12, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro tentaram invadir a sede da Polícia Federal, incendiar veículos e depredar prédios públicos em Brasília. A PF concluiu que a SSP/DF foi instrumental na facilitação desses atos, principalmente por meio da atuação de Cíntia Queiroz, então subsecretária da pasta, que forneceu informações falsas à Polícia Militar do DF (PMDF), desviando o efetivo policial para outro local, permitindo que os atos de vandalismo ocorressem sem resistência significativa.
Te podría interesar
Já nos eventos de 8 de janeiro, o relatório detalha como agentes da SSP/DF retiveram informações críticas, dificultaram o acionamento das forças de segurança e criaram um cenário que favoreceu os invasores das sedes dos Três Poderes.
Os envolvidos e suas ações
A PF aponta como principais responsáveis pela facilitação dos atos golpistas:
- Anderson Torres (ex-secretário de Segurança Pública do DF): viajou para os EUA dias antes dos ataques, levantando suspeitas de conivência. Documentos apreendidos em sua residência indicam que ele tinha conhecimento prévio das ameaças e optou por não agir para evitá-las.
- Fernando Oliveira (ex-secretário-executivo da SSP/DF): negligenciou o repasse de informações estratégicas à PMDF, comprometendo a capacidade de resposta das forças de segurança.
- Marília Alencar (ex-chefe de inteligência da SSP/DF): reteve relatórios que alertavam para os riscos iminentes e manteve contato com grupos bolsonaristas suspeitos de participação nos atos.
- Cíntia Queiroz (ex-subsecretária da SSP/DF): além de fornecer informações incorretas em 12/12, omitiu dados críticos sobre a mobilização golpista à PMDF, agravando a vulnerabilidade da segurança pública no 8/1.
Omissões e facilitação dos atos golpistas
O relatório conclui que as falhas da SSP/DF não foram meramente operacionais, mas sim parte de uma estratégia coordenada para permitir que os ataques ocorressem com o mínimo de resistência policial. A ausência de uma resposta eficiente e a demora no acionamento da Força Nacional reforçam a hipótese de conivência de setores da SSP/DF com a intentona golpista.
Novas diligências e desdobramentos da investigação
Com a inclusão do relatório nas PETs em curso, a PF e a PGR agora buscam determinar o grau de envolvimento de cada um dos citados, aprofundar as conexões com setores das Forças Armadas e identificar eventuais articulações com o governo Bolsonaro. As novas diligências incluem:
- Depoimentos adicionais de agentes de segurança e políticos que possam ter conhecimento da articulação interna;
- Análise das comunicações internas da SSP/DF nos dias que antecederam os ataques;
- Verificação de eventuais conexões entre os envolvidos e financiadores dos atos golpistas.
A investigação reforça a tese de que os ataques de 8 de janeiro não foram espontâneos, mas sim parte de uma tentativa coordenada de ruptura democrática. A expectativa é que novos indiciamentos ocorram nos próximos meses, com acusações que podem incluir omissão dolosa, facilitação de crimes e participação ativa na tentativa de golpe de Estado