CLEBER LOURENÇO

Inoperância da Subsecretaria de Inteligência do DF maximizou os danos de 8 de janeiro, diz PF

Relatórios ignorados, comunicação ineficaz e falhas estratégicas na gestão de Marília Alencar facilitaram a escalada da destruição nos prédios dos Três Poderes.

Marília Alencar, ex-subsecretária de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do DF.Créditos: Silvio Abdon / CLDF
Escrito en BRASIL el

A Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SI/SSP-DF), sob o comando de Marília Alencar, desempenhou um papel crítico — mas ineficaz — durante os eventos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023. Relatórios da Polícia Federal e depoimentos apontam que a inoperância e as falhas de gestão da subsecretaria contribuíram diretamente para o agravamento da crise, viabilizando e potencializando a destruição nos prédios dos Três Poderes.

Informes recebidos pela Subsecretaria de Inteligência apontavam claramente o risco de atos violentos. Às 9h38 do dia 7 de janeiro, um alerta indicava que grupos organizados se deslocavam para Brasília com a intenção de praticar atos violentos, incluindo o transporte de pés-de-cabra e lideranças já conhecidas por apologia ao assassinato de autoridades. Esses dados, provenientes da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), foram repassados por Leonardo Singer diretamente a Marília Alencar, que os encaminhou ao coronel Henrique, subordinado na SI.

Apesar da gravidade das informações, o fluxo de comunicação entre a SI e outros órgãos foi comprometido. O Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e outras entidades estratégicas não foram informados sobre os alertas, violando os princípios de integração e coordenação previstos na Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança Pública (DNISP). Além disso, o Plano de Ações Integradas (PAI) nº 02/2023, elaborado para lidar com as manifestações, foi negligenciado, como apontam depoimentos e relatórios oficiais.

Ativação tardia e falta de estratégia

A decisão de ativar a Célula Integrada de Inteligência somente às 15h de 8 de janeiro, quando os ataques já estavam em curso, é descrita como um dos maiores erros estratégicos da subsecretaria. Segundo os documentos, a ativação física e presencial da célula na sede da SI ocorreu às 16h, quando manifestantes já haviam invadido o Congresso Nacional e iniciado a destruição no Palácio do Planalto e no Supremo Tribunal Federal.

“Não houve articulação efetiva com outros órgãos de inteligência integrantes do SISBIN, conforme disciplina aplicável,” aponta o relatório da Polícia Federal. Essa ausência de coordenação permitiu que informações cruciais permanecessem restritas a canais internos, sem que medidas preventivas fossem adotadas pelos órgãos responsáveis.

Lacunas operacionais e ausência de integração

O Relatório de Inteligência nº 06/2023, produzido pela SI em 6 de janeiro, detalhava a convocação para a “Tomada de Poder pelo Povo” e alertava sobre a participação de indivíduos armados. Apesar de ser entregue ao gabinete do secretário de Segurança Pública do DF, Fernando de Souza Oliveira, não foi amplamente difundido ou tratado com a devida prioridade. Depoimentos indicam que o documento foi ignorado por setores cruciais, como o Comando Militar do Planalto e o GSI, que sequer participaram da elaboração do PAI nº 02/2023.

O relatório do interventor Ricardo Cappelli, nomeado após a intervenção federal, concluiu que as falhas da SSP/DF — especialmente da Subsecretaria de Inteligência — foram determinantes para a escalada da destruição. “A ausência de medidas preventivas adequadas e a ineficiência na articulação entre os órgãos contribuíram diretamente para o agravamento da crise,” destacou o documento.

Impacto e responsabilidades

A inoperância da Subsecretaria de Inteligência permitiu que manifestantes avançassem de forma organizada e sem resistência significativa. A falta de articulação entre os órgãos de inteligência e a ausência de ações preventivas fortaleceram o clima de descontrole e facilitaram a destruição do patrimônio público.

Marília Alencar foi exonerada após a intervenção federal, mas as consequências de sua gestão continuam sendo analisadas em relatórios e investigações. O caso destaca a necessidade urgente de reformular os processos de inteligência e articulação no âmbito distrital, garantindo que episódios como o de 8 de janeiro não se repitam.

“Se o fluxo de informações tivesse seguido os padrões estabelecidos pela DNISP, muitas das ações poderiam ter sido neutralizadas antes de causar danos irreparáveis,” conclui o relatório da Polícia Federal.

O custo da ineficiência

A gestão de Marília Alencar expôs as fragilidades estruturais do sistema de inteligência da SSP/DF, revelando como a falta de coordenação e respostas tardias podem amplificar crises e colocar em risco a estabilidade institucional. Os eventos de 8 de janeiro são um alerta claro para a necessidade de reformulações profundas nas políticas de segurança e inteligência.

 

Reporte Error
Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar