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Bolsonaro ajudou na transição? Defesa usa fala de José Múcio para contestar inquérito do golpe

Declaração do ministro da Defesa sobre a mediação do ex-presidente com as Forças Armadas reforça estratégia jurídica e política do bolsonarismo

Bolsonaro ajudou na transição? Defesa usa fala de José Múcio para contestar inquérito do golpe.Declaração do ministro da Defesa sobre a mediação do ex-presidente com as Forças Armadas reforça estratégia jurídica e política do bolsonarismo.Créditos: Agência Brasil (Joédson Alves)
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Aliados e advogados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) comemoraram a entrevista do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, ao programa Roda Viva, exibido na segunda-feira (10). Na conversa, Múcio revelou que recorreu a Bolsonaro, em dezembro de 2022, para facilitar o diálogo com os comandantes das Forças Armadas e garantir uma transição tranquila de governo.

De acordo com o ministro, os chefes militares resistiram a recebê-lo, o que o levou a procurar o então presidente.

“Foi quando recorri ao presidente Bolsonaro, que estava em Brasília. Fomos colegas por muitos anos, sempre tivemos uma boa relação. Disse a ele: ‘Sou o novo ministro da Defesa, queria que você me ajudasse a fazer uma transição tranquila. Vai ser bom para o novo governo, vai ser bom para o seu governo, que está terminando. Você me conhece, eu não sou de conflito’. Ele telefonou para os três comandantes.”

Trunfo para a defesa de Bolsonaro

A fala foi imediatamente apropriada por integrantes do núcleo jurídico de Bolsonaro. O advogado Celso Vilardi afirmou ao Blog da Andréia Sadi, no g1, que usará o trecho da entrevista na defesa do ex-presidente no inquérito do golpe, conduzido pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

“É, obviamente, incompatível a intenção de dar um golpe e determinar a transmissão do comando militar”, disse Vilardi.

A mesma linha de argumentação já havia sido utilizada em 2024 por Fábio Wajngarten, assessor próximo de Bolsonaro, que afirmou nas redes sociais que o ex-presidente não poderia ter planejado um golpe, pois antecipou e nomeou os comandantes das Forças Armadas indicados pelo governo Lula.

Agora, trechos da entrevista de Múcio estão sendo usados estrategicamente pela defesa de Bolsonaro, tanto no campo jurídico quanto no político.

Resistência militar e o papel de Bolsonaro

Segundo Múcio, Bolsonaro atendeu ao seu pedido e telefonou para os três comandantes das Forças Armadas. O então chefe da Marinha, almirante Almir Garnier, foi o único a se recusar a recebê-lo.

Investigações da Polícia Federal apontam que Garnier também foi o único comandante que, na época, manifestou disposição para colocar suas tropas à disposição de Bolsonaro, caso o então presidente tentasse impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva por meio de uma disputa judicial.

Múcio agradece atuação dos militares no 8 de Janeiro

Durante a entrevista, José Múcio Monteiro também agradeceu aos militares pela atuação no dia 8 de janeiro de 2023, quando manifestantes golpistas invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes.

Na avaliação do ministro, a posição das Forças Armadas foi determinante para que a tentativa de golpe não se concretizasse.

“Do dia 8 até abril, eu me senti órfão. Porque a direita estava zangadíssima, pois os militares não aderiram ao golpe, e a esquerda, muito zangada, achava que os militares tinham criado aquele golpe. Na realidade, nós devemos a eles o fato de o golpe não ter acontecido no dia 8”, declarou Múcio.

Em setores do governo Lula, há outra leitura sobre os acontecimentos de janeiro de 2023. A primeira-dama Janja Lula da Silva é frequentemente creditada por ter evitado um desdobramento mais grave ao atuar para que o presidente não decretasse a Garantia da Lei e da Ordem (GLO). 

Caso a medida tivesse sido adotada, as Forças Armadas assumiriam o controle da segurança na Esplanada dos Ministérios, o que, segundo críticos, poderia ter alterado o curso da resposta institucional ao episódio.

Assista a entrevista da íntegra

 

 

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