A PEC dos militares, que busca limitar a participação política de militares da ativa e reforçar a separação entre as esferas militar e política, está sendo considerada o último grande trabalho de José Múcio Monteiro à frente do Ministério da Defesa. Segundo membros do governo, principalmente do Palácio do Planalto, a entrega, aprovação e implementação da PEC 42/2023 marcariam a saída do ministro do governo.
Embora José Múcio tenha sinalizado diversas vezes ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e em entrevistas públicas que não tem interesse em permanecer no cargo, a confiança que Lula deposita nele tem sido fundamental para mantê-lo na função. Múcio é visto como uma figura essencial para estabilizar a relação entre o governo e as Forças Armadas, que ainda é marcada por desconfianças mútuas. A permanência do ministro no governo é percebida como uma necessidade estratégica para consolidar essa transição delicada.
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Condução serena em episódios críticos
Desde o início de seu mandato como ministro da Defesa, José Múcio esteve à frente de situações delicadas envolvendo os militares, incluindo as tensões geradas após a gestão bolsonarista e episódios como a prisão de Walter Braga Netto. A condução serena de Múcio nesses momentos tem reforçado sua importância para o governo, apesar de ele já ter expressado a intenção de se retirar do cargo.
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Múcio já deixou bem claro em diversos momentos que ele se sente "no limite" de sua atuação, considerando que já cumpriu seu papel institucional. Para Múcio, sua principal missão foi restabelecer o diálogo entre o governo e os militares, evitando uma ruptura institucional após os conflitos dos últimos anos.
Fontes do Palácio do Planalto destacam que Lula tem resistido às pressões internas e externas para substituir Múcio. O presidente considera o ministro uma figura-chave para manter o equilíbrio e evitar tensões mais profundas com as Forças Armadas. A saída de Múcio está sendo alinhada à entrega da PEC dos militares como um marco de encerramento de sua atuação no governo.
PEC como legado estratégico
A PEC dos militares, atualmente em tramitação no Senado, é vista como uma ferramenta para estruturar uma nova fase na relação entre civis e militares. Apesar disso, o texto do governo é visto como uma forma de conciliação, já que outros textos como o dos deputados Carlos Zarattini (PT-SP) e Alencar Santana (PT-SP), que defendem propostas mais amplas e restritivas para evitar a atuação de militares na política.
Enquanto o governo busca avançar com a PEC 42, a saída de José Múcio do Ministério da Defesa abre questionamentos sobre quem poderia sucedê-lo na condução desse diálogo estratégico. Para Lula, a escolha do sucessor será crucial para garantir que o legado de Múcio seja mantido e que a relação com as Forças Armadas não volte a se deteriorar.
Com a retomada das atividades legislativas em fevereiro, o governo espera acelerar as negociações para aprovar a PEC 42 e, assim, definir o momento de transição na liderança do Ministério da Defesa.