No dia 1° de dezembro deste ano a Marinha do Brasil postou um vídeo institucional em seus perfis oficiais nas redes que foi um dos maiores atos de insubordinação ao poder político civil de que se tem notícia nas últimas décadas. Na peça, uma crítica ácida e nada indireta aos cortes nas mamatas dos militares propostos pelo governo, os marinheiros aparecem como os únicos que trabalham de verdade, enquanto civis vivem uma vida de festas e esbórnia. Lula ficou furiosíssimo.
Os autores do tal vídeo usavam como desculpa o Dia do Marinheiro, comemorado no dia 13 do mesmo mês, para a veiculação da propaganda institucional, mas era claro que as imagens eram um ato de provocação e desobediência ao presidente da República, que jamais permitiu tal petulância e que determinou a revisão das mordomias da caserna. A partir do fato, Lula estava terminantemente decidido a demitir o comandante da Marinha, o almirante Marco Sampaio Olsen, que deu aval e autorizou o vídeo desavergonhado.
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Quando a coisa parecia superada, semanas depois, Lula seguia engasgado com Olsen e insistia a todos os interlocutores e auxiliares do governo que não tinha jeito, ia mesmo demiti-lo. Houve então uma reunião previamente marcada com o ministro da Defesa, José Múcio, para tratar de outros temas, no período que o presidente passou em São Paulo após dois procedimentos cirúrgicos na cabeça.
Lula já vinha, novamente, com a decisão de colocar o almirante para fora do cargo, mas acabou surpreendido com um comunicado do ministro na reunião desta semana: ele, Múcio, queria deixar a pasta em breve. É óbvio que tal cenário mudava um pouco as coisas em relação a demitir Olsen, mas não seria o suficiente para demover o presidente de tal ideia. Foi aí que o ministro da Defesa usou um argumento que fez Lula mudar de posição.
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Múcio explicou que, primeiramente, trocar o comando da Marinha ao mesmo tempo em que trocaria o chefe do Ministério da Defesa deixaria tudo ainda mais complicado. Neste caso, para evitar uma nova crise, seria melhor que ele, um civil, saísse do cargo, em vez do almirante. E haveria ainda outra questão.
A Marinha é a força militar com mais integrantes do Alto Comando com graves inclinações reacionárias. Na prática, o almirantado é o grupo dos oficiais generais das Forças Armadas do Brasil que mais odeia mortalmente o PT, Lula e qualquer coisa ligada à esquerda, servindo como bajuladores de Jair Bolsonaro (PL) e da turba de fundamentalistas da extrema direita que cerca o ex-presidente.
Múcio convenceu Lula de que a demissão de Olsen seria uma nova crise com a Marinha e mostrou que os outros almirantes que poderiam vir na linha de sucessão para ocupar o cargo máximo da organização militar seriam figuras ainda mais difíceis, o que por fim fez o presidente enterrar, pelo menos por ora, a ideia de demitir o comandante.