A deputada federal Gleisi Hoffmann, presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), foi às redes sociais nesta segunda-feira (2) para criticar o vídeo institucional da Marinha do Brasil que contém uma ameaça velada ao governo Lula e provocação à sociedade civil.
A peça publicitária em questão, divulgada no último domingo (1), faz parte das comemorações pelo Dia do Marinheiro, celebrado em 13 de dezembro, mas passa passa o recado de que os militares da Marinha não aceitarão perder privilégios, apenas alguns dias após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciar um pacote de medidas de corte de gastos que atingirá, além de outras áreas, as Forças Armadas.
Te podría interesar
O vídeo ainda representa uma clara provocação à sociedade civil: a mensagem dá conta de que militares trabalhariam "duro" e em situações arriscadas enquanto a população no geral viveria em situação confortável.
Para Gleisi Hoffmann, o vídeo da Marinha é um "grave erro". "Ninguém duvida que o serviço militar exige esforço e sacrifícios pessoais, especialmente da tropa que se arrisca nos treinamentos e faz o serviço pesado. Isso não faz dos militares cidadãos mais merecedores de respeito do que a população civil, que trabalha duro, não vive na farra", escreveu a deputada.
Te podría interesar
A parlamentar ainda fez um alerta, classificando como "grave" o fato do vídeo ter sido divulgado logo após o indiciamento do ex-comandante a Marinha, Almirante Almir Garnier, por tentativa de golpe de Estado.
"Também grave que o vídeo ofensivo seja divulgado no momento em que um ex-comandante da Marinha é indiciado por participar do plano de golpe de Jair Bolsonaro", emendou.
Vídeo é rebatido por "nota da comunidade"
Revoltados com o vídeo da marinha, usuários do X (antigo Twitter) fixaram uma "nota da comunidade" na publicação em que reforçam os privilégios dos militares.
"O vídeo apresentado não reflete a realidade. Os militares da Marinha recebem benefícios e salários superiores à média da população brasileira. Por outro lado, grande parte dos brasileiros enfrenta jornadas de trabalho longas e exaustivas, com pouco tempo para descanso", diz a nota.
Entenda
A população brasileira está indignada com um vídeo divulgado neste domingo (1º) pelos perfis oficiais da Marinha do Brasil nas redes sociais.
Trata-se de uma peça publicitária que, supostamente, integra as comemorações do Dia do Marinheiro. Contudo, a data é celebrada apenas em 13 de dezembro, o que aumenta o estranhamento. O vídeo transmite a mensagem de que os membros da Marinha não aceitariam perder "privilégios". Para muitos usuários nas redes sociais, o conteúdo é uma provocação à sociedade civil e uma ameaça velada ao governo do presidente Lula.
Com duração de 1 minuto e 16 segundos, o vídeo alterna cenas de civis em atividades cotidianas, como momentos em família, festas ou viagens, com imagens de militares da Marinha em treinamentos intensos ou operações oficiais. A mensagem implícita é que a vida dos militares seria mais difícil e arriscada, enquanto os civis viveriam de forma mais "confortável". A trilha sonora de suspense reforça essa contradição, sugerindo que é a sociedade civil, e não os militares, quem realmente goza de "privilégios".
No final do vídeo, uma jovem militar questiona em tom irônico: "Privilégios? Vem pra Marinha". Assista abaixo:
Para muitos, a peça publicitária representa uma ameaça ao governo Lula, principalmente por ter sido divulgada apenas dois dias após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciar um pacote de medidas para corte de gastos. O pacote inclui reduções no orçamento das Forças Armadas e modificações nos regimes de previdência e pensão dos militares.
Nos bastidores, integrantes das Forças Armadas têm manifestado insatisfação com as propostas do governo. O vídeo reforça a percepção de que a Marinha não estaria disposta a abrir mão de seus privilégios, tornando ainda mais tensa a relação entre os militares e o Executivo.
O que está por trás
O vídeo com suposta ameaça velada ao governo Lula e provocação à sociedade civil por conta do possível corte de privilégios dos militares seria uma resposta do comando da Marinha às reclamações de oficiais sobre a falta de reação diante do pacote de corte de gastos proposto pelo ministro Fernando Haddad.
Na última semana, Haddad anunciou um pacote fiscal com o objetivo de economizar R$ 70 bilhões nos próximos dois anos. Entre as medidas que afetam diretamente as Forças Armadas, estão a adoção de uma idade mínima progressiva de 55 anos para militares entrarem na reserva remunerada, a extinção da chamada "morte ficta", que permitia a concessão de pensões a dependentes de militares expulsos, e limitações na transferência de pensões para herdeiros.
Outra medida proposta pelo governo é a introdução de uma contribuição de 3,5% dos salários dos militares ao Fundo de Saúde. O impacto financeiro dessas mudanças é uma economia estimada em R$ 2 bilhões anuais.
A Marinha foi a primeira força armada a divulgar aos seus oficiais, através do Boletim de Ordens e Notícias, as propostas do governo que atingiriam os militares. Os oficiais ficaram indignados com as mudanças, especialmente com a implementação da idade mínima para aposentadoria e o aumento da contribuição descontada nos salários destinada ao Fundo de Saúde.
Segundo a "Revista Sociedade Militar", que se dedica à cobertura de temas relacionados às Forças Armadas e à segurança pública, oficiais estão indignados com uma suposta "resistência" do alto comando em reagir aos cortes propostos pelo governo Lula. Mensagens difundidas por militares em redes sociais e aplicativos de mensagens dão conta desse descontentamento.
“Se há arrocho, deve ser para todos: Judiciário, políticos etc.", diz uma dessas mensagens, divulgadas pela "Revista Sociedade Militar".
“Os oficiais generais estão com seus soldos garantidos corrigidos muito acima da inflação, pois seus salários são equiparados a salários de ministros. Não estão nem aí para os nossos baixos salários que não acompanham a inflação. Por que iriam se incomodar com os salários de seus subordinados?", questiona outro militar.
O vídeo divulgado pelos perfis oficiais da Marinha seria, portanto, uma resposta à sua tropa diante de tal descontentamento.