NÓS E ELES

Marinha decidiu: somos folgados e inimigos

Comercial reflete o pensamento das Forças Armadas, que se julgam no direito de tutelar a sociedade civil

Comercial protesta contra tentativa de corte de privilégios das Forças Armadas.Créditos: Reprodução
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O comercial em comemoração ao Dia do Marinheiro - dia 13 de Dezembro - traça uma linha, dividindo o Brasil em duas partes. De um lado, o direito, suponho, estão eles, os defensores da Pátria e do outro, nós, os folgados.

Eles rastejam, nós surfamos. No ouvido deles, alguém grita e fala de morte, no nosso, a doce música do parabéns a você. São eles que garantem nosso direito de ir a uma balada.

Eles e nós.

Não existe nenhum civil acordando as quatro da manhã para ir à roça e, às 10, comendo a fria bóia. Não existe ninguém tirando o sustento do lixo. Se existir é porque não aproveitou as oportunidades. Não existem costureiras, arrumadeiras, motorista de aplicativo, não existe pé no chão. E nem havaianas com pregos. 

Somos todos privilegiados.

Isso é o que o comercial, um nítido protesto contra a decisão do governo em criar idade mínima para aposentadoria, 55 anos, e cortar alguns privilégios como transferência de pensão, fala. Mas não é o que os militares pensam.

O buraco é mais fundo.

Como eles são uma casta superior, têm o direito de nos tutelar, a parte menos nobre da sociedade. E como não fazemos nada e cabeça vazia é oficina do Diabo, estamos abertos a ideias esdrúxulas, não condizentes com a sociedade ocidental, judaico-cristã. O comunismo vai nos abduzir.

Precisamos, em um primeiro estágio, sermos defendidos. Se não adiantar, sermos enfrentados. Ao fim e ao cabo, precisamos ser exterminados.

Mesmo que sejamos o Alckmin.

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.

 

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