GOLPISMO

Cúpula Militar ameaça Lula por "saída" de Múcio antes de última reunião ministerial do ano

Presidente comanda reunião que pode ser a última de Múcio no ministério. Insatisfeita com cortes e idade mínima - de 55 anos - para se aposentar, cúpula militar manda recado a Lula pelas páginas d'O Globo

Lula, Múcio e os comandantes das Forças Armadas durante desfile no 7 de Setembro.Créditos: Érico Alves/MD
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Pelas páginas do jornal O Globo, mais precisamente na coluna de Bela Megale, a cúpula das Forças Armadas fez ameaças a Lula antes da reunião ministerial que será conduzida pelo presidente nesta sexta-feira (20), que pode ser a última com a formação atual do ministério.

O encontro, que acontece na Granja do Torto um dia após o presidente receber aval dos médicos para voltar a Brasília, também pode ser o último com a participação do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, que tem insistido com o presidente que quer deixar o governo para retomar sua aposentadoria.

Aos 76 anos e com trajetória política que teve início no Arena, partido criado em 1965 para dar sustentação à recém implantada Ditadura Militar, Múcio é amigo de longa data de Lula, de quem chegou a ser ministro-chefe das Relações Institucionais entre novembro de 2007 e setembro de 2009.

O Ministro conta com passe livre no Planalto por ser considerado por Lula peça-chave para acalmar os ânimos dos militares de alta patente na tensa transição com o governo Jair Bolsonaro (PL), que buscava apoio da cúpula das Forças Armadas para desencadear o golpe de Estado.

Em reunião recente com o presidente, Múcio teria relatado que sua missão no cargo chegou ao fim e expressou seu desejo de voltar à aposentadoria. Lula teria aconselhado o ministro a pensar melhor na situação nas duas semanas de férias que terá no Recife a partir desta sexta-feira.

No entanto, por meio da coluna de Bela Megale, a cúpula das Forças Armadas mandou um recado em tom de ameaça a Lula.

"A leitura de integrantes da Marinha, Aeronáutica e Exército é que, se Múcio de fato deixar a cadeira, a relação entre os militares e o governo federal terá que recomeçar do zero", diz a jornalista da Globo, com trânsito na cúpula militar.

Segundo Bela Megale, Múcio teria confidenciado a interlocutores que "a relação dos militares com o governo retrocedeu", especialmente por causa da inclusão das Forças Armadas nos cortes promovidos pelo pacote de ajuste fiscal.

O ponto de maior tensão, no entanto, seria a decisão de rever os benefícios da aposentadoria dos militares, com a estipulação da idade mínima de 55 anos para que se passar para a reserva.

É na caserna e nos Clubes Militares onde se encontram as células golpistas do chamado Partido Militar Brasileiro, organização clandestina que ganhou força com a ascensão de Bolsonaro ao poder.

Além disso, há uma insatisfação de uma parcela da cúpula militar com o avanço das investigações sobre o golpe e o indiciamento de 25 militares na Organização Criminosa de Bolsonaro.

A prisão de Braga Netto, um general 4 estrelas, na última semana teria dado indícios que a caçada aos militares golpistas vai continuar "manchando" a imagem da corporação.

Para a cúpula militar, a saída de Múcio - principal interlocutor no Planalto - desmontaria todos os acordos já feitos com o governo Lula.

Há ainda o temor sobre quem será o substituto de Múcio no cargo. Um dos cotados é o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), que sinalizaria a importância no Planalto em manter uma boa relação com os militares.

No entanto, qualquer nome que não seja Múcio vai gerar desconfiança na cúpula militar, que tem no atual ministro e na equipe dele total confiança para defesa de seus interesses junto a Lula.

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