MUDANÇAS

Gleisi no Planalto, Pimenta líder e Guimarães no comando do PT

Disputas internas revelam necessidade de endurecimento da articulação política; Centrão resiste à nomeação de Pimenta para liderança do governo na Câmara

Créditos: Pedro França/Agência Senado
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Nos corredores do Palácio do Planalto e entre parlamentares aliados, cresce a expectativa por uma reforma ministerial e ajustes na articulação política do governo Lula. A possível substituição de Wellington Dias no Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social (MDS) e a nomeação de Paulo Pimenta para a liderança do governo na Câmara estão no centro das negociações.

A movimentação ocorre em meio a críticas sobre a atuação de Wellington Dias no MDS e a avaliação de que o governo precisa de uma liderança mais combativa na Câmara para enfrentar as pressões do Congresso. Paralelamente, a Secretaria-Geral da Presidência (SG) vive um clima de instabilidade, com rumores de que Márcio Macedo pode deixar o cargo e Gleisi Hoffmann pode assumir a pasta.

Paulo Pimenta e a resistência do Centrão à sua nomeação

A possível escolha de Paulo Pimenta, atual ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), para a liderança do governo na Câmara gera debate dentro do Planalto e entre os aliados no Congresso. O movimento, no entanto, encontra resistência, principalmente do Centrão, que prefere um nome mais flexível nas negociações.

Um interlocutor governista resume a dificuldade de Pimenta para assumir a posição: "O Pimenta vai enfrentar muita resistência porque o que é Pimenta arde". 

Dentro do próprio governo já é de conhecimento que há muita, desde 2023, as críticas a liderança do deputado José Guimarães (PT), principalmente entre as Assessorias Parlamentares da base, há uma torcida pela mudança do Líder do Governo da Câmara que acumula queixas em diversos Ministérios e no Palácio.

A necessidade de uma postura mais firme na articulação política é um dos argumentos usados por defensores da mudança. Nos bastidores do Palácio do Planalto, a estratégia tem sido justificada com uma comparação entre perfis de atuação:

"Quem você bota para comunicar, para ser o teu comunicador? Um gaúcho duro, firmão, briguento ou um baiano malemolente, sorridente, acessível. A comunicação você bota o baiano malemolente, sorridente e acessível. Mas para brigar pelo governo no Congresso, na Câmara, eu acho que está precisando de um gaúcho firmão ali, um gaúcho dureza".

Esse argumento reflete a avaliação interna de que a articulação política do governo tem sido excessivamente conciliadora, o que tem gerado insatisfações dentro do PT e da base aliada. Um assessor próximo às negociações reforça essa percepção: "O governo precisa brigar mais pelas coisas. Não pode sempre ceder tão facilmente. Se vai fechar um acordo, tem que negociar brigando, defendendo o governo".

Outro interlocutor critica a postura adotada nas negociações recentes: "Hoje, quando um parlamentar pede 50, o governo oferece 60 e fecha em 70. Isso tem que mudar".

A possível nomeação de Pimenta indicaria um esforço do governo para adotar uma postura mais combativa, mas o movimento enfrenta resistências. "O Centrão está acostumado com um governo que não impõe dificuldades nas negociações. Pimenta não é desse tipo", avalia uma fonte do Planalto.

A coluna procurou o deputado Paulo Pimenta para comentar sua possível nomeação para a liderança do governo na Câmara, mas ele afirmou que não iria falar sobre o tema.

Insatisfação com Wellington Dias e a possibilidade de Antônio Brito no MDS

Enquanto a disputa pela liderança do governo na Câmara se intensifica, a permanência de Wellington Dias no comando do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social (MDS) tem sido alvo de críticas dentro da base governista. Há reclamações sobre sua dificuldade de articulação com o Congresso e a falta de um trabalho político mais eficiente para capitalizar a pasta dentro do governo.

Um parlamentar do PT resume a insatisfação: "Ele não tem um trânsito tão bom no parlamento, quase nunca está no Congresso, e a base reclama muito dele".

A possível substituição de Dias tem ganhado força, e o nome que surge com mais força para ocupar o cargo é o de Antônio Brito (PSD), atual líder do partido na Câmara. A indicação de Brito é vista como uma forma de atender a demandas do PSD, que tem cobrado mais espaço dentro do governo.

Aliados destacam que Brito possui experiência na área social e poderia dar mais pragmatismo ao MDS. "Ele vem da assistência social, dialoga bem e pode trazer uma visão mais pragmática para o Bolsa Família", afirma um interlocutor.

A possível entrada de Brito no MDS também reflete uma crítica interna dentro do governo sobre o tratamento do Bolsa Família. "Ninguém toca no Bolsa Família, nem para aprimorar, nem para tentar reverter alguma coisa. É quase uma ciência, um temor reverencial", diz um membro da articulação política próximo às negociações. A avaliação é de que a pasta precisa de uma abordagem mais prática e menos dogmática.

Possível ida de Gleisi Hoffmann

Outro ponto de tensão dentro do governo está na Secretaria-Geral da Presidência (SG), comandada por Márcio Macedo. Relatos indicam que o ambiente interno da pasta tem sido de instabilidade, especialmente após reportagens na imprensa que expuseram tensões dentro do governo.

Os rumores sobre a saída de Márcio Macedo cresceram, e o nome de Gleisi Hoffmann voltou a ser ventilado como uma possível substituta. "Essa história da Gleisi na SG vem de muito tempo", afirmou uma fonte próxima ao governo, lembrando que a possibilidade já era discutida desde novembro de 2023. Outra fonte próxima de um importante senador petista afirmou que "desde a transição de governo, a SG estava desenhada para ela [Gleisi], mas a pedido do presidente Lula, ela permaneceu no PT.

Dentro da SG, há uma percepção de que a disputa por cargos e influência tem intensificado os conflitos. "Não é nem pelo trabalho ser ruim, é captura mesmo. Essa turma facilita negociações para o Centrão e continua na carreira na Câmara, amanhã estão em outros cargos. Linhas tênues", relatou um interlocutor do Planalto.

Deputados da bancada petista falaram em caráter reservado à coluna e deram como certa a ida de Gleisi para a SG, com isso, Guimarães assumiria a presidência do PT interinamente, abrindo espaço para que Pimenta ocupe liderança de governo ocupar o lugar dele.

Articulação política do governo passa por um momento decisivo

O governo enfrenta um momento de reavaliação sobre sua articulação política, com mudanças sendo cogitadas tanto no MDS quanto na liderança do governo na Câmara.

A possível saída de Wellington Dias e a nomeação de Antônio Brito representariam um gesto do Planalto para reforçar a base no Congresso. Já a substituição do líder do governo na Câmara por Paulo Pimenta indicaria um endurecimento das negociações políticas, mas também traria embates com o Centrão.

Enquanto isso, a Secretaria-Geral da Presidência segue sob pressão, com especulações sobre a entrada de Gleisi Hoffmann no comando da pasta.

O Planalto terá que decidir se mantém a postura atual de conciliação ou se adota uma linha mais combativa para enfrentar os desafios políticos do próximo ano. Nos bastidores, essa escolha será um termômetro da capacidade do governo de administrar sua base e manter a governabilidade.

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