FÓRUM ONZE E MEIA

Esquerda precisa retomar o trabalho ideológico para combater a desinformação, diz Sérgio Amadeu

Sociólogo analisa a atuação do campo progressista, dentro do cenário de disputa com a extrema direita, em relação às ondas de fake news

Sérgio Amadeu, sociólogo e professor da UFABC.Créditos: Tânia Rego/Agência Brasil
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No Fórum Onze e Meia desta sexta-feira (24), o sociólogo e professor Sérgio Amadeu debateu sobre os ataques de desinformação e fake news da extrema direita contra o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele também comentou sobre a nova organização do fascismo no mundo, principalmente com a eleição do presidente Donald Trump nos Estados Unidos, e como esse novo movimento tem como principal forma de mobilização a desinformação. 

O sociólogo afirmou que a extrema direita, ao utilizar como estratégia de atuação política a disseminação de fake news, trabalha com traços do senso comum que podem ser usados para intensificar o reacionarismo. Por outro lado, há muitos traços no senso comum que são solidários e colaborativos, e que deveriam ser elaborados pela esquerda e pelo campo progressista. 

Amadeu cita a escritora Hannah Arendt, defensora da ideia de que o fascismo vem do homem comum e de seus traços, e relaciona isso com a realidade brasileira, que ainda tem uma grande dificuldade de eliminar o analfabetismo, de ter um bom ensino nas escolas e sofre com ataques à educação.

"Nesse cenário, a gente tem um problema que é a extrema direita que trabalha o senso comum e, portanto, a ideologia. Ela estimula traços desse senso comum e diz que todo mundo pode ter o comportamento que tiver, inclusive nas redes, mesmo que o que ela eseja propondo seja estimular coisas irreais e mentirosas", diz Amadeu. "Ela não controla o comportamento porque ela sabe que se estimular essa ideologia, o comportamento será a favor dela", acrescenta.

"Mas o que a gente faz? A gente vai só no comportamento. A gente vai só na ação e deixa a ideologia para eles. Então a gente não trabalha os traços fundamentais do senso comum que são traços mostrando que quando nós estamos solidários, nós podemos avançar mais", completa o professor.

"O traço dessa extrema direita trumpsta, bolsonarista e fascista é que a desigualdade gera o progresso, que as diferenças, a pobreza, fazem com que aquele cara que está na miséria queira fugir daquela condição, como se fosse verdade, como se o fato de o cara ser miserável é porque ele quer, porque não quer fugir daquela função, coisas que também estão no senso comum e que a gente precisa mostrar que não [estão corretas]", defende o sociólogo. 

"A esquerda precisa retomar um trabalho ideológico, que é um trabalho importante do ponto de vista comunicacional", defende Amadeu. "Só a comunicação não vai nos salvar", alerta.

O professor exemplifica a situação com o caso da taxação das grandes fortunas proposta pelo ministro da Economia, Fernando Haddad, um dos principais alvos de desinformação pela extrema direita. Amadeu defende que antes de fazer propostas como essa, é preciso ter "muita segurança" para mostrar para as pessoas da classe média que elas não serão prejudicadas, mas favorecidas com a redução dos impostos. Isso porque, do outro lado, você tem a extrema direita com uma máquina de fake news.

"Muitas vezes a extrema direita, que é defensora desses privilegiados, dos poderosos que pagam menos, ela vai convencer que cobrar o devido imposto dos ricos vai prejudicar a classe média. Então, para chegar a uma proposta dessa, você precisa de muita segurança para as pessoas de classe média falarem 'bom, vai cair o meu imposto, vai cair o impostos dos mais pobres e, até que enfim, os caras ricos vão ter que pagar o que devem'". 

"O Haddad tem proposições muito corretas, mas talvez ele precise tomar um pouco de cuidado com a ideia da justiça da correção, que não resolve o problema na política. Não resolve porque muitas vezes você tem ao seu lado a verdade, tem valores importantes, mas tem contra você uma máquina profissional de marketing e agora a complacência e o arranjo das big techs", destaca Amadeu.

Confira a entrevista completa do sociólogo Sérgio Amadeu ao Fórum Onze e Meia abaixo.

 

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