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'Elon Musk vai ter que recuar porque o Brasil não é seu quintal', assegura Sérgio Amadeu

Especialista em redes digitais, sociólogo avalia que, para o bilionário dono do X, "a democracia é uma entrave ao poder da classe dominante"

Sociólogo Sérgio Amadeu analisa ameaças de Elon Musk à Justiça brasileira.Créditos: Reprodução
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O sociólogo Sérgio Amadeu, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC) e um dos maiores especialistas em redes digitais do país, avalia que o bilionário Elon Musk, dono do X (o antigo Twitter), deve recuar em suas ameaças e ataques ao judiciário brasileiro. 

Nos últimos dias, o empresário tem se somado à extrema direita brasileira na tentativa de desqualificar a Justiça do Brasil e vender a ideia de que há uma "ditadura judicial" no país. Musk provocou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e prometeu reativar contas de extremistas que haviam sido bloqueadas por ordem do magistrado, após recorrentes episódios de divulgação de fake news e discurso de ódio. Esses extremistas alvos do STF são investigados como membros de milícias digitais, no âmbito do inquérito das fake news. 

Após os ataques de Musk, o ministro Alexandre de Moraes, inclusive, decidiu investigar o bilionário e incluí-lo no inquérito das fake news por “dolosa instrumentalização criminosa.” Ele também proibiu a rede X de reativar perfis tirados do ar por decisão judicial. 

Em entrevista à Fórum, o sociólogo Sérgio Amadeu avaliou que Elon Musk "tem uma concepção de liberdade de expressão que não é democrática".

"A liberdade de expressão para o Elon Musk é o direito dos poderosos exercerem, sem nenhum tipo de bloqueio, sem nenhum tipo de outra consideração, o seu poder, principalmente poder econômico", analisa Amadeu. Segundo o especialista em redes digitais, Elon Musk permite, em sua rede, mentiras sobre diversos assuntos "porque, para ele, a democracia é uma entrave ao poder da classe dominante, ao poder daqueles que têm dinheiro". 

A "liberdade" de Elon Musk 

Sérgio Amadeu sustenta que, na concepção errônea de Elon Musk, a liberdade "é sinônimo praticamente de aplicação da força e ele, nesse sentido, não concorda com liberdades democráticas". 

"A liberdade democrática é relacional, é social, considera também a liberdade do outro. E, no nosso caso, a Constituição brasileira não permite discurso de ódio, racismo, misoginia e outros tipos de discriminação que, para o Elon Musk, não faz nenhum sentido bloquear (...) Não é por menos que o Twitter está perdendo muita força, o Twitter agora chama X, e ele está perdendo muita força, o que mostra que o Elon Musk também é um péssimo gestor, um péssimo empresário, e ele está aproveitando esse momento para tentar se tornar o líder da extrema direita e fazer da rede dele uma rede da extrema direita", diz o sociólogo. 

Aqui, não 

Para o especialista em redes digitais Sérgio Amadeu, "não é de se estranhar" que Elon Musk tenha decidido atacar as decisões do judiciário brasileiro, afinal o bilionário é um dos principais CEOs do Vale do Silício," que aderiu às posições neorreacionárias", é "amigo e sócio do Peter Thiel, que é o grande financiador da extrema direita trumpista e norte-americana". 

O sociólogo explica que há "uma guinada de neoliberais" no mundo para aderir a ações antidemocráticas. 

"Então, não é de se estranhar que o Elon Musk enfrente as decisões do judiciário brasileiro. Agora, a verdade é que se ele desrespeitar o judiciário brasileiro, ele está desrespeitando decisões que vão ter, na verdade, consequências muito fortes contra a plataforma dele", opina Amadeu. 

"Ele vai ter que recuar, porque o Brasil não é o quintal do Elon Musk. O Brasil tem Constituição, não tem termos de uso. Nós não estamos a serviço dos interesses desses megabilionários", finaliza.