INVESTIGAÇÃO

Ex-assessor de Moraes é intimado pela PF a depor sobre vazamento de mensagens

Eduardo Tagliaferro chefiou a Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação do TSE na época em que a Corte eleitoral era presidida pelo ministro do STF

Ex-assessor de Moraes é intimado pela PF a depor sobre vazamento de mensagens.Créditos: Reprodução/ Instagram
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A Polícia Federal intimou nesta quarta-feira (21) o ex-assessor do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), Eduardo Tagliaferro, para depor sobre o vazamento de mensagens que serviram de base para uma série de reportagens publicadas no jornal Folha de S. Paulo e que expuseram mensagens privadas sobre processos.

Além de Eduardo Tagliaferro, também foram intimados o cunhado do ex-assessor de Moraes, Celso Luiz de Oliveira, e a esposa de Tagliaferro.

Nos depoimentos, a Polícia Federal quer ouvir os três a respeito das mensagens vazadas. O inquérito foi aberto pelo ministro Alexandre de Moraes após as conversas serem divulgadas.

Eduardo Tagliaferro é um perito que chefiou a Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação (AEED) do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) quando presidido pelo ministro Alexandre de Moraes, período histórico das mensagens vazadas para a Folha.

Preso pelo crime de violência doméstica, Tagliaferro foi demitido do TSE no dia 9 de maio de 2023, mesma data em que foi detido. Posteriormente, o celular de Tagliaferro foi entregue à Polícia Civil de São Paulo pelo seu cunhado. A investigação visa descobrir como as mensagens foram vazadas. Os depoimentos estão marcados para esta quinta-feira (22). 

 

Alexandre de Moraes já suspeitava de Tagliaferro

 

Pouco mais de uma semana após a Folha de S.Paulo tentar emplacar um "escândalo" divulgando conversas de subordinados do ministro, Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e assessores próximos já têm um nome como principal suspeita de ter realizado o vazamento para o jornal da família Frias e para o jornalista Glenn Greenwald, coautor da série de reportagens.

Nas conversas reveladas pela Folha um nome é recorrente: Eduardo Tagliaferro, engenheiro e perito de crimes cibernéticos de sua confiança, alçado por Moraes à chefia da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação (AEED) do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em agosto de 2022.

E é Tagliaferro, segundo Bela Megale no jornal o Globo, o principal suspeito de ter vazado as informações, como a Fórum adiantou no dia 14 de agosto, um dia após a primeira reportagem da Folha.

Como a Fórum antecipou, Moraes suspeita que ex-assessor vazou as conversas justamente para se vingar de sua demissão da AEED.

Tagliaferro foi detido por violência doméstica contra a esposa no dia 8 de maio de 2023 em Caieiras, região metropolitana de São Paulo. Durante a prisão, a arma com que ele havia disparado foi apreendida. O celular dele também ficou 6 dias sob a responsabilidade da polícia de Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos).

No dia 9 de maio, um dia após a prisão, Tagliaferro foi exonerado por Moraes “devido sua prisão em flagrante por violência doméstica e aguardará a rigorosa apuração dos fatos”.

Contrariado, Tagliaferro argumentou à polícia "que jamais colocaria a integridade da família em risco" e que o disparo da arma durante a agressão à esposa teria sido acidental. E nunca retornou à assessoria do TSE.

Ao jornal O Globo, Tagliaferro levantou suspeitas sobre o governo Tarcísio dizendo que "conforme consta em documentos oficiais, seu aparelho celular foi indevidamente apreendido, ficou em posse da Polícia Civil por seis dias e, quando devolvido, ele não acompanhou a dita deslacração do telefone”.

Segundo o ex-assessor de Moraes outro fato importante, ainda desconhecido, é que seu celular foi apreendido em uma delegacia e devolvido em outra. 

Ele afirmou ainda que “conforme vem sendo dito pelo excelentíssimo ministro Alexandre e desembargadores com quem trabalhou, não se preocupa com o teor das mensagens que eventualmente tenham sido obtidas de seu telefone”.

Vazamento

Nas reportagens, Glenn e a Folha afirmam que os 6 gigabites que teriam em mensagens trocadas pelos assessores de Moraes não são frutos de "hackeamento", mas foram entregues ao jornal por uma "fonte".

Conforme a Fórum antecipou, nos bastidores, há duas hipóteses sobre o vazamento dos diálogos, que estariam no celular de Tagliaferro. Uma delas é uma possível "vingança" do ex-assessor de Moraes pela demissão.

A outra hipótese envolve diretamente a deputada extremista Carla Zambelli e a polícia liderada por Tarcísio Gomes de Freitas, que afirmou na quarta-feira (14) que acha que a denúncia da Folha "é um caso que tem que ser apurado com todo rigor e ter as consequências necessárias".

Folha e Glenn Greenwald

Defensora da "Ditabranda" e cúmplice do lavajatismo, a Folha de S.Paulo tem um longo histórico de criação de "reportagens" para lançar bases para golpes e/ou fortalecer a burguesia, especialmente a financeira paulista.

No fim de abril, a Folha e a mídia liberal sinalizaram adesão à narrativa golpista de "perseguição" bolsonarista, levada à internacional fascista por Eduardo Bolsonaro (PL) e propagada por Elon Musk na rede X por meio do chamado "Twitter Files Brazil".

Após aderirem à frente ampla para restabelecimento da democracia, Folha, Globo e Estadão sinalizaram o realinhamento às forças golpistas no dia 20 de abril deste ano.

Na data, véspera do ato convocado por Jair Bolsonaro no Rio para propagar a tese vitimista de perseguição pela "ditadura do Judiciário", os jornalões divulgaram editoriais e reportagens sobre a "censura" de Moraes à "liberdade de expressão".

Em um balão de ensaio – jargão jornalístico para classificar informações plantadas com efeito de potencializar algum fato ou evento –, a Folha de S.Paulo colocou na manchete de seu site que "Malafaia põe STF sob pressão de religião em investigações contra Bolsonaro".

A narrativa na rede X também selou a aproximação entre o ex-The Intercept Brasil Glenn Greenwald e o bilionário Elon Musk, que financia e incita golpes contra governos progressistas que afrontam seus interesses, especialmente na área de mineração, pelo mundo.

Pivô da Vaza Jato, Greenwald se colocou como porta-voz "isento" da internacional fascista contra a "ditadura de Moraes" no Brasil.

Tarcísio, Temer e a pressão sobre Moraes

Em meio a encontros com Luciano Huck e afagos da Globo – que vê no capitão da reserva uma alternativa "limpinha e cheirosa" para a terceira via –, Tarcísio se aproximou de Michel Temer em São Paulo para fazer pressão sobre Moraes para soltura de membros da organização criminosa bolsonarista, especialmente os egressos das fileiras militares.

Um ano após a apreensão de Tagliaferro pela polícia comandada por ele, o governador de São Paulo participou ativamente do lobby para soltar o coronel Marcelo Câmara, ex-assessor de Bolsonaro preso por participar da trama golpista.

Segundo Malu Gaspar, em sua coluna no jornal O Globo no dia 18 de maio de 2024, a decisão de Moraes de soltar Câmara – braço direito do tenente-coronel Mauro Cid – se deu após Tarcísio, Temer e o comandante do Exército, Tomás Paiva, procurarem o ministro dizendo que ele "precisava começar a 'calibrar' suas decisões para diminuir os ataques a ele mesmo e ao Supremo por parte da extrema direita".

Ainda segundo a jornalista, "a soltura de Câmara também entrou no 'pacote' que envolve a absolvição do senador Jorge Seif (PL-SC) no processo que julga a sua cassação no TSE.

"Em troca, o governador descartou nomear um desafeto de Moraes para comandar a Procuradoria-Geral do Estado e colocou no posto um procurador aprovado pelo ministro", segue Malu Gaspar.

A jornalista faz referência à nomeação de Paulo Sergio Oliveira e Costa, ex-diretor da Escola Superior do MP-SP, para a Procuradoria-Geral do Estado. Terceiro na lista tríplice, o novo PGE teria forte ligação e foi indicado a Tarcísio por Moraes.

Temer e Bolsonaro

A colunista d'O Globo ainda afirma que o "lobby" para pressionar Moraes a libertar os bolsonaristas se deu a partir de uma reunião com o advogado Eduardo Kantz, que faz a defesa de Marcelo Câmara.

"Toda a pressão funcionou, e Moraes executou um recuo tático – que, além de operar uma guinada radical na posição do relator do caso Seif, também levou à soltura do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, no último dia 3 [de abril de 2024]", diz.

Com trânsito no meio militar, Eduardo Kantz também é advogado do capitão de corveta Marcela da Silva Vieira, que foi preso nas investigações sobre o furto de joias da Presidência. 

Chefe de gabinete adjunto de Documentação Histórica da Presidência – responsável, entre outros, pelas joias e presentes – durante o mandato de Bolsonaro, Marcelo Vieira foi nomeado para a função por Michel Temer em 2017.

Conversas vazadas

Segundo a apuração da Fórum, o vazamento das conversas de assessores de Moraes para Glenn Greenwald e Folha teria sido realizado na capital paulista.

Os diálogos estariam no celular de Tagliaferro. Não se sabe, no entanto, se o próprio ex-assessor de Moraes vazou o conteúdo para vingar sua demissão ou se foi entregue por alguma "fonte" – como citado pelo jornal – que teve acesso ao conteúdo enquanto o iPhone 14 dele estava em poder da polícia de Tarcísio.

Glenn teria procurado a Folha para a publicação para dar mais credibilidade às "denúncias", que até o momento se tratam de um amontoado de conversas entre subordinados de Moraes.

O próprio jornal cunhou a expressão "fora do rito" por não haver ilegalidade comprovada nas conversas já divulgadas.

Com a Folha, Glenn pretende levar o caso à mídia liberal. A "reportagem" já teve repercussão no Jornal Nacional e no Estadão, além de veículos ligados à própria Globo.

Por outro lado, o factoide já ganhou a adesão de Elon Musk para propagar a narrativa nas redes sociais. O clã Bolsonaro também aproveitou a narrativa vazia para incendiar a horda extremista, que se encontrava em brasa.

Com a mídia liberal ao lado, Glenn, Temer, Tarcísio e a horda bolsonarista sabem que não precisam de provas, mas de convicções – como já foi feito em casos emblemáticos, como do triplex que levou Lula à prisão ou das "pedaladas fiscais", que resultaram no golpe contra Dilma.

Ao que tudo indica, o conluio golpista tem como objetivo colocar em marcha um novo golpe para eleger em 2026 um governo fascista neoliberal sem Bolsonaro. 

Moraes, que já fez parte das linhas golpistas, está sendo pressionado: ou volta às origens ou será atropelado pela caravana que busca um novo golpe logo ali adiante.