Um estudo encomendado pelo Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sintaema) e divulgado nesta quinta-feira (27) mostrou que o valor das ações da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) vendidas pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) está muito abaixo do que deveria.
Segundo especialistas do Observatório Nacional das Águas (Ondas), da Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo (Arsesp) e da Associação de Profissionais Universitários da Sabesp (APU), o preço da ação da Sabesp, negociada atualmente por cerca de R$ 74, deveria estar em torno de R$ 100. Ou seja, Tarcísio está entregando a empresa à iniciativa privada por um valor 44% abaixo do real.
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Para o presidente do Sintaema, José Faggian, todo o processo de privatização comprova que está em curso uma negociata que coloca a Sabesp no centro da banca. “Tarcísio está vendendo a empresa que mostrou força e referência em momentos como a crise hídrica e os desastres em Ubatuba e no Rio Grande do Sul. Ninguém faz o que a Sabesp faz, lembrando que todas essas ações sociais ocorrem sem prejudicar a saúde financeira da empresa, que todos os anos computa lucros bilionários”, afirmou.
O presidente ainda acrescentou que "os números são claros e mostram uma clara manobra do governo em usar nosso patrimônio para o lucro de alguns empresários". A declaração foi feita durante uma coletiva de imprensa nesta quinta-feira.
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O conselheiro do Ondas e diretor da APU, Amauri Pollachi, afirmou que "estamos diante do fenômeno da Black Friday", também na coletiva de imprensa desta quinta. "Uma verdadeira maquiagem na apresentação do plano de privatização. Não conseguimos olhar a sala inteira, mas a fresta que pegamos revela uma manobra para vender a Sabesp por um preço mais baixo que deveria ser”, acrescentou.
Faggian e Ronaldo Coppa, ex-membro do Conselho de Administração da Sabesp, também questionaram a escolha da empresa Equatorial para a prestação do serviço.
"O fato de ser a Equatorial – uma empresa que atua somente em 16 municípios, no estado do Amapá – revela o quão esse processo é nebuloso. Como uma empresa com esse tamanho irá gerir a terceira maior empresa de saneamento do mundo?”, disse Faggian.
Na mesma linha, Coppa afirmou ser flagrante o direcionamento na escolha do acionista de referência. “A saída da Aegea é um alerta disso. Será que uma empresa que gerencia apenas 16 municípios possui credenciamento para assumir o selo Sabesp? Como uma empresa desse tamanho pode gerenciar a terceira maior empresa de saneamento do mundo e que se posiciona hoje como uma referência em produção de tecnologia para o campo do saneamento?”, questionou.
Os advogados contratados pelo Sintaema, Rubens Naves e Gustavo Silva, também destacaram as mais de 50 ações na Justiça contra a privatização. Para eles, "não restam dúvidas sobre a inconstitucionalidade do processo de privatização e do impacto desolador que essa venda causará para mais de 70% da população de São Paulo".
Ao final da exposição dos resultados do estudo, todos concordaram que o processo de privatização da Sabesp tornará a população de São Paulo refém da iniciativa privada. “Não é só esse estudo, são todos os estudos que produzimos que escancaram a pervessividade do projeto de privatização da Sabesp. É um crime transformar um bem natural que é a água em um ativo de mercado”, afirmaram.
Na próxima segunda-feira (1°), o documento será entregue ao Tribunal de Contas do Estado (TCE).