RIO GUAÍBA

Por que Lula sinalizou negligência de pessoas com comportas sobre enchentes em Porto Alegre, no RS

Presidente volta ao Estado para priorizar ajuda às pessoas, mas sinalizou que vê falhas humanas no sistema antienchente da capital gaúcha, criado nos anos 1970 e alvo de privatizações.

Lula e Haddad em reunião com Eduardo Leite e Edson Fachin.Créditos: Ricardo Stuckert/PR
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Em meio à tragédia no Rio Grande do Sul, Lula prioriza o atendimento aos gaúchos e já agendou uma terceira visita ao estado para esta quarta-feira (15), quando deve anunciar medidas para auxiliar as pessoas que perderam tudo o que tinham com a enchente.

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No entanto, em reunião virtual nesta segunda-feira (13) com o governador Eduardo Leite (PSDB) e o vice-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, o presidente afirmou que a tragédia não foi causada somente pelo alto volume de chuvas.

"Esse fenômeno que aconteceu me parece que não foi só chuva. Me parece que teve um fenômeno também das pessoas que não cuidaram das comportas que deveriam ter cuidado há muito tempo", disse Lula.

O tema foi levado à reunião com os 38 ministros também pelo titular da Casa Civil, Rui Costa, que citou as falhas no sistema antienchente levantado ainda nos anos 1970 na capital gaúcha para conter as cheias do rio Guaíba.

Lula e Rui Costa sinalizaram que, paralelamente à ajuda ao Estado e ao povo gaúcho, o governo busca identificar o que teria causado a tragédia nessas proporções para que sejam tomadas medidas para evitar novos desastres no Estado. 

"Mas tudo isso é um problema a ser resolvido daqui para frente. E nós vamos tentar apresentar a nossa contribuição ao povo do Rio Grande do Sul, inclusive apresentando uma discussão nacional sobre a questão de resolver definitivamente as enchentes na cidade de Porto Alegre e na região metropolitana", emendou o presidente em sua declaração na reunião com Leite e Fachin.

Comportas, diques e casas de bombas

O sistema antienchente na capital gaúcha começou a ser projeta após a enchente história de 1941, quando o rio Gauíba atingiu 4,76 metros - maior cheia até este ano, quando o patamar chegou a 5,26 metros.

No total, o sistema tem 68 quilômetros de extensão e é formado por diques, casas de bombas e 14 comportas.

No dia 5 de maio, uma das comportas que ficam no juro do Gauíba - o portão 14 se rompeu e inicou o alagamento pela noza norte de Porto Alegre.

“Aquele portão é um pouco estreito. Não é um dos maiores portões que temos. Mas neste momento não conseguimos dimensionar até onde a água pode se estender. Ali é uma região plana: ele pode avançar Sertório adentro. A gente ainda não consegue prever”, disse o diretor-geral do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), Maurício Loss, diante do rompimento da comporta.

Em entrevista ao Brasil de Fato um dia depois, o engenheiro Augusto Damiani, ex-diretor do Departamento de Esgotos Pluviais (DEP) do Dmae, foi o primeiro a sinalizar que as falhas no sistema de manutenção do sistema pode ter agravado a tragédia em Porto Alegre.

"Em setembro de 2023, vi que o DMAE teve várias dificuldades para fechar as comportas, não achou os parafusos, não conseguiu colocar as borrachas, encontrou asfalto em trilhos, teve que usar uma retroescavadeira para fechar as comportas", afirmou.

Segundo ele, o problema vem desde 2017 e foi agravado pelo atual prefeito, Sebastião Melo (MDB) que teria sucateado o DMAE.

"Nos últimos anos, o DMAE tem sofrido um enxugamento visando o projeto que está aí e que é a transferência da gestão da água para a iniciativa privada. Para isso é fundamental desqualificar a imagem da instituição junto à população para que se tenha uma opinião pública favorável dizendo que o serviço público é ruim e que o privado é melhor", afirmou Damiani.

Melo trabalha em parceria com Leite para a privatização de todo o sistema de saneamento da capital e do Estado. 

O governador anunciou em abril que pretende  finalizar o processo de privatização da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) e anunciou com pompas, em setembro do ano passado, a revitalização da orla do Guaíba, "sem ter aquele muro que dividia o antigo porto da cidade".

“Queremos entender o que se passou aqui no Cais e deixar claro para a população que a nossa defesa de que os muros sejam retirados não é para deixar desguarnecida a cidade. Haverá substituição por um novo sistema de contenção das cheias que proteja inclusive os próprios armazéns”, afirmou Leite à época.