Coordenando aquela que já é a maior operação de socorro e reconstrução de uma área de catástrofe da História do Brasil, provocada pelas devastadoras chuvas e enchentes que varreram o Rio Grande do Sul nas duas últimas semanas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) resolveu mudar o tom do discurso e apontar que o momento trágico vivido pelo povo gaúcho não é só obra da natureza, mas sim o resultado da incompetência e da ineficiência do poder público, sobretudo no que diz respeito à capital Porto Alegre.
“Porque esse fenômeno que aconteceu me parece que não foi só o fenômeno da chuva, me parece que tem o fenômeno também das pessoas que não cuidaram das comportas que deveriam ter cuidado há muito tempo, mas tudo isso é um problema a ser resolvido daqui para frente e nós vamos tentar apresentar a nossa contribuição ao povo do Rio Grande do Sul, inclusive apresentando uma discussão nacional para resolver definitivamente a questão das enchentes na cidade de Porto Alegre e na Região Metropolitana”, disse Lula em reunião ministerial com a presença dos 38 chefes de pastas do seu governo, realizada na tarde desta segunda-feira (13) no Palácio do Planalto, em Brasília.
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O chefe de Estado nem foi tão duro assim nas críticas, sequer mencionou o nome do prefeito Sebastião Melo (MDB), um antipetista patológico em permanente flerte com o extremismo reacionário bolsonarista, mas pela primeira vez mudou o tom conciliatório, uma vez que o governo federal vem realizando esforços descomunais para atuar de maneira determinante em meio ao caos instalado nas áreas afetadas, enquanto leva a culpa por um episódio que, na realidade, fala muito mais sobre a inércia e o descaso das autoridades locais do que qualquer outra coisa.
As comportas que deveriam proteger Porto Alegre da alta do nível do Lago Guaíba, inauguradas em 1974, há muito são vistas por especialistas como obsoletas e potencialmente ineficientes para uma cheia que ultrapasse os cinco metros de altura, fato que ocorreu este ano e impôs uma catástrofe à capital e maior cidade do estado mais meridional do Brasil. Sucessivas administrações municipais, assim como sucessivos governos estaduais, praticamente nada propuseram nas últimas décadas para a construção de um sistema mais moderno e que efetivamente protegesse a população. Agora, Sebastião Melo manda colocar sacos de areia nas ruas num esforço inútil para tentar conter a fúria das águas.