O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), quebrou o silêncio e se pronunciou neste sábado (30) sobre o fato de Chiquinho Brazão, preso por suspeita de ser o mandante do assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes, ter integrado seu governo. As informações são do jornal O Globo.
Chiquinho Brazão foi chefe da Secretaria Especial de Ação Comunitária do Rio entre outubro de 2023 e fevereiro de 2024.
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"Foi um erro da minha parte colocar no governo uma pessoa que estava sob suspeita nesse caso", disse Eduardo Paes. Em seguida, Paes declarou que, quando surgiram os primeiros boatos de que Brazão tinha participação no assassinato de Marielle e Anderson, ordenou que ele fosse retirado da secretaria, mas admitiu que fez "uma avaliação equivocada" quanto aos riscos da situação.
"Queremos alianças, mas as alianças têm que ter um limite. A gente governa a cidade com os melhores quadros e meu governo vai continuar dando demonstração de que não tem conivência com nenhum tipo de irregularidade", afirmou Eduardo Paes.
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As declarações de Eduardo Paes foram dadas neste sábado (30) durante coletiva de imprensa no início das operações do BRT Transbrasil.
Domingos e Chiquinho Brazão: as relações dos supostos mandantes do assassinato de Marielle com o clã Bolsonaro
Dois dos três suspeitos de serem os mandantes do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, presos neste domingo (24) pela Polícia Federal (PF), tinham relações próximas com a família Bolsonaro.
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A PF prendeu Domingos Brazão, atual conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ); Chiquinho Brazão, deputado federal do Rio de Janeiro e irmão de Domingos; e Rivaldo Barbosa, ex-chefe de Polícia Civil - os três são apontados como "autores intelectuais" do crime brutal que estava há 6 anos sem respostas.
Os nomes dos mandantes do crime foram obtidos a partir da delação premiada do ex-policial militar Ronnie Lessa, suspeito de participação no assassinato que está preso desde 2019.
A motivação exata para o assassinato ainda é desconhecida, mas as investigações apontam que haveria relação com a expansão territorial da milícia na capital fluminense.
Domingos Brazão e Flávio Bolsonaro
Durante o governo Bolsonaro, passaportes diplomáticos foram concedidos à esposa e ao filho do deputado federal Chiquinho Brazão (UB-RJ). Este, no entanto, é apenas um dos laços que ligam as duas famílias. Ambas possuem relações históricas com a milícia que atua na região de Rio das Pedras, zona oeste do Rio de Janeiro.
Domingos Brazão, irmão de Chiquinho e conselheiro do TCE-RJ, já foi deputado estadual e, em sua época de parlamentar, atuou em dobradinha com Flávio Bolsonaro (PL-RJ), a quem tinha como uma espécie de pupilo, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj),
"Vossa excelência é um deputado jovem e, mesmo assim, percebe-se, não somente pelas suas afirmações de hoje, mas pela sua postura em plenário, que vossa excelência procura preservar o que há de melhor, a maior instituição, que é a família. Infelizmente, há aqueles que apostam no contrário. Vejo parlamentares apresentarem projetos que visam liberar casamento de homem com homem, mulher com mulher e outras coisas. V.Exa., embora sendo jovem, ainda mantém essa postura firme, que, com certeza, é fruto da educação de seus pais, uma questão de criação", disse Brazão dirigindo-se a Flávio Bolsonaro na sessão de 4 de março de 2006 da Alerj.
O afago ocorreu após o filho de Bolsonaro elogiar o projeto de Brazão para conceder o título de cidadão ao pastor Sebastião Ferreira, da Primeira Igreja Batista de Vila da Penha, que morreu em 2017.
A dobradinha entre Brazão e Flávio Bolsonaro se deu, ainda, em diversas propostas na Alerj. Em 2014, por exemplo, Brazão foi o relator do projeto de Flávio para criar o programa Escola Sem Partido no sistema de ensino fluminense. No mesmo ano, os dois atuaram juntos na Comissão de Constituição e Justiça da casa.
Além das pautas de costumes, Flávio Bolsonaro e Domingos Brazão faziam dobradinha na defesa das milícias do Rio de Janeiro. Em 2006, quando Marcelo Freixo criou a CPI das Milícias, somente os dois se posicionaram contra.
Delator de Brazão, Ronnie Lessa morava a cerca de 100 metros da residência do clã Bolsonaro no condomínio Vivendas da Barra. Em "A República das Milícias", o escritor Bruno Paes Manso diz que Lessa era "um matador avulso, mas mantinha contatos com o Escritório do Crime e com milicianos de Muzema, ligados ao capitão Adriano".
No livro, o jornalista ainda fala da relação de Lessa "com figurões, como Rogério de Andrade e Domingos Brazão"
"Capitão Adriano", a que se referia, é Adriano da Nóbrega, que comandava o Escritório do Crime e empregou a mãe, Raimunda Veras Magalhães, e a ex-esposa, Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega, no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj. Segundo MP-RJ, as duas faziam parte do esquema de "rachadinha" no gabinete.
Morto em 2020, o miliciano foi apresentado ao clã Bolsonaro por Fabrício Queiroz, que também tem ligações com a milícia de Rio das Pedras.
Durante as investigações sobre a morte de Marielle, o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) apreendeu uma agenda com a esposa de Queiroz, Márcia Oliveira de Aguiar. Na agenda-guia, que deveria ser usada por Márcia para ajudar a família caso o marido fosse detido, há um coronel identificado como amigo de Queiroz e "braço direito do Bração (sic)", uma possível referência a Domingos Brazão. Na caderneta ainda haviam nomes de pessoas ligados ao clã Bolsonaro e também a Adriano da Nóbrega.
Outro elo entre Flávio e Brazão, que faziam parte da bancada da "segurança pública" na Alerj, é o ex-assistente de câmera Luciano Silva de Souza.
Souza foi colocado em 2019 pelo padrinho, Domingos Brazão, o cargo de subdiretor da TV Alerj, o mais alto da hierarquia do departamento, e ficou responsável por gerir um contrato de cerca de R$ 800 mil mensais (quase R$ 10 milhões anuais) com uma empresa terceirizada, a Digilab. No currículo, Souza listou atuações em recentes campanhas eleitorais do PSL, como a de Flávio Bolsonaro ao Senado.
Chiquinho Brazão e o apoio a Bolsonaro
O deputado federal Chiquinho Brazão, irmão de Domingos Brazão, apoiou Jair Bolsonaro em sua candidatura para reeleição em 2022. O parlamentar é um dos principais nomes da família Brazão, uma das mais poderosas da política carioca.
Em suas redes sociais, Chiquinho compartilhou diversos vídeos em outubro de 2022 fazendo campanha para Bolsonaro, inclusive ao lado do senador e filho do ex-presidente, Flávio Bolsonaro. O mesmo Flávio Bolsonaro que assinou o projeto Escola Sem Partido na Alerj, junto de Domingos Brazão, apontado como um dos mandantes do caso Marielle.
Veja vídeos:
Bolsonaristas têm divulgado, nas redes sociais, uma foto que mostra Domingos Brazão com um adesivo da campanha da ex-presidente Dilma Rousseff à reeleição em 2015. Isso, no entanto, só ocorreu pela fato da família Brazão ser ligada a Eduardo Cunha, o líder da bancada evangélica que derrubou a ex-presidenta.
Um outro exemplo dos laços históricos da família Brazão com grupos milicianos do Rio é o fato de que, em 2018, quando era vereador, Chiquinho, o irmão de Domingos, se encontrou com o miliciano Cristiano Girão, no dia 7 de março - uma semana antes do assassinato de Marielle e Anderson.
Girão e Ronnie Lessa, apontado como aquele que atirou contra Marielle Franco, vão a júri popular pelo assassinato do ex-policial André Henrique da Silva Souza, o André Zóio, e a companheira dele, Juliana Sales de Oliveira, de 27 anos, em 14 de junho de 2014. Girão, que também foi vereador, está preso desde 2021, quando foi condenado por liderar a milícia da Gardênia Azul, em Jacarepágua, na zona Oeste do Rio.