USO INDEVIDO

Michelle Bolsonaro faz proselitismo com foto de histórica militante e é condenada a pagar indenização

A montagem celebrava a conquista do sufrágio feminino, em 24 de fevereiro de 1932, e usou imagem da Passeata dos Cem Mil, uma greve contra a ditadura de 64

Michelle Bolsonaro em evento do PL Mulher em Natal.Créditos: Reprodução/Youtube
Escrito en POLÍTICA el

Michelle Bolsonaro foi condenada pela Justiça do Rio de Janeiro pelo uso indevido de imagem da atriz Leila Diniz em peça publicitária divulgada nas páginas do PL Mulher. A ex-primeira-dama pode recorrer, mas a princípio terá de pagar uma indenização de R$ 30 mil para a filha da histórica militante de esquerda.

A imagem utilizada mostra Leila Diniz ao lado das artistas Eva Todor, Tônia Carrero, Eva Wilma, Odete Lara e Norma Bengell. O grupo estava no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, onde participava da famosa Marcha dos Cem Mil, uma grande mobilização contra a ditadura civil-militar instalada em 1964 no país. A pauta específica da classe artística era contra a censura do regime. O protesto foi realizado em 13 de fevereiro de 1968.

Já a imagem compartilhada pelo PL Mulher não fazia qualquer referência à resistência contra a ditadura militar. A escolha da foto de Leila Diniz foi basicamente a de uma imagem ilustrativa, que mostrasse mulheres bonitas [dentro dos padrões estabelecidos midiática e socialmente] em atividade política no passado. A ideia do partido era celebrar a conquista do sufrágio feminino, ou seja, o direito ao voto das mulheres, referendado em 24 de fevereiro de 1932.

Reprodução

Dada a contradição inerente à peça do PL Mulher, Janaína Diniz Guerra, a filha de Leila Dinis, moveu uma ação contra o partido de Jair e Michelle Bolsonaro.

"O uso político, não autorizado, da imagem de minha mãe respaldando a pré-campanha de Michelle Bolsonaro é uma imensurável ofensa a tudo que minha mãe representou e ainda representa", disse um comunicado de Janaína divulgado para a imprensa.

Na primeira instância não teve conversa. A juíza destacou o óbvio: que Michelle Bolsonaro e o PL Mulher são os responsáveis pela publicação e deveriam ter pedido autorização da família das artistas retratadas sob pena, justamente, de receberem tal cobrança.

“Os réus disseram que não tiveram a intenção de causar danos à autora ou à imagem de sua mãe, mas ainda que assim não fosse, deve haver responsabilidade do usuário da rede social para disseminação dos conteúdos de terceiros”, escreveu a juíza Ingrid Reis.

Michelle e o PL Mulher agora devem pagar os R$ 30 de indenização, retirar as publicações do ar e publicar uma retratação explicando que Leila Diniz nunca apoiou o regime militar e qual foi o contexto da foto utilizada. Em nota, o PL diz que irá recorrer da decisão.

Reporte Error
Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar