ELEIÇÕES 2026

Presidenciável? Michelle Bolsonaro fala em Estado laico, mas sinaliza extremismo religioso

Após discurso na Paulista, em que chorou e defendeu "misturar política com religião", PL passou a apoiar nome de ex-primeira-dama como alternativa a Bolsonaro, que vê a esposa como a mais forte candidata "anti-Lula"

Michelle Bolsonaro com Silas Malafaia em ato na Paulista.Créditos: Gabriel Silva/Ato Press/Folhapress
Escrito en POLÍTICA el

Recebendo cada dia mais apoio para se tornar a alternativa para as eleições presidenciais de 2026 diante da inielegibilidade de Jair Bolsonaro (PL), Michelle Bolsonaro "descobriu" que o Estado é laico, mas sinalizou que deve aprofundar o discurso extremista religioso.

LELÊ TELLES:'Lady Gada', Malafaia e a evangelização da política

Em publicação no Instagram nesta quarta-feira (6), a ex-primeira-dama divulgou uma imagem do artigo 5º da Constituição Federal, que em seu inciso VI diz que é "inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção de locais de culto e as suas liturgias".

"O Estado é laico e assim deve continuar! A democracia é o governo do povo e nela as pessoas têm o direito de expressar, livremente, a sua fé", diz a imagem seguinte.

No texto, a possível presidenciável cita uma passagem bíblica que deve dar o tom de sua entrada de vez na política partidária.

"Portanto, qualquer que me confessar diante dos homens, eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus. Mas qualquer que me negar diante dos homens, eu o negarei também diante de meu Pai, que está nos céus", escreveu.

A candidatura de Michelle Bolsonaro à presidência voltou a ganhar força justamente após o discurso que fez no ato na Avenida Paulista, no dia 25 de fevereiro, em que chorou e instou a ultradireita fascista a encampar a fusão entre política e religião.

"Por um bom tempo formos negligentes ao ponto de dizer que não poderiam misturar política com religião. E o mal tomou e o mal ocupou o espaço. Chegou o momento, agora, da libertação. ‘Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará’ foi o versículo que ele [Bolsonaro] usou em toda campanha e eu creio que isso foi gerado no mundo espiritual, porque eu acredito em um Deus vivo. Um Deus todo poderoso que é capaz de restaurar e curar a nossa nação. Não desistam, mulheres, homens, jovens, crianças. Não desistam do nosso país. Continue orando, continue clamando porque eu sei que o nosso Deus, do alto dos céus, irá nos conceder um socorro", disse, ao lado do pastor Silas Malafaia.

O discurso fez com que parte da cúpula do PL passasse a considerar Michelle como a opção mais viável para substituir Bolsonaro nas urnas. 

Pesquisas

No início de fevereiro, o PL incluiu o nome de Michelle em um levantamento encomendado ao Paraná Pesquisas, juntamente com o do marido e do governador de São Paulo.

A pesquisa mostra que Lula venceria os três nomes testados. Contra Bolsonaro, a vitória seria mais apertada? 44% a 42%.

No entanto, Michelle se mostra mais competitiva que o governador paulista. A pesquisa mostra que a ex-primeira-dama seria derrotada por Lula por 45% a 38%. Já Tarcísio perde para o atual presidente por 56% a 35%. Agora o PP fará uma sondagem com o nome da ex-primeira-dama.

Resistente, em princípio, Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, teria se animado com a opção Michelle após o ato na Paulista e teria passado a defender o nome da ex-primeira-dama como principal alternativa, caso Bolsonaro fique fora das eleições em 2026.

Até mesmo Bolsonaro, que defende que a esposa se candidate primeiramente a um cargo legislativo - no Senado, preferencialmente - já teria admito que vai apoiá-la caso ela tenha mais chances de vencer Lula.

Segundo o ex-presidente, a prioridade é não deixar que Lula seja reeleito.