A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) produziu em 2020 relatório sobre uma fake news a respeito das urnas eletrônicas a mando de Alexandre Ramagem, então chefe do órgão nomeado por Jair Bolsonaro (PL) e subordinado ao general Augusto Heleno, o então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional. Ainda, o pedido para a produção do relatório foi feito de maneira informal via WhatsApp pelo próprio Ramagem.
As novas revelações do escândalo apelidado de “Abin paralela” foram trazidas a público nesta sexta-feira (1) pelo jornal O Globo.
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A publicação relembra que em julho de 2020 os apoiadores do então presidente Bolsonaro começaram a difundir em massa uma fake news envolvendo a Positivo Tecnologia, empresa que fabrica computadores e softwares com sede em Curitiba, no Paraná. A empresa tinha vencido uma licitação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para fabricar urnas eletrônicas.
Já a mentira da ocasião apontava que o senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR), fundador da empresa que já não estava nos seus quadros desde 2012, teria relações com Sergio Moro – que havia acabado de deixar o Ministério da Justiça após se desentender com Bolsonaro – e uma empresa de tecnologia chinesa. A “prova”, é claro, estaria nas iniciais da Positivo Tecnologia, “PT”, que subliminarmente denunciaria as ligações da empresa com o partido do atual presidente Lula (PT). Ou seja, haveria uma conspiração envolvendo a empresa para derrotar Bolsonaro nas eleições seguintes.
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Mas a Positivo Tecnologia foi fundada na década de 1980 e desde então fornece equipamentos para diversos órgãos públicos. À época da viralização da fake news bolsonarista a empresa também tinha contratos com os governos do Ceará e Rio Grande do Sul, além de parceria com a Agência Nacional de Tecnologia que previa fornecimento de notebooks a escolas.
Mas mesmo com a falsidade das informações verificada publicamente, Ramagem teria dado a ordem para a produção do relatório a respeito do assunto. Na mensagem enviada a agentes da Abin para “investigar as relações entre o senador e a empresa”, o “DG” (diretor-geral; Ramagem) pede para analisar a situação da empresa e a “possibilidade de interferência”.
Acontece que os agentes da Abin não encontraram qualquer lastro na realidade que pudesse comprovar a paranoia bolsonarista, e isso foi colocado no famigerado relatório. No fim das contas, o documento contém justamente as informações sobre o caso que estão divulgadas publicamente na imprensa e nas redes sociais.
Entre essas informações, uma outra obviedade: que o senador Oriovisto é de um partido de centro-direita e não possui relações com a esquerda. Na juventude, ele chegou a ser marxista, participou do movimento estudantil e ficou preso durante o regime militar. Mas faz décadas que não está mais envolvido diretamente com quaisquer esquerdas. Ao jornal O Globo ele lamentou que a Abin o tenha tido como alvo.
“É uma tolice. Tenho 78 anos e estão falando de 1968, quando fiz parte do movimento estudantil. Isso, para mim, atesta a incompetência do serviço de informação”, declarou.
Para a PF, o caso é mais um flagrante ataque às urnas e pode entrar no rol de investigações acerca dos atos antidemocráticas e tentativas de golpes contra o sistema eleitoral e o Estado democrático de Direito.