Uma primeira lista com nomes de pessoas espionadas pelo governo Bolsonaro por meio de aparelhamento da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) - em escândalo que ganhou o apelido de “Abin paralela” - foi divulgada nesta sexta-feira (23) pelo jornal O Globo. E de acordo com os dados registrados no software israelense FirstMile, usado no esquema entre 2019 e 2021, além de políticos opositores, acadêmicos, juristas, jornalistas e ambientalistas, o ex-presidente inelegível também bisbilhotou alguns dos seus aliados mais fieis.
Entre os nomes divulgados está o de Evandro de Araújo Paula. Além de ter trabalhado para a deputada federal Bia Kicis (PL-DF), ele também participou do movimento “Os 300 do Brasil”, liderado pela ex-feminista Sara ‘Winter’ Geromini. O movimento ficou acampado em Brasília durante a pandemia e foi o responsável pelas primeiras animosidades entre bolsonaristas e o STF. Já sua líder, Sara, paralelamente ao acampamento trabalhou no ministério da Família, Mulher e Direitos Humanos, chefiado à época por Damares Alves (Republicanos-DF).
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Outro bolsonarista de primeira ordem “arapongado” pela “Abin paralela” foi ninguém, ninguém menos, que o hoje deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO). À época, na pandemia, ele começava a ganhar destaque nas redes difundindo desinformação sobre a Covid-19. No entanto, não há maiores explicações sobre a razão do seu monitoramento.
Outro aliado monitorado foi Giacomo Romeis Hensel Trento, que atuou em 2019 como secretário especial de Relações Governamentais da Casa Civil de Bolsonado, então chefiada por Onyx Lorenzoni. Ele foi consultado 146 vezes pelos agentes à serviço irregular de Bolsonaro.
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Opositores
Entre os opositores, os dois nomes mais óbvios de 2019 são os de Jean Wyllys e de David Miranda. Ambos entraram no radar após o famigerado perfil “Pavão Misterioso” divulgar a fake news de que Wyllys venderia o mandato para Miranda, já falecido. A suposta denúncia foi muito repercutida à época por Carlos Bolsonaro.
Naquele mesmo ano, o olhar da “Abin paralela” se voltou para o jornalismo. Glenn Greenwald, que foi casado com Miranda, e Leandro Demori, ambos no The Intercept à época, foram os alvos. Sergio Moro ainda era o ministro da Justiça da Bolsonaro e os jornalistas foram os responsáveis pela publicação da série Vaza Jato, cujas revelações desdobraram na anulação dos processos contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) oriundos da Operação Lava Jato.
Outro nome opositor divulgado foi o de Alessandra Maria da Costa Aires. Ela trabalhava no gabinete do senador Confúcio Moura (MDB-RO) e no período em que foi espionada, o seu chefe fazia críticas nas redes sociais e no Congresso às declarações estapafúrdias de Bolsonaro sobre a pandemia.
Afonso Mônaco, repórter da TV Record, e Pedro César Barista, consultor de comunicação e ativista pró-Palestina, foram outros nomes monitorados.
Ambientalistas, Juiz de Fora (MG) e caminhoneiros
Entre os ambientalistas espionados, constam nessa primeira divulgação Marcelo José de Lima Dutra, Newton Coelho Monteiro e Hugo Ferreira Neto. Marcelo foi analista ambiental do Ibama e presidiu o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas. Newton, por sua vez, é engenheiro e trabalha com a detecção de queimadas pelo mesmo órgão. Já Hugo era coordenador de Operações de Fiscalização do Ibama e foi responsável por ações contra garimpeiros no Pará. Foi exonerado em abril de 2020, logo que começou a pandemia.
Há ainda nomes de Juiz de Fora (MG) monitorados por suspeita de participação no ataque a faca de Adélio Bispo que vitimou Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018 e 86 pessoas ligadas aos movimentos de caminhoneiros que fizeram uma enorme greve no mesmo ano. Nesse último grupo destaca-se Wallace Landim, conhecido como Chorão, que durante o primeiro ano de governo Bolsonaro prometia fazer novas greves.
Outro caminhoneiro monitorado foi Carlos Alberto Litti Dahmer, dirigente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logísticas (Cnttl). Além de filiado ao PT, ele se candidatou a vereador em Ijuí (RS) nas eleições de 2012. Em 2019, durante o primeiro ano do governo Bolsonaro, ele protestava contra as tabelas de frete e os aumentos do diesel e do gás de cozinha.