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Heleno usou Abin em tentativa de golpe: PF confirma informação antecipada pela Fórum

General era ministro do GSI, responsável pelo órgão de inteligência. Inquérito da Polícia Federal mostra envolvimento do militar na trama frustrada

Créditos: Marcos Corrêa/PR
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O inquérito da Polícia Federal que apura a organização da tentativa de golpe de Estado que visava manter o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no poder, mesmo após a derrota eleitoral para o presidente Lula (PT), trouxe uma figura sinistra do antigo governo para o centro nervoso da turba criminosa. Mais de um ano antes, no entanto, a Fórum já tinha revelado a participação direta deste militar de alta patente da reserva do Exército Brasileiro. Trata-se do general Augusto Heleno, então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI).

Na decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, que autorizou a realização da Operação Tempus Veritatis, na manhã desta quinta-feira (8), o magistrado cita o inquérito da PF que aponta o uso da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) na condução de atos relacionados ao levante golpista. A Abin, à época, era um órgão subordinado ao GSI, sob a batuta de Heleno.

“Por fim, dentro do contexto investigativo, torna-se relevante contextualizar a fala do General AUGUSTO HELENO, então Ministro de Estado Chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República - GSI/PR. Inicialmente, o General AUGUSTO HELENO afirma que conversou com o Diretor-Adjunto da ABIN VITOR para infiltrar agentes nas campanhas eleitorais, mas adverte do risco de se identificarem os agentes infiltrados. Nesse momento, o então Presidente JAIR BOLSONARO, possivelmente verificando o risco em evidenciar os atos praticados por servidores da ABIN, interrompe a fala do Ministro, determinando que ele não prossiga em sua observação, e que posteriormente "conversem em particular" sobre o que a ABIN estaria fazendo”, revelou o despacho de Moraes, citando o inquérito da PF.

A investigação da PF mostra ainda que o general e fiel escudeiro de Jair Bolsonaro atuou de forma direta na trama, inclusive propondo uma “virada de mesa” antes mesmo das eleições, o que teria sido confirmado por meio de uma mensagem à qual os federais tiveram acesso.

“Não vai ter revisão do VAR. Então, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa é antes das eleições”, disse Heleno.

Num outro diálogo, o então chefe do GSI propõe ações diretas contra “instituições e pessoas” para que Bolsonaro seja mantido no poder, um ato que, naturalmente, é ilegal e criminoso.

“Eu acho que as coisas têm que ser feitas antes das eleições. E vai chegar a um ponto que nós não vamos poder mais falar. Nós vamos ter que agir. Agir contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas. Isso pra mim é muito claro”, seguiu falando o general.

Desde 13 de dezembro de 2022, um dia após a diplomação de Lula no TSE e do primeiro ataque do que genericamente era chamado de “bolsonaristas” contra a capital federal, que terminou a noite com ônibus e carros incendiados, vias fechadas e depredadas e uma tentativa de invasão da sede da Polícia Federal, a Fórum já vinha denunciando, por meio de informações disponibilizadas por um servidor da PF lotado dentro do Palácio do Planalto, que o GSI e seu então chefe, o general Augusto Heleno, tinham responsabilidade na organização dos ataques, que se intensificariam na véspera de Natal, quando um caminhão com 60 mil litros de querosene quase explodiu o aeroporto de Brasília, e por fim no trágico 8 de janeiro de 2023.

Em seus depoimentos na CPI da Câmara Distrital do DF e na CPMI do Congresso Nacional, Heleno foi questionado inúmeras vezes sobre sua participação na tramoia golpista, mas sempre negou, inclusive atacando a Fórum e o repórter autor das matérias que o denunciavam, afirmando nunca ter se envolvido nesse tema e fazendo acusações de prática de mau jornalismo. Com as investigações da PF e o inquérito remetido ao STF, a participação do general da reserva no episódio apenas se confirma.