8 DE JANEIRO

General Heleno mente na CPI ao dizer que não foi procurado pela Fórum

Ex-ministro do GSI de Bolsonaro foi acionado pela reportagem antes da publicação da matéria sobre atos de vandalismo de 12 de dezembro, em Brasília. Órgão respondeu rapidamente

Créditos: Ascom Chico Vigilante - General Augusto Heleno mentiu à CPI dos Atos Antidemocráticos
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O general da reserva Augusto Heleno, que chefiou o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República no Governo Bolsonaro, mentiu durante depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos instalada na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) nesta quinta-feira (1). 

Ao ser questionado pelo deputado distrital bolsonarista Pastor Daniel de Castro (PP) sobre os atos do dia 12 de dezembro, o ex-ministro respondeu ter sido completamente surpreendido pela movimentação de vândalos no centro de Brasília.

Augusto Heleno mentiu ao afirmar não ter sido procurado pela Revista Fórum para comentar a denúncia de um servidor da Polícia Federal (PF) lotado na Presidência da República, sob a condição de anonimato, que acusou a pasta chefiada por ele de estar por trás dos atos vandalismo de 12 de dezembro na capital federal.

"Eu respondi por nota a acusação injusta de um suposto agente da Polícia Federal lotado na Presidência da República, que até hoje eu não sei quem é, porque existe a tal da proteção da fonte, que foi publicado na Revista Fórum, sem que eu pudesse oferecer qualquer contraditório porque não chegou a mim nada. Ele falou lá com o repórter e isso não passou por mim", disse Augusto Heleno.

Essa informação não é verdadeira. O repórter autor da matéria, Henrique Rodrigues, entrou em contato com o GSI, por e-mail, às 15h37 do dia 13 de dezembro. O órgão encaminhou resposta às 16h48 no mesmo dia.

"Portanto, levou só 1h11 para retornar o contato. A matéria saiu às 17h54, ou seja, desde a publicação a resposta do GSI sempre esteve lá", elucida Rodrigues.

Desde a primeira matéria sobre as denúncias da fonte da Fórum foi feito o registro do posicionamento do GSI. Depois do contato da reportagem com a assessoria de imprensa do órgão, a resposta veio em tom grosseiro e irônico, algo incomum para serviços de imprensa e de comunicação social de repartições públicas.

O GSI afirmou que “não cabe maiores considerações” sobre as acusações, dizendo que “a fonte é mentirosa, de má-fé e com interesses escusos” e “sugeriu” ao repórter “que selecione melhor suas fontes”.

Envolvimento de Augusto Heleno

Na reportagem citada por Augusto Heleno, um servidor da Polícia Federal (PF) lotado na Presidência da República, sob a condição de anonimato, acusou a pasta de estar por trás dos atos vandalismo de 12 de dezembro na capital federal.

As declarações e a versão sobre a responsabilidade dos atos foram dadas com exclusividade à reportagem da Fórum, que exigiu toda a documentação do denunciante, como a publicação da sua nomeação no Diário Oficial da União para o cargo dentro da Presidência da República e seus documentos funcionais, assim como um contato visual para comprovar a identidade da fonte.

Terrorismo de Estado

A fonte da Fórum classificou os atos do 12 de dezembro no centro da capital federal de 'terrorismo de Estado'. Ele denunciou que a pasta comandada por Augusto Heleno era a cabeça por trás do vandalismo.

O denunciante disse ainda que a sequência de acontecimentos e a maneira como essas ocorrências haviam escalado, em termos de violência, seriam as “digitais” do pessoal de inteligência do GSI, assim como da orquestração de Jair Bolsonaro, que teria se envolvido ativamente nos estímulos enviados a seus radicais seguidores. 

O núcleo central do órgão de arapongagem do governo federal, segundo a fonte da Fórum, era então composto por gente com vasta experiência nesse tipo de atividade, no Brasil e no exterior.

Versão oficial caiu bem

Em relação à versão oficial de que toda a baderna generalizada teria começado com a prisão de um líder indígena bolsonarista, que é pastor, por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), atendendo a um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), o federal refuta e diz que o pretexto “caiu bem”.

Um ponto em que o denunciante está de acordo com a versão oficial é o de que as pessoas diretamente envolvidas na ação terrorista, que a operacionalizaram, eram oriundas do acampamento de radicais bolsonaristas que ocupam uma área militar no perímetro do Quartel General do Exército. 

Até o próprio secretário de Segurança Pública do Distrito Federal à época, Júlio Danilo, na coletiva improvisada que foi dada madrugada a dentro, ao lado do futuro ministro da Justiça do governo Lula, Flávio Dino, admitiu que os criminosos, ou parte deles, eram do tal acampamento dos extremistas.

Deixar rolar

Perguntado se as forças policiais do Distrito Federal, que em tese não estão sob o comando de Bolsonaro e de autoridades do governo federal, mas sim nas mãos do governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), o policial federal afirmou que os integrantes dessas organizações já são naturalmente bolsonaristas ferrenhos.

Disse ainda que estava claro que o governo distrital e o então secretário Danilo, a quem fez duras críticas, estariam atendendo aos desígnios de Bolsonaro e do então ministro da Justiça, Anderson Torres, que era de que deixassem “a coisa rolar”.

Bolsonaristas e profissionais militares

Outro ponto que a pessoa lotada na Presidência da República salientou mais de uma vez foi sobre a impossibilidade de que uma ação daquela magnitude, com aquela extensão e usando um aparato tão complexo fosse levada a cabo por meros bolsonaristas lunáticos, sem auxílio logístico e know-how militar.

A desinformação para despistar a autoria dos atos terroristas, gerando a tão característica “confusão” bolsonarista, marcada pelas fake news e todo tipo de maluquice, também seria institucional, contou o servidor da PF na Presidência da República. As versões mais sem sentido já saíram poucos momentos após a ocorrência dos atos violentos e envolvem sempre jogar a culpa em “infiltrados” e na “esquerda”.

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