ABSURDO

Ministro cristão do STF, que foi a Israel no jabá, faz propaganda de guerra

Nas redes sociais, André Mendonça faz lobby contra agência humanitária

Lobista.A nova capa do X de André Mendonça, o cristão que desconhece a morte de crianças palestinas.Créditos: Reprodução X
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O ministro do STF André Mendonça engajou-se abertamente no lobby de guerra de Israel depois de fazer uma visita ao país com tudo pago pela Confederação Israelita do Brasil (CONIB) e a StandWithUs Brasil, entidade criada para promover o sionismo no planeta durante o conflito de Israel com o Hamas.

O ministro "terrivelmente evangélico" foi a Israel na viagem-jabá com cinco integrantes do Superior Tribunal de Justiça e um do Tribunal Regional Federal do Rio de Janeiro.

Desde então mudou a capa de seu perfil no Twitter para uma foto com as vítimas do ataque do Hamas a Israel no 7 de outubro e a frase, em hebreu, "homens, mulheres, bebês, pessoas idosas, ainda sequestradas pelo Hamas".

Mendonça fez várias postagens sobre o conflito, nenhuma abordando o fato de que a represália de Israel a Gaza já custou a vida de quase 30 mil pessoas, a maioria mulheres e crianças.

No dia 27 de janeiro, por exemplo, ele escreveu, quando ainda estava em Israel: 

Hoje choramos o holocausto. Os atos da 2ª Guerra foram a banalização do mal. Aqui, em Israel, vi terroristas que mataram pelo prazer de matar; vi o êxtase com o mal. Inacreditável, inaceitável, injustificável e indefensável

A comparação é despropositada. Não houve Holocausto em Israel no 7 de outubro, nem mesmo em Gaza desde então.

Os indícios, em avaliação pela Corte Internacional de Justiça, são de que Israel está cometendo genocídio.

Ontem à noite, já no Brasil, o ministro Mendonça voltou a fazer propaganda, disseminando entre seus 400 mil seguidores um vídeo do Jornal Nacional segundo o qual Israel teria descoberto um túnel que passa sob uma das sedes da Agência das Nações Unidas para Refugiados Palestinos (UNWRA) em Gaza.

As Forças de Defesa de Israel (IDF) fizeram uma postagem sobre o mesmo fato na rede social X, alegando que o quartel-general da UNRWA oferecia eletricidade para abastecer o túnel "com dinheiro de ajuda humanitária":

Agindo com base na inteligência, as forças [de Israel] descobriram um túnel perto de uma escola da UNRWA, levando a um túnel terrorista subterrâneo sob o quartel-general da UNRWA. As forças encontraram infraestrutura elétrica no interior do túnel ligado ao quartel-general principal da UNRWA, sugerindo que abastecia o túnel com electricidade – gerada pelo combustível fornecido através da ajuda humanitária.

A partir deste suposto fato, as IDF ligam a agência da ONU ao túnel de 700 metros que continha "grandes quantidades de armas, incluindo espingardas, munições, granadas e explosivos" do Hamas.

HISTÓRICO CABULOSO

As notícias divulgadas oficialmente por Israel tem um histórico cabuloso.

Não é novidade que o Hamas tinha uma extensa rede de túneis sob Gaza, até porque os primeiros deles foram construídos por Israel, quando o país tinha controle sobre o território, antes de 2005.

No início da ofensiva terrestre, Israel fez uma elaborada simulação sugerindo que o quartel-general do Hamas estava sob o maior hospital de Gaza, o Shifa.

Foi propaganda necessária para justificar a invasão do hospital.

Embora Israel tenha mostrado entradas e saídas de túneis adjacentes ao hospital, jamais descobriu o "quartel-general" subterrâneo e a resistência do Hamas prosseguiu praticamente inabalada.

ATAQUE ÀS NAÇÕES UNIDAS

Desde que a ofensiva terrestre contra Gaza começou, as Nações Unidas e suas agências se tornaram a última linha de defesa dos civis palestinos diante do bombardeio indiscriminado de seu território.

As ligações do Hamas com a população civil de Gaza são óbvias: o grupo ganhou uma eleição para representar os palestinos sob ocupação na Faixa.

Israel alega que ao menos 12 funcionários da UNWRA participaram diretamente dos ataques de 7 de outubro. São doze dentre milhares. 

Bastou Tel Aviv fazer a acusação para que dezenas de países retirassem financiamento da UNWRA, sufocando a agência.

A UNWRA, fundada em 1949, mantém 58 campos de refugiados palestinos, 760 escolas e 140 postos de saúde na Síria, Líbano, Jordânia, Cisjordânia e Gaza.

Porém, seu papel principal é o de servir de registro para os refugiados palestinos.

Uma vez registrados na UNWRA (são 5,9 milhões no momento), os palestinos em tese teriam o chamado "direito de retorno" a seus lugares de origem, uma pedra no sapato dos planos de Israel de ocupar permanentemente os territórios palestinos.

Sami Abu Zuhri, um importante líder do Hamas, disse que a mais recente acusação de Israel é mentirosa e tem como objetivo encobrir a campanha de Tel Aviv para desmoralizar a UNWRA.

André Mendonça, o ministro do STF que propagou o vídeo com a acusação de Israel, se diz um cristão fervoroso.

Sem o trabalho da UNWRA, centenas de milhares de crianças palestinas correm risco de vida em Gaza.

A entidade abriu uma investigação por conta das acusações de Israel.

Antes disso, porém, dezenas de instalações da UNRWA, inclusive escolas, já haviam sido bombardeadas ou demolidas em Gaza, com a morte de mais de 150 funcionários.

Se Israel assumir de fato controle total de Gaza, já tem os argumentos para expulsar a UNWRA e montar seu próprio esquema de "ajuda humanitária", que poderia usar politicamente como mais uma arma contra os palestinos sob ocupação.

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