GENOCÍDIO

Egito ameaça romper com Israel se ataque a Rafah desandar

Rompimento de fronteira é uma possibilidade, por causa do desespero de refugiados palestinos

Alerta.Palestinos conversam com soldado egípcio do outro lado da cerca que separada Gaza do Egito.Créditos: Agência Anadolu
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O Egito ameaça romper relações com Israel se o planejado ataque contra a cidade de Rafah levar refugiados palestinos a romper a "terra de ninguém" que separa Gaza de território egípcio.

Na fronteira entre Gaza e o Egito existe uma "terra de ninguém" de cerca de 14 quilômetros de extensão chamada de Corredor Filadelfi ou Eixo Saladin.

São cerca de trezentos metros, o que fez com que Israel demolisse centenas de casas e improvisasse uma barreira de metal e arame farpado.

Israel alegou que precisava isolar o sul da Gaza para evitar a entrada de armas para os palestinos, antes de se retirar do território em 2005.

O Egito diz que tem soberania sobre o corredor.

Só uma passagem entre Gaza e o Egito permanece aberta, a de Rafah, por onde entra ajuda humanitária.

Por sua vez, financiado pelos Estados Unidos, o Egito construiu um muro de aço e um fosso na fronteira, para evitar eventuais infiltrações de militantes palestinos.

O Egito foi o primeiro país árabe a reconhecer Israel depois do acordo de paz de 1979, pelo qual recebeu de volta a Península do Sinai e concordou em deixá-la desmilitarizada.

Pelo acordo, o Egito concordou com a passagem de navios israelenses pelo canal de Suez, assim como reconheceu que o golfo de Áqaba e o estreito de Tiran são águas internacionais.

Em compensação, o Egito tornou-se um estado-cliente dos Estados Unidos, recebendo ajuda financeira em níveis quase equivalentes aos de Israel.

Uma imagem de satélite da Planet Labs mostra as cidades de tendas que inundaram Rafah

REFORÇO NA FRONTEIRA

Nas últimas horas, o Egito deslocou tropas e fez planos para evitar uma eventual invasão de seu território por refugiados palestinos em desespero.

É que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, anunciou que o próximo objetivo militar de Israel é atacar Rafah, o último refúgio de centenas de milhares de palestinos.

Os Estados Unidos disseram que um eventual ataque de Israel a Rafah poderia se tornar "um desastre".

É que a região hoje concentra cerca de 1,4 milhão de palestinos refugiados de outras partes de Gaza.

Netanyahu diz que a ofensiva em Rafah é "chave" para derrotar o Hamas.

Ele alega que há espaço para deslocar os refugiados e evitar que fiquem no fogo cruzado:

Aqueles que dizem que em nenhuma circunstância devemos entrar em Rafah estão basicamente dizendo “perca a guerra, mantenha o Hamas lá”

O diplomata-chefe da União Europeia, Joseph Borell Fonteles, juntou-se a dezenas de outros líderes para alertar:

Reitero o alerta de vários Estados-Membros da UE de que uma ofensiva em Rafah conduziria a uma catástrofe humanitária indescritível e a graves tensões com o Egito. Retomar as negociações para libertar os reféns e suspender as hostilidades é a única forma de evitar derramamento de sangue

O Hamas disse que se houver ofensiva terrestre em Rafah romperá todas as negociações sobre os reféns que permanecem sob sua custódia.

Israel teme que o Egito, em resposta a uma ofensiva, abra a passagem de Rafah de maneira incondicional. Hoje, tudo o que passa por lá em direção a Gaza antes enfrenta rigorosa inspeção israelense.

O Egito não teme apenas que seu território seja ocupado por centenas de milhares de palestinos em fuga, sem qualquer garantia de retorno.

Aliado visceral dos Estados Unidos, o governo militar de Abdel Fattah el-Sisi acredita que pode se tornar alvo de agitação popular e de ataques de militantes palestinos que condenam a submissão do Cairo aos interesses de Washington e Tel Aviv.

Em Israel, parte significativa do governo de Benjamin Netanyahu faz planos para provocar o esvaziamento de Gaza através da imigração, bem como do retorno de assentamentos de colonos israelenses.

Hoje, nos arredores de Gaza, centenas de milhares de palestinos estão vivendo em acampamentos improvisados, com acesso restrito a água e comida e sob frio de 10 graus por causa do inverno na região.