CLEBER LOURENÇO

Caderninho do Heleno: general registrou monitoramento de ministro e ex-deputado petista

Anotações de Augusto Heleno revelam monitoramento de ex-deputado pela Abin, menções a opositores e críticas à PF. Atual ministro de Lula também aparece na arapongagem do ex-GSI com "bunker em São Paulo"

Augusto Heleno em depoimento no Senado.Créditos: Marcos Oliveira/Agência Senado
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As anotações do general Augusto Heleno, apreendidas pela Polícia Federal como parte de investigações, trouxeram à tona detalhes das prioridades e estratégias do então chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) durante o governo Jair Bolsonaro.

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Entre os registros, destaca-se a menção ao monitoramento do ex-deputado federal Vicente Cândido (PT-SP) pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin). O nome de Cândido aparece em uma lista de assuntos considerados prioritários para serem tratados entre Heleno e Bolsonaro. Também constam os nomes de José Eduardo Cardoso, ex-ministro da Justiça, e Alexandre Padilha, ex-ministro da Saúde, vinculados a tópicos descritos de forma enigmática, como “bunker em S. Paulo” e “braço em Brasília”.

Monitoramento de Vicente Cândido

O caderno de Heleno registra: “Falar c/o Pres – Vicente Cândido (ex-deputado PT) sendo acompanhado pela Abin”. A coluna procurou Vicente Cândido, que afirmou não saber que estava sendo monitorado pela agência e demonstrou surpresa ao descobrir o fato. “Fui pego de surpresa por essa informação. Não fazia ideia disso, fiquei sabendo através do contato de vocês”, disse o ex-deputado.

Cândido aventou possíveis razões para seu nome figurar entre os assuntos destacados por Heleno. Ele mencionou seu histórico político como um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT) e sua longa trajetória como parlamentar. “Talvez por eu ser um dos fundadores do PT isso tenha alguma relação”, sugeriu. Além disso, ele destacou sua atuação como advogado, especialmente nos últimos dois anos, período em que seu escritório trabalhou em processos de regularização jurídica envolvendo sindicatos e associações de servidores da Abin. Apesar disso, ele afirmou que não consegue determinar com precisão a razão de estar na lista. “Pode ser também pelo fato de eu ser um ex-parlamentar, mas realmente não sei o que poderia ter causado esse monitoramento”, completou.

O ex-deputado também teceu críticas ao governo Bolsonaro, acusando-o de adotar um “viés paranoico” de vigilância. “O governo monitorava tudo e a todos. Talvez meu histórico com o PT, minha atuação como deputado ou até minha proximidade com os servidores da Abin tenha sido interpretado como motivo para esse acompanhamento, mas não posso cravar com certeza”, afirmou Cândido.

José Eduardo Cardoso e Alexandre Padilha

Além de Vicente Cândido, as anotações de Heleno mencionam José Eduardo Cardoso e Alexandre Padilha, figuras de destaque nos governos do PT. As referências a eles aparecem com os termos “bunker em S. Paulo” e “braço em Brasília”, respectivamente. Embora os registros não tragam mais detalhes sobre esses apontamentos, as expressões sugerem um acompanhamento ou preocupação com suas articulações políticas e influência em regiões estratégicas.

Cardoso, ex-ministro da Justiça, e Padilha, ex-ministro da Saúde, foram figuras de destaque em governos petistas e, à época das anotações, poderiam estar envolvidos em ações políticas que despertavam atenção do GSI. Contudo, sem mais contexto, o significado exato das anotações permanece incerto.

Outras menções: manifestantes chilenos e críticas à PF

As anotações também incluem a menção a supostos “manifestantes chilenos prontos para atuar no Brasil”. A origem desse alerta ou sua relevância dentro do contexto político não foram detalhadas, mas ele reflete a preocupação do governo Bolsonaro com possíveis movimentos sociais internacionais influenciando o cenário interno.

Outro trecho que chama atenção é a crítica explícita de Heleno à Polícia Federal, descrita no caderno como “preparando uma sacanagem grande”. Embora o contexto dessa acusação não seja claro, a anotação reforça a percepção de tensões internas entre órgãos de Estado e o governo.

O monitoramento de figuras públicas como Vicente Cândido e as referências a José Eduardo Cardoso e Alexandre Padilha refletem a atenção do alto escalão a possíveis opositores e movimentos que poderiam representar desafios ao governo.

Ao mesmo tempo, as críticas à Polícia Federal e o alerta sobre manifestantes internacionais reforçam a visão de um governo paranoico, que via ameaças tanto externas quanto internas.

 

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