Conforme depoimento obtido pela Polícia Federal, o general Freire Gomes detalhou as ameaças e pressões que sofreu ao recusar adesão a um plano de ruptura institucional, cuja consumação estava prevista para o dia 15 de dezembro de 2022. O militar destacou que "a resistência dos Comandantes do Exército e da Aeronáutica impediu a consumação do ato", o que gerou intensificação dos ataques orquestrados por grupos alinhados ao plano golpista.
Entre os responsáveis pelas pressões, o general Braga Netto foi mencionado de forma contundente. Segundo Freire Gomes, ele foi alvo de mensagens enviadas por Braga Netto que incluíam frases como “A culpa pelo que está acontecendo é do General Freire Gomes. Omissão e indecisão não cabem a um combatente”. Essas declarações foram acompanhadas de ataques pessoais e campanhas realizadas por meio de redes sociais.
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A mensagem enviada pelo general Braga Netto, seria um texto encaminhado pelo general cujo autor seria um membro das forças especiais não identificado na investigação.
As pressões extrapolaram o ambiente virtual. Freire Gomes relatou que “sempre havia manifestações em frente à sua residência”, organizadas por apoiadores do plano golpista, a fim de intimidá-lo e pressioná-lo a mudar de posição. Em um dos trechos analisados, a Polícia Federal identificou que o militar da reserva Ailton Gonçalves Moraes Barros enviou mensagens ao general Braga Netto com registros fotográficos de manifestantes na porta da casa de Freire Gomes.
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Ainda segundo o depoimento, Freire Gomes declarou que os ataques "se deram pelo fato de ter se negado a anuir com o plano de ruptura institucional". A recusa em colaborar transformou o general em alvo constante de retaliações, tanto nas redes sociais quanto em espaços físicos.
O documento também menciona que Braga Netto teria sugerido uma abordagem ainda mais agressiva contra o general Freire Gomes, com frases que remetem a ameaças explícitas, como “Oferece a cabeça dele. Cagão”. Segue íntegra do trecho com a declaração do general:
“INDAGADO se o trecho da mensagem encaminhada pelo GENERAL BRAGA NETTO no qual refere-se expressamente ao DEPOENTE: ‘‘Oferece a cabeça dele. Cagão’, são consequências das ameaças e pressões que o DEPOENTE sofreu por não anuir com o plano de Golpe de Estado, respondeu QUE sim;”
O trecho citado faz parte de um depoimento em que o depoente é questionado sobre o significado de uma mensagem atribuída ao general Braga Netto. Na mensagem, Braga Netto aparentemente teria se referido ao depoente de forma depreciativa, usando a expressão "oferece a cabeça dele. Cagão."
Ao ser questionado ("INDAGADO") se essa mensagem era uma consequência de ameaças e pressões sofridas por ele, devido à sua recusa em apoiar ou participar de um plano de golpe de Estado, o depoente respondeu afirmativamente ("respondeu QUE sim").
Isso sugere que Freire Gomes interpretou a mensagem como parte de uma reação adversa à sua postura contrária ao suposto plano golpista, reforçando a alegação de que sofreu retaliações ou intimidações por não compactuar com essas ações.
De acordo com os elementos coletados pela investigação, a resistência de Freire Gomes, assim como de outros comandantes das Forças Armadas, foi decisiva para impedir a ruptura institucional planejada, mas expôs as divisões internas no alto escalão militar e a gravidade das articulações golpistas em curso à época.